As chances de você ser atingido por um raio potencialmente fritador de seres humanos é de um em um milhão no Brasil. De ser atacado e morto por um tubarão-dentuço-e-roxo-de-fome, um em quase quatro milhões; e de vir a óbito em um acidente de avião, um para onze milhões.
Em uma contrapartida ligeiramente inacreditável, a probabilidade de morrer pelo ataque de um cachorro é de uma em cento e dezessete mil.
Com isso, é possível tirar uma conclusão meio trágica, porém óbvia: Acaba sendo mais provável se escafeder desse mundo por algo que se considera simples, do que com uma grande catástrofe.
Eu descobrira isso muito cedo, desde o dia em que, aos meus cinco anos, deram-me a notícia de que o vizinho da casa ao lado falecera em decorrência de um traumatismo craniano causado por escorregar na casca de uma banana que ele mesmo comera. Tudo isso porque teve preguiça de mover seus pés rechonchudos sempre cobertos por uma pantufa de elefante vermelho-fosco - que mamãe sempre me corrigia, dizendo ser amarela - até a lixeira e jogar a casca fora. Optou somente por deixá-la perto do sofá.
Foi a última vez que pôde escolher alguma coisa.
Quer dizer, eu acreditava que sim. A menos que o espírito moribundo do senhor Roberto tenha resolvido sair por aí assombrando inquilinos inocentes.
Pouco provável.
De qualquer forma, foi graças à essa convicção que, assim que notei a mancha branca se esticando ao longo do meu pescoço como uma onda de espuma pálida pouco depois do meu aniversário de sete anos, tentei manter a calma. Apertei os dedos em volta da barra do meu moletom acinzentado polvilhado com inúmeros desenhos de estrelas róseas, tentando conter o ímpeto de gritar pela minha mãe ao longo da casa enquanto balançava os braços freneticamente e gritava sobre estar morrendo de câncer.
Não deu certo. No fim, acabei berrando do mesmo jeito. E agitando os braços no ar feito um daqueles bonecos infláveis que ficam dançando em postos de combustível.
Já havia visto pelo menos cinco matérias no jornal sobre câncer de pele. E em muitos casos começava como simples manchas desbotadas na epiderme, que podiam evoluir para a morte.
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O Universo Segundo Cosmos | ⚣
Teen FictionCosmos Silva, além de ter sido agraciado com um nome nem um pouco comum, teve o infortúnio de ganhar ao longo dos seus dezessete anos uma lista quase inacabável de tragédias para colecionar. Como se não bastasse ser daltônico, hipocondríaco e portad...