Cap 30= Lamento

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Julho,1990 - Guarulhos

Aurora

Saí sem rumo por aqueles corredores, precisava sair dali de alguma forma.
Porém, a responsabilidade dentro de mim foi mais forte que eu, afinal, tudo isso estava acontecendo, devido a nossa apresentação de hoje a noite, então cair fora, não é uma opção.

Olhei no relógio em meu pulso, e já se passavam das seis e meia, infelizmente eu teria que voltar.
Levantei minha cabeça, e fui em direção ao pequeno palco que montaram pra gente, olhei para o ambiente, e lá estavam Alberto e Samuel com seus instrumentos, eles já estavam prontos.

Fui em direção dos mesmos que me deram um grande sorriso em resposta.

- Aurorinha! - disse Samuel vindo em minha direção

- Grande Samuel! - Disse brincando com o mais novo

- O que aconteceu com seus olhos? Estão bem vermelhos e inchados... - disse Alberto me olhando desconfiado, mal sabe ele que eu estava chorando no corredor.

- É... Rinite! - inventei uma desculpa plausível, porém percebo que ele não acreditou muito.

- Eu te entendo, 'tava assim semana passada. - disse Samuel sorrindo e me entregando minha guitarra - Toma sua guitarra lindinha.

- Brigada - sorri para o mesmo.

- Cadê o Sérgio ein? - perguntou Samuel olhando ao redor

- Tô aqui - Disse o mesmo indo até sua bateria. Ele usava um óculos escuro e não estava com a cara muito boa .

Olhei para o mesmo que me encarou de volta, dessa vez eu não desviei meu olhar, porém percebi que ele não aguentou me encarar por muito tempo, então, ele apenas focou em sua bateria.

Avoada em meus pensamentos, não percebi quando Alberto veio em minha direção.

- Depois você vai me contar o que aconteceu! - Me encarou com um olhar preocupado.

- Ele não te contou?

- Ele socou uma parede Aurora, Uma "Parede"! - deu ênfase no "parede"

- Ele socou o que!? - me preocupei ainda mais.

- Isso que você ouviu! Uma parede! Olha, eu não sei o que aconteceu depois que eu e o Samuel saímos, mas a senhorita vai me contar, porque eu nunca vi o Sérgio agir da maneira que ele agiu hoje!

- Caralho Alberto! - disse baixinho - Merda! - meus olhos se encheram d'água. - Ele disse que iria desmarcar o show, e eu tentei impedir. Não vou negar que também me exaltei, mas cara...

- O que aconteceu? - tentou me passar tranquilidade.

- Ele disse que se arrependeu de ter me convidado pra banda... - Percebi a indignação no olhar de Alberto - E logo depois ele saiu e você chegou, e agora tu me diz que ele socou a parede... Minha cabeça ta uma confusão, olha eu...

- Tudo bem, tá tudo bem. - me deu um abraço de lado - Vai ficar tudo bem! Vocês vão se resolver! - Sorriu reconfortante porém percebi que era um sorriso forçado.

Vamos? Era o quê eu mais desejava, porém preciso viver a realidade.

- Ele tentou falar comigo, mas eu não consegui - disse me separando do abraço - Se eu fosse você não teria tanta certeza.

Seu sorriso desmanchou lentamente, porém não dei importância.
As palavras de Sérgio ainda rodavam pela minha cabeça, e não sumiriam tão cedo.

 Ai de mim se fosse apenas uma corda de guitarra || Mamonas AssassínasOnde histórias criam vida. Descubra agora