O amor não é um passeio no parque

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Doce.

Essa foi a primeira palavra que surgiu na mente sonolenta de Changbin ao sentir a fragrância que envolvia o local, apertou o cobertor macio ainda de olhos fechados. Uma pequena brisa correu e ele se encolheu em posição fetal desejando ficar ali por mais tempo. Abriu os olhos e observou confuso o lugar onde estava, sentou-se rapidamente na cama sentindo uma grande pontada na cabeça e um gosto amargo na boca. Não tinha ideia de como havia parado ali, na sua mente existiam apenas algumas memórias borradas de seu passeio solitário e trôpego pelas ruas.

Havia sido sequestrado? Sem chance.

Levantou e deu passos lentos em direção a porta de madeira, a cada movimento que fazia era arrebatado por uma dor na cabeça. Definitivamente não iria mais beber. Ao contrário do que se espera de alguém que acorda em um lugar desconhecido, estava tranquilo, a aura daquele ambiente era tão aconchegante que o acalmava.

Parou repentinamente ao observar um corpo embrulhado em um cobertor cinza claro deitado sobre o sofá marrom, fios loiros escapavam da manta, mas aquilo não lhe dava nenhuma dica sobre quem era o seu “sequestrador”.

Andou com cuidado, se aproximando daquele amontoado que dormia calmamente, sentiu-se tenso ao pegar a ponta do tecido com a finalidade de descobrir a identidade da pessoa e deu passos apressados para trás ao perceber de quem se tratava, como resposta Felix resmungou sonolento, puxando o cobertor para si.

O que deveria fazer? Ir embora? Acordá-lo?

Sua cabeça doía e seu coração batia rapidamente, estava curioso para saber como tinha parado naquele local, mas algo lhe dizia que não havia sido convidado. Resolveu ir embora, observou a mesinha de centro atrás da chave da moto e como não a encontrou foi em direção ao quarto e aproveitou para observá-lo com atenção.

O local era pequeno, próximo a cama havia uma grande janela com cortinas azuis claras, uma mesinha com um notebook branco, rodeada de alguns livros de receitas ficava próxima a outra extensão da janela, havia também um mural de fotos repleto de rostos desconhecidos, facilmente reconheceu a versão bebê do australiano que estava abraçado com uma mulher extremamente bonita em um grande jardim, ficou frustrado ao ver que Chan também possuía um espaço naquele local, abraçado ao lado de um Felix de aparência diferente, seus cabelos eram castanhos e aquilo fez com que sua mente tivesse outro lampejo de memória que foi interrompido pela dor de cabeça.

— Ah, você acordou! — Felix estava parado na entrada do compartimento, enrolado no cobertor cinza, com os cabelos bagunçados e olhos inchados.

— Eu já estava indo embora, mas não consigo achar minhas chaves. — Changbin estava envergonhado por ter sido pego bisbilhotando e mesmo curioso para saber o que havia acontecido na noite passada, queria sair dali o mais rápido possível.

Ainda sonolento, Felix se desfez do cobertor enquanto caminhava como um zumbi pelo pequeno local, contou como o moreno apareceu bêbado em seu apartamento. Changbin sentia vontade de tapar os ouvidos e sair correndo; aquilo era constrangedor. O australiano sentou na cama e passou as mãos pelo cabelo ao finalizar a história, observando o outro que permanecia com a cabeça baixa e mãos educadas.

— Me desculpa, eu sou um idiota.

— Acho que você já me pediu desculpas demais. — O sorriso amargo de Felix, fez Changbin se encolher, mas não o impediu de falar o que desejava.

— Quando você veio até a mim dizer como se sentia, fiquei confuso, foi a minha primeira confissão, sabe? — O outro assentiu, dando espaço para que ele continuasse — Foi inesperado e para falar a verdade, naquele dia eu estava prestes a rejeitar qualquer pessoa, mesmo que não fosse você, porque sempre tive alguém em mente.

