17: O Samba-canção de Dinossauros

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- Será que você poderia subir nessa joça e me ajudar?

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- Será que você poderia subir nessa joça e me ajudar?

Rubel está enérgico, cerca de cinquenta centímetros acima do chão com os pés descalços sobre a mesa da sala, que foi transformada em uma espécie de escada improvisada para nos auxiliar na colocação dos enfeites da festa do Dia das Bruxas que começa hoje à noite, com previsão de durar até amanhã, um sábado com forte tendência, de acordo com os noticiários, a ser ensolarado.

A mania incurável do meu amigo de ficar seminu pela casa já fora responsável pela camisa jogada no estofado do sofá há poucos centímetros de mim, a qual colocara somente para irmos ao mercado lapidar itens de decoração característicos das festas tradicionais estadunidenses - as que não tínhamos perdido metade do entardecer para confeccionar à mão com papel crepom colorido e EVA. Então, agora ele pairava pela casa somente com um samba-canção de dinossauros arco-íris, deslizando por entre as fissuras da realidade palpável impressa no beijo da gravidade em danças desgovernadas constantes.

Rubel sempre tendeu a detestar coisas tradicionais, mas seu repúdio nunca conseguiu atingir o Halloween; o que me soa adorável e simultaneamente cômico.

Sua fala me faz perceber o quanto estou com a consciência flutuante, pairando pelo espaço feito um balão luminoso de ar quente. Puxo o fôlego e me levanto de imediato, caminhando até onde ele está. No entanto, vacilo por uns bons segundos antes de finalmente subir naquela mesa de madeira com mais de dez anos de idade.

­- Não vai mesmo conversar com a Amélie? Ela tá preocupada com você, e se culpando muito pelo que aconteceu.

Não retenho um suspiro profundo.

- Não sei se estou pronto para isso. Imagino que ela esteja mal por uma coletânea de fatores, entendo também como é difícil esse momento de autodescoberta que ela e a Brunna estão vivendo; todos os medos envolvidos, todas as agressões que se teme sofrer. Mas ela podia ter confiado em mim.

- Cosmos, eu te amo, mas você é rancoroso e sabe como ninguém ser arrogante e escroto quando está sentindo coisas ruins. Ela sabia que teria exatamente essa reação caso contasse de maneira direta, e não queria perder a sua amizade, muito menos se sentir culpada por estar gostando de alguém.

- Obrigado pela parte que me toca. - Sopro um riso sem muito humor. - Eu vou conversar com ela. É pesado ficar em um limbo de incerteza com relações, independentemente de quais sejam. E tenho completa noção de que eu estou em uma posição de poder mais pesada ainda, por ser um cara agindo de forma fria com uma garota que já estava em um momento de vulnerabilidade, sem lhe dar satisfações ou tentar ouvir o seu lado. Mas eu não consigo agir de outra forma agora, Rubel. Eu realmente acreditava que poderia em algum momento me aproximar da Brunna, e a Amélie me fazia acreditar que apoiava isso. Eu sequer desconfiei de nada. Será que eu consigo confiar novamente numa pessoa que ocultou algo tão sério de mim com tanta maestria?

Rubel ergue a ponta da corrente de piscas-piscas para mim, e eu a capturo, pondo-me a esticar o braço lateralmente para pendurá-la abaixo de uma pequena tira de fita colante na parede alguns centímetros à minha esquerda. Pressiono para que o meu lado do pisca-pisca fique bem firme, e Rubel faz o mesmo. Ele se vira para mim, soprando o ar com um viés de cansaço. Seu cabelo está crescendo em toda a extensão, adquirindo uma forma arredondada adorável repleta de cachos desordeiros que abraçam suas orelhas, um pouco mais volumoso na parte de cima. Os feixes pálidos do crepúsculo se diluem nos contornos etéreos do seu rosto, fazendo-o cintilar como se fosse inteiro feito de sol e poeira luminescente de nebulosas longínquas.

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