8: Hipérion e o Curioso Caso das Doenças Imaginárias

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Ocontorno circular de metal frio congela meus poros por onde passa, infiltrando novelos de tremor gélido no meu peito

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Ocontorno circular de metal frio congela meus poros por onde passa, infiltrando novelos de tremor gélido no meu peito. Com o queixo pendendo rumo à clavícula, mantenho as íris fixas nos movimentos precisos do aparelho de medição de batimentos cardíacos e, por vezes, em Hipérion, a mancha pálida em forma de disco voador que surgira no meu abdômen há alguns anos.

Quando a dita cuja apareceu, seu formato irregular me remeteu de imediato à maior lua de Saturno. Por isso, dei-lhe o nome excêntrico do astro gigantesco em questão, embora na época a mancha não fosse muito maior que um besouro escaravelho. Agora, já se estende até as proximidades do meu quadril, quase alcançando a braguilha da calça jeans.

— Não há nada de errado com você, Cosmos. — Doutor Renato afere, resvalando uma última vez o diafragma do estetoscópio pela minha epiderme.

Minha distração com Hipérion se quebra com suas palavras, que me fazem erguer as vistas rapidamente para as feições concentradas que se desenham no seu rosto.

— Nadinha? — insisto para o profissional, arregalando minhas orbes. — Tenho certeza de que estou com alguma coisa, doutor. Ouve direito.

Suas íris acinzentadas decaem nas minhas com uma diversão contida, as sobrancelhas escuras se erguendo.

— Detectei somente uma pequena arritmia cardíaca, que, sendo seu médico há tanto tempo, consigo constatar que com certeza é em decorrência de ansiedade. — Puxa a campânula, afastando o estetoscópio, e o solta em frente ao seu jaleco impecavelmente branco. — Pode colocar a camisa. — Remove as olivas dos ouvidos, deixando as hastes do equipamento circundarem seu pescoço, pendurando-o.

Fisgo o montinho de tecido verde parcialmente dobrado ao meu lado, desenrolando-o acima de mim com os dedos. Passo a gola pela cabeça, bagunçando um pouco minhas mechas branco-e-pretas. Elas chacoalham de leve com a ventania do ar condicionado, que despeja partículas frias em meio às notas sutis de mofo que pairam no espaço.

— Tem certeza, doutor? Não preciso de mais exames? — questiono, assim que a bainha da camisa toca a fivela do meu cinto no quadril.

Um sorriso de nuvem repuxa seus lábios.

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