Capítulo 20 - "O que estão me aprontando?"

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Capítulo 20





"Estar vivo nunca foi sinônimo de viver"

Guilherme Victor. Lembro-me de já ter lido isso em uma citação desse homem. No dia, pensei na lógica mais genérica por trás dessa frase, pensando em como eu me sentia. Pensei que era alusão a viver sem realmente me sentir viva. Como alguém que vive sem ser lembrada e todas as abreviações que isso traz, como amar e ser amada.

Mas na verdade... nesse momento eu só consigo pensar em como estou viva, e por eu não ter experiências, memórias e vivências de tudo o que me torna jovem, eu não estou vivendo. É como se eu o filme da minha vida estivesse em pausa, esperando pela cena que faria o telespectador se interessar. E eu confesso, mesmo que de forma negativa, o que está acontecendo nesse momento em que fui levada da minha casa, está tão turbulenta quanto num filme. 

Mas ainda assim... eu ainda sinto um vazio dentro de mim. Eu gostaria de não ter que me preocupar com tantas coisas. Gostaria de ser uma irresponsável que apenas sai para beber com os amigos, mente quanto ao horário que vai voltar e namorar com o primeiro no qual eu sentisse o meu coração bater mais forte. Mas... eu não posso! Gostaria de viver um romance em um parque. Passar um dia tranquilo com as amigas fofocando. Queria voltar para casa e ser recebida pelo meu pai com um beijo na testa, mas...

Aqui estou eu. Deitada na minha cama ouvindo uma música e deixando a imaginação tomar conta da minha mente. Onde estão as minhas experiências? Que eventos eu poderia citar caso alguém perguntasse? Uma memória feliz, uma memória triste, um evento em que eu me diverti com meus amigos, ou que senti raiva. Onde estão essas experiências? Provavelmente perdidas por aí, enquanto escuto uma música agitada apenas para que as lágrimas não escapem. 

Também estava pensando sobre o que Pedro me falou, e estava cogitando de verdade que talvez eu devesse ler a carta deixada pela minha mãe. Pedro se contradisse no momento que afirmou que ninguém sentiria a minha falta, quando ainda ontem estava tentando me consolar sobre minha mãe. E eu não sei no que acreditar, mas há algo que pode confirmar todas as minhas dúvidas.

A carta... Se naquela carta tivesse um resquício de sentimento dela deixado para mim... tudo na minha cabeça mudaria. Eu não ligaria se eu não fosse importante para mais ninguém no mundo, não me importaria quando tentassem me machucar, eu... iria me agarrar aos seus sentimentos com toda a minha força e viveria por eles!

Nunca mais desistiria da vida que ela escolheu que vivesse. A minha!

Eu já estava com lágrimas nos olhos quando ouvi batidas na porta, me fazendo sentar na cama assustada, retirando os fones. Senti o meu coração bater mais forte, temerosa com a ideia de vê-lo novamente.

— Oi!

Quando a porta se abre, é a cabeça de Mia que aparece, me fazendo suspirar aliviada.

— Você chegou... — Comento me levantando da cama enquanto a mesma adentra o meu espaço.

— Sim, e vim te chamar para almoçar. Eu vi a lasanha que você fez e já está no forno. Parece deliciosa, mas me recuso a comer sem você. — Ela diz tudo com um olhar esperançoso, enquanto eu sequer consigo esconder a minha surpresa.

Primeiro que eu nem fazia ideia de que já havia passado tanto tempo, e segundo que ela está tentando me convencer a descer para almoçar. 

— Nossa, eu fiquei viajando nas músicas e nem me dei conta que havia se passado tanto tempo. — Comento verificando o horário em meu celular, e é quando Mia senta na cama, me observando. 

VENDIDA - CRIMINOSOS EM SÉRIE - PARTE 1Onde histórias criam vida. Descubra agora