13: Matizes Cósmicas, Nosferatu

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O ar reluz em globos cintilantes que flutuam na noite em uma caleidoscópio de cores ao redor do asfalto, pendurados nos postes em forma de lâmpadas fugazes de vapor de mercúrio

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O ar reluz em globos cintilantes que flutuam na noite em uma caleidoscópio de cores ao redor do asfalto, pendurados nos postes em forma de lâmpadas fugazes de vapor de mercúrio. As partículas suspensas ao meu redor pesam como se eu estivesse pairando nas proximidades da estratosfera e não houvesse oxigênio o suficiente para me manter vivo.

Estou somente há alguns ínfimos minutos de ver a Brunna. E possivelmente falar com ela.

Torço os dedos incansavelmente na barra da minha camisa preta com estampa da série Cosmos, do Carl Sagan. É o próprio Carl no centro da imagem, diminuto em comparação ao disco de acreção reluzente do buraco negro pouco à sua frente, cujos contornos cintilantes adornam o horizonte de eventos escuro e completamente incógnito, impossível de se verificar por meio de qualquer estratégia humana. Acho que é exatamente como me sinto agora; à beira de um abismo desconhecido, prestes a cair até o infinito.

Meus chinelos azuis de tubarão castigam a calçada a cada passo trêmulo que dou na direção do carro de Apollo, estacionado a não mais que três metros da porta da minha casa, mas que, agora, parece dolorosamente longe, como se houvesse anos-luz suficientes para atravessar a galáxia entre mim e o veículo.

Quando estava me vestindo, notei que meus tênis estavam sujos de um jeito irrecuperável, com um acúmulo de chulé que parecia estar criando famílias inteiras lá dentro há anos, mesmo que eu os lavasse pelo menos duas vezes ao mês para evitar proliferação de bactérias e possíveis mutações destas, capazes de originar um super micróbio perigosíssimo que dê para ser usado até mesmo em armas biológicas. Então, optei por usar meus chinelos de tubarão, cujas alças de cima de ambos portavam as nadadeiras dorsais, olhos bonitos e dentes pequenos que se esticavam rumo aos meus dedos dos pés. Nas laterais de plástico de cada calçado, irrompiam as duas outras nadadeiras, e na parte traseira, surgia uma miúda cauda em cada par.

Para mim, vestir tubarões nos pés é o ápice do bom gosto que um ser humano médio pode ter.

As íris indomáveis de Apollo deslizam preguiçosamente pela rua por trás das lentes escuras dos óculos estilo Matrix que pendem no topo do seu nariz, e, por vezes, ele remove a mão do volante para puxar dos lábios um dos cigarros do maço encaixado acima do porta-luvas e soprar a fumaça dos pulmões. A nuvem tóxica se desmancha em torvelinhos abstratos pela janela aberta, e sua língua passeia pelos lábios todas as vezes, roçando mais demoradamente na argola prateada que circunda o inferior. Uma camisa branca sem estampa se estende ao longo do seu tronco por baixo de uma gravata preta ligeiramente frouxa.

Meu rosto crepita como se minhas células estivessem em ebulição, fervilhando em um amontoado disforme de átomos diante da constatação do quanto Apollo está inegavelmente bonito. Ele é bonito. Mais do que eu gosto de admitir. E isso é infernal.

Não há nada que consiga macular a sua beleza, nem mesmo os band-aids que circundam os dedos anelar e médio da sua mão direita, tampouco o universo caótico em cosmograu que se espalha na bagunça de fios pálidos do seu cabelo ou nos semicírculo escurecidos embaixo dos seus olhos. Sua matéria por completo é reluzente, como se suas células fossem torvelinhos de poeira matizada orbitando o núcleo chamejante de alguma estrela maior.

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