Os olhos de Felix ficaram maiores e sua garganta doeu, tinha decidido esquecer Changbin, mas ouvir aquilo o pegou desprevenido, não soube como reagir então só esperou que o outro continuasse.

— Minha memória não é muito boa, mas tem alguém que não consigo esquecer, a pessoa que eu amo, não tinha nome, endereço ou idade definida. Até a noite de ontem, tudo o que possuía eram várias letras de músicas compostas por mim, a lembrança do nosso único encontro e um moletom amarelo com o nome White Rabbit. — Sua voz saiu trêmula, mas decidida, não tinha mais volta, ele precisava dizer como se sentia.

Felix, lembrou do momento que encontrou Changbin desmaiado no corredor da faculdade, do medo que sentiu e de como teve que arrastá-lo até a enfermaria. Estava triste por reencontrar a pessoa que gostava em uma situação tão ruim. Descobriu o seu nome ao pegar seus livros e deixá-los em um armário da enfermaria e naquele dia jurou que iria tomar coragem e dizer como se sentia.

O australiano sacudiu a cabeça levemente afastando as memórias e se sentiu anestesiado, não conseguia entender o que estava acontecendo, viu Changbin sentar ao seu lado na cama e segurar suas mãos que estavam frias.

— Você veio até a mim e não pude te reconhecer, já havia prometido o meu coração a você antes mesmo que sonhasse com isso, mas tive medo, ciúmes, fui impulsivo e te magoei muito. Me desculpa.

Changbin prendeu a respiração a dor de cabeça causada pela noite de bebedeira era irrelevante naquele momento. Estava ansioso pela resposta do outro, que permanecia silencioso.

— Minha cabeça dói. — Foi tudo o que o loiro conseguiu dizer ao impulsionar o corpo para deitar na cama. Aquilo era informação demais; estava confuso, várias vezes alimentou a fantasia de que a pessoa em sua frente retribui seus sentimentos e quando finalmente decide desistir, aquilo acontece. — Você cuidou de mim primeiro e por isso criei uma imagem sua na minha mente, assim como você criou a sua versão de mim, mas naquele dia da briga...

— Você percebeu que não me conhecia. — O moreno viu Felix acenar devagar. — E agora você não quer mais isso. — Continuou, mas dessa vez não obteve resposta.

Seus olhos vagaram pelo quarto novamente, finalmente encontrando o moletom amarelo, pendurado em uma arara de roupas, sentiu o sangue ferver de uma forma diferente, não era raiva e sim determinação. 

— Sabe, o amor não é um passeio no parque. — Não houve respostas. — Sou impulsivo, ciumento e tenho mais uma infinidade de defeitos, mas estou fazendo o meu melhor para mudar.

O loiro se odiava por não conseguir formular uma resposta para toda aquela situação, o choque inicial já havia passado, mas aquilo ainda era difícil de entender. Changbin ficou de pé, chamando sua atenção.

— Eu espero que me aceite, porque eu não vou desistir de você.

As bochechas de Felix ficaram rosadas e o estômago parecia repleto de borboletas, as mãos pequenas apertaram o travesseiro que estava próximo a si, enquanto Changbin sorriu calmo. Aquela era uma situação que o australiano jamais imaginara.

Sentou-se na cama novamente e o moreno pegou suas mãos; como resposta o outro se encolheu um pouco.

— Lee Felix, eu, Seo Changbin, gosto de você desde o dia em que me salvou. Fui burro ao não te reconhecer quando nos encontramos e fui mais burro ainda ao te magoar, mas espero ser desculpado. — O loiro estava prestes a dizer algo quando foi interrompido. — Não me dê uma resposta agora, eu posso esperar.

Changbin rejeitou o convite de Felix para tomar café junto a ele, podia sentir que o loiro ainda precisava assimilar muitas informações, foi embora, prometendo que com certeza o faria gostar dele novamente. Assim que colocou os pés do lado de fora do pequeno apartamento, lembrou dos seus amigos, com certeza iria levar uma bronca, mas estava tudo bem, finalmente encontrara o que tanto procurou.

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Isso é tudo por hoje. Até mais. ♡

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