Cap 42= Temos companhia

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1991, Guarulhos

Nunca contei a Bento, mas Sérgio me visitou àquela noite.

Aurora

Fiz o que ele havia me pedido: Tomar banho e ir dormir.
Uma hora depois Bento me ligou avisando que havia chegado bem. Menos mal, pensei.

Já se passavam das duas da manhã, quando ouço um bater de mãos na porta da sala.
De início, pensei em ignorar, mas a pessoa que estava alí não desistia. Ser Irritante.

- Aurora, abra por favor...

Aquela voz penetrante e arrastada.
Aquela voz rouca e cansada.
Ela estava alí, a voz de Sérgio.

Estava muito idealizada em minha ideia de ignorá-lo.
Uma parte de minha mente gritava: "Não abra a porta para esse babaca estúpido!".
Enquanto a outra, berrava para que aquela porta fosse aberta.

Bom, tenho o costume de tomar decisões erradas.

Com frio e um olhar desgostoso, abro a porta, me deixando á mostra em meu pijama, fofo e cumprido, dos ursinhos carinhosos. Ótima escolha para a ocasião.

- Aurora... Oi! - Ele notou minha fúria sobre ele. "Babaca estúpido", O diabinho gritava do lado esquerdo de minha cabeça. - Será que... podemos conversar?

- Não é hora pra isso. - Com ira, tentei bater a porta em sua cara, se não fosse a mão do mesmo a impedir isso. - Mas que caralhos Sérgio, o quê você quer? Já viu que horas são?

- Eu não consegui dormir... - Seu tom de voz era suave, baixo e suave. - Aurora pelo amor de Deus você sumiu a noite toda! Sabe quantas vezes eu rondei cada rua próxima daquele maldito Cecap? Você não tava em lugar algum!

Bufando deixei a porta e me sentei no sofá, vendo o mesmo me seguir e fechar a porta atrás de si.

- Não mandei você entrar!

- Você me deu passe livre para isso - Ele parecia incrédulo.

- Pelo visto te dei passe livre até para por um par de chifres na minha cabeça! - Vi Sérgio arregalar os olhos.

- Eu nunca traí você...

- Claro, meu bem. Você é um santo incompreendido. - Permanecermos quietos por um longo e exaustante período de tempo.

- Me desculpa - O baterista começou - Eu não devia ter te tratado daquele jeito. Talvez se... Eu fosse mais sincero com você, eu...

- Você ta apaixonado? - O cortei de imediato.

- O quê? - Era notável a confusão em seu olhar.

- Por quem você ta apaixonado - Firmei o olhar em seu rosto.

- Eu-eu não sei... - Vejo o mesmo suspirar. - Eu ainda gosto de você, mas não é a mesma coisa... Eu não sei você... você mudou. Seu jeito, sua personalidade, você parece ser outra pessoa. Talvez... apenas talvez, esse seja o motivo.

- É claro que eu mudei Sérgio! Eu amadureci! - Eu estava mais desapontada - Você queria que eu fosse a mesma pirralha de antes? Porra! Meu pai morreu caralho! Minha mãe cuspiu na minha cara que essas merdas de decisões que eu venho tomado não vão agregar em nada na minha vida! E você quer que eu seja a mesma garota de dois anos atrás que não tinha problema nenhum? - Passei a mão entre os cabelos e percebi que estava soando - E ainda tem coragem de me dizer que esse é o motivo...

- Aurora, olha, eu nunca quis isso, eu só...

- Você não respondeu a minha pergunta! - Minha voz estava exaltada.

 Ai de mim se fosse apenas uma corda de guitarra || Mamonas AssassínasOnde histórias criam vida. Descubra agora