Cap 38= Eu espero

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Escutem a música enquanto lêem🦋 -

1991, Guarulhos

Aurora

Minha cara de espanto com a fala repentina do
baterista, era nítida, assim como eram nítidos os gritos dos meninos atrás de mim.

- Dale Aurorinha! - Alberto gritava enquanto puxava meu antebraço.

- É... - Talvez eu estivesse com um pouco de vergonha, ou até um pouco intrigada.

- Não vai me convidar pra entrar? - Seu tom galanteador me deixava mais envergonhada ainda.

- Você já é de casa, não precisa de convite. - Respondi forçando um sorriso, mas sem intenção alguma minha fala saiu um pouco ríspida.

- Eita... - Alecsander sem travas na língua, só podia ser.

- Tá bem... - Sérgio entra porta a dentro, fecha a mesma, e se "atira" ao lado de Samuel no sofá menor - Mas e aí, o que estão fazendo? - Perguntou direcionando o olhar para os meninos.

- Tentando achar algo interessante na televisão, mas até agora nada. - Disse Samuel, enquanto mudava os canais repetidamente.

- Mas e aí Serjão, trabalhando muito? - Perguntou Alecsander.

- É, até que eu tô. - Respondeu simplista sem dar muita atenção.

O fato que eu não podia esconder, era que queria um momento só meu e de Sérgio;
Queria conversar com ele, esclarecer tudo;
Saber o que estava acontecendo com a gente, queria entender, até porque eu mesma, não entendia.

- Vocês querem sorvete, eu tô com uma vontade de comer... - Alisava minha barriga, enquanto pensava em um sorvete de baunilha com morangos.

- Essa hora? - Perguntou Alberto - E nem tá no clima pra comer sorvete.

- Não existe clima pra sorvete! E o mercadinho alí do outro quarteirão demora pra fechar aos sábados - Fui em meu quarto, peguei minha carteira e joguei um casaquinho por cima de meus ombro, afinal, a rua era preenchida por um fraco vento fresco, que fazia questão de arrepiar quando entrava em contato com a pele - Sérgio, não quer ir comigo?

- Tudo bem.

Sorvete? Era apenas um pretexto para que eu pudesse ficar a sós com Sérgio.
Ele estava estranho, parecia estar normal, porém não estava.
Eu conhecia o baterista muito bem pra saber que algo o incomodava, ou melhor, ele estava preocupado.

Saímos de minha casa, parecendo, dois estranhos? Tirei essa conclusão a partir do momento em que tentei segurar em sua mão, e o mesmo a colocou dentro do bolso de seu casaco.
Olhei para ele, que desviada o olhar descaradamente, e logo percebi, ou melhor, me dei por conta que o problema era eu.

- Tá frio hoje não é? - Seu nervosismo era algo nítido - E você querendo comer sorvete.

- É... - Soltei uma risada fraca, enquanto tentava olhar para o rosto do baterista - 'Cê sabe que quando bate a fome, eu não gosto de passar vontade - Um silêncio totalmente forçado, se instalou entre nós, porém, logo dei um jeito de quebra-lo - Mas e a sua game locadora?

- Amanhã pela manhã, eu e o Samuel vamos organizar as últimas coisas, e creio que pela terça feira, já dê pra abrir. - Finalmente ele olhou em meus olhos.

Seu olhar transmitia aflição e medo, como se ele estivesse se preparando para alguma coisa.

- Eu posso ajudar vocês se quiserem! - Estava animada, eu realmente havia adorado essa ideia de Sérgio - Pode confiar, sou uma ótima organizadora de prateleiras! - disse confiante.

 Ai de mim se fosse apenas uma corda de guitarra || Mamonas AssassínasOnde histórias criam vida. Descubra agora