11: Ondas Fósseis

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Não sei com exatidão quando Cosmos decidiu que simpatizava comigo do mesmo jeito que alguém simpatizaria com um pepino cru coberto de ketchup, mas tenho algumas teorias

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Não sei com exatidão quando Cosmos decidiu que simpatizava comigo do mesmo jeito que alguém simpatizaria com um pepino cru coberto de ketchup, mas tenho algumas teorias.
 
Talvez, tenha sido após todas as vezes em que me viu pulando a janela do meu próprio quarto durante certas madrugadas, meio ou muito bêbado, para não ter que dar de cara com minha mãe ou meu padrasto. Ou depois das noites em que acabou por ficar em claro porque eu o ligava para pedir sua ajuda com alguma confusão (na qual, às vezes, eu inventava, somente para ouvir a sua voz após algum pesadelo horrível ou alucinação com abdução alienígena em plenas duas da manhã). Ou por todas as minhas piadas sem noção. Ou por ter vomitado nos seus pés. Ou por ter trazido problemas para a vida dele que não precisava ter por minha causa.
 
A questão maior certamente se tornou a minha dificuldade pungente em demonstrar de forma clara o quanto queria a sua companhia. Nunca fui realmente bom em falar sobre as coisas que nadam no meu oceano interno, na verdade. Mas, com o Cosmos, isto se torna incontestavelmente ainda mais difícil.
 
Já tentei procurar as palavras certas nas minhas gavetas mentais todas as vezes em que o via soltando sua pipa azul no jardim de casa, ou dançando uma valsa sem sentido no seu quarto com a coitadinha da Vênus enquanto ouvia centenas de vezes uma música esquisita para burro do Jorge Ben Jor, que fala sobre jacarezinhos, aviões e discos voadores. Mas nunca consegui pensar em nada que fizesse sentido.
 
Eu só queria uma chance de mostrar para ele que eu não era tão fragmentado quanto parecia; que a noite no meu peito possuía estrelas quase tão cintilantes quanto as que ele adorava contemplar da janela depois do pôr do sol, e se eu abrisse minha caixa torácica diante dos seus olhos, veria em meio ao universo carimbado no meu miocárdio cada um dos contornos que molda seu semblante.
 
Porém, sempre tive noção de como seria difícil surgir essa oportunidade, de modo que, parado ao seu lado no meio daquele ferro velho tão oxidado quanto meu esqueleto parecia estar, só consigo pensar em como nunca mais posso ter momentos como aquele; tão próximo desse garoto magnético, com a maior parte das suas barreiras aparentemente dissolvidas em algum canto do crepúsculo em vermelho e verde que nos cerca.
 
Preciso fazer alguma coisa para que esse momento não acabe tão cedo, no entanto, não faço ideia do quê.
 
Então, um estalo me vem.
 
Uma das coisas que o meu pai deixou para mim, pouco antes de falecer, fora o seu galpão de trabalho. Era ali, parcialmente escondido do mundo e circundado por porções de velharia, poeira e arte, que modelava as esculturas que fazia com tanto afinco.

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