Cap 43= Longe

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1991, Guarulhos

Aurora

Em minha santa e humilde opinião como uma garota de 21 anos, em um emprego merda de meio período, com um amor não correspondido e em uma situação totalmente desconfortável, na qual me encontro agora: Tomar um shot de qualquer bebida que me faça perder a razão, o sentido, o bom senso, e é claro, a minha dignidade, vai melhorar de 0 a 100 minha vidinha miserável.

Não quero admitir que estou morrendo de amores por um homem que me esqueceu em duas semanas. Dois anos de relacionamento, indo para o ralo em duas semanas. Quem diria.

Mas o grande fato é: Amores não correspondidos trazem algum benefício?
A resposta é: Depende.

Vejamos, às dez horas da noite eu estava decepcionada, chateada e com uma raiva descomunal do baterista que agora, já estava acompanhando de outro alguém. Raiva essa, que se deu pelo fato de eu não ter tanta facilidade de esquecê-lo, assim como ele teve de mim.

Por outro lado, quando o relógio 'bateu meia-noite e dez minutos, eu estava sentada na mesa de um buteco do outro lado da rua pensando se a vida é realmente ruim como dizem, já que para mim, estava sendo ótimo por aquele curto período de tempo.

Talvez Sérgio tenha total razão ao dizer que foi uma maldição ter me convidado para participar dessa jornada de músico que ele e seus companheiros de banda, vulgo Alberto, já viviam sem mim. Visionário como sempre.

Eu também não poderia imaginar, que trancaria a faculdade em favor de uma "banda de pracinha" - De acordo com a minha mãe. E agora seria obrigada a trabalhar em um emprego podre e viver com o dinheiro contado todo mês. Viva a realidade.

Mas foi alí, naquele 'momentinho que eu pensei que talvez sair dessa vida de músico de praça e fazer o que todo mundo faz, seja uma escolha melhor.

Minha mãe sempre diz que estudar, trabalhar, casar, ter filhos, cuidar do meu futuro e abençoado lar, são coisas que irão fazer eu ter paz na vida. Fazer o que todo mundo faz.

"Ter uma vida descansada assim como a minha, Aurora"

E talvez, ela tenha um pouquinho de razão.

Vamos lá, se eu não tivesse entrado nessa história de banda, eu e o Sérgio nunca teríamos nos tornado Aurora e Sérgio, e sim, seríamos apenas Aurora, a vizinha da frente e o Sérgio, filho do seu Ito.

Provavelmente eu não estaria aqui, e sim, indo para mais uma festinha de final de semana da 'facul com meus amigos estudantes, rodeados de mais estudantes impregnados com cheiro de bebida e cigarro.

Hipoteticamente eu não estaria me lamentando por alguém que diz não me amar mais, e provavelmente estaria namorando um playboyzinho da faculdade que mora no centro de Guarulhos e vai para Ipanema no Rio de Janeiro todo final de ano.

Mas ao voltar para a realidade, percebo que estou de pé no palco do Cecap. Rodeada de pessoas que talvez, acreditam em algo que nem eu creio mais.

- Aurora você não precisa tocar se não quiser, eu dou conta! - Perdida em meus devaneios, percebo Bento em minha frente.

Olho para os lados. Olho para o meu relógio, são dez horas da noite.

- O Júlio veio? - Olhei de relance para a multidão a procura do mais velho - Eu o convidei...

- Veio, eu vi ele. Provavelmente deve ter ido pegar algo pra beber, tá fazendo muito calor. - Bento olhou na mesma direção que meus olhos, inocentemente foram.

- Ela é muito bonita... - A moça que acompanhava o baterista, possuía cabelos loiros que caíam por seus ombros. Olhos castanhos e provavelmente um metro e meio de altura. Ser alta não era o seu forte, mas a deixava mais delicada e... feminina.

 Ai de mim se fosse apenas uma corda de guitarra || Mamonas AssassínasOnde histórias criam vida. Descubra agora