Bittersweet

O gosto da impulsividade

Jisung encostou o corpo tenso na parede, sentiu as pernas cederem e se abaixou, colocando a mão sobre o peito respirando com dificuldade; naquele momento se odiou por ser tão tímido e se deixar abalar por pequenas coisas, tudo o que tinha que fazer era entrar naquela turma e divulgar o próximo show da banda, mas aparentemente sua ansiedade venceria mais uma vez, sentia-se patético naquele momento e fez o possível para não chorar.

— Você está se sentindo bem?

O jovem que agora estava agachado com a cabeça baixa, não se atreveu a olhar quem havia se aproximado, apenas respondeu um sim baixinho e logo a pessoa se afastou, não deixou de pensar que aquilo não passava de uma falsa preocupação.

— Eu vou ficar assim só mais um minutinho — falou para si mesmo em tom baixo, sentindo o corpo tremer e um incômodo ao ouvir os passos dos universitários que passavam pelo corredor.

— Pega, você vai se sentir melhor depois de tomar um pouco de água. — Ele reconheceu a voz da pessoa que tinha falado com ele anteriormente e decidiu olhar quem era.

— Obrigada. — Pegou o copo com as mãos trêmulas e sorriu timidamente para Felix que possuía um olhar gentil.

O loiro se agachou próximo ao jovem de cabelos castanhos e explicou que às vezes também se sentia da mesma forma. Os dois conversaram por alguns minutos e Felix contou coisas aleatórias para Jisung com a intenção de o distrair um pouco, até finalmente perguntar o que o fez ter um ataque no meio da faculdade.

Jisung explicou toda a situação e o australiano ouviu atentamente.

— Vamos fazer isso. — Disse ao ficar de pé e recebeu um olhar surpreso do outro que não entendia do que ele estava falando. — Vamos entrar naquela sala e você vai cumprir sua missão, estarei ao seu lado então não se preocupe.

Os olhos de Jisung piscavam lentamente enquanto sua mente processava a ideia de Felix, respirou fundo e decidiu que iria fazer isso. Com a ajuda do outro, foi capaz de entrar na sala e falar com as pessoas, enquanto divulgava o show para várias garotas que olhavam a dupla comentando o quanto eles eram fofos. Felix permanecia ao seu lado, ajudando quando ele não conseguia formular algumas frases e mesmo tendo gaguejando um pouco, tudo saiu muito melhor do que esperava. Os dois se despediram das pessoas e saíram do local rapidamente.

— Você foi muito bem. — O australiano batia palmas animadamente, arrancando um longo sorriso de Jisung.

Ele já havia visto o loiro pela faculdade e também tinha ouvido muito sobre sua vida, uma vez que ele era o assunto mais citado durante os ensaios da banda, achava que era exagero quando Minho dizia que o australiano era uma pessoa gentil, mas percebeu que aquilo era uma grande verdade.

— Obrigada, aliás meu nome é Jisung.

Felix estava feliz por ter feito um novo amigo e aceitou de bom grado o convite para que fossem até a cantina comer algo, o jovem de cabelos castanhos e bochechas cheinhas queria recompensá-lo pela ajuda.

Os dois continuaram a conversar e descobriram que tinham muito em comum, Han se sentia confortável ao lado do loiro e nem viu o tempo passar, a dupla estava tão imersa na conversa que não perceberam a aproximação de uma pessoa que caminhava rápido enquanto cerrava os punhos.

— O que você está fazendo com ele? — Changbin sentou-se despreocupado ao lado de Han e se inclinou em direção a Felix com uma expressão séria.

O loiro apenas arqueou a sobrancelha, tentando entender o que aquela atitude significava. Jisung pôde sentir que algo ia acontecer e tentou sair do local com Felix, mas foi impedido por Changbin.

— Olha, você está apaixonadinho por mim, mas saiba que ficar correndo atrás dos meus amigos não vai me fazer sentir o mesmo.

— Eu não me aproximei dele por sua causa, pare de pensar que minha vida gira em torno de você. — A voz do outro estava mais grossa que o normal, ele apertava o canudo do seu copo com força.

A resposta do outro, fez seu sangue ferver; acabou lembrando da postagem no fórum da faculdade e do dia em que eles passaram juntos, o sorriso que Felix lhe distribuiu, era o mesmo que ele devia mostrar para Chan, pensar naquilo fez com que batesse os dedos ritmadamente na mesa, sua mente alertou que deveria parar, mas sua boca foi muito mais rápida ao cuspir as palavras.

— É verdade, você anda muito ocupado com aquele seu cachorrinho de estimação, ele é tão comportado, me pergunto que tipo de recompensa você dá a ele.

Nem o moreno podia acreditar nas palavras que havia proferido, Jisung o repreendeu e aquilo era um sinal que estava indo longe demais, o loiro organizou os pacotes de biscoitos vazios na bandeja da cantina. Changbin abriu a boca para fazer um pedido de desculpas urgente, mas foi cortado pela voz do outro.

— Han, vejo você outra hora. — Felix sorriu vazio ao se levantar e pegar suas coisas, Jisung apenas respondeu baixinho.

O loiro tentou sair do local antes que as lágrimas caíssem, mas não conseguiu contê-las ao passar por Hyunjin que o observou surpreso antes de se sentar junto aos outros.

— Porquê ele estava chorando? — Ele apoiou sua bandeja repleta de batatas fritas e esperou para ouvir a história.

— Chorando? — Os olhos de Han aumentaram de tamanho e Changbin se sentiu um verdadeiro idiota.

Jisung explicou toda a história para os dois amigos, fazendo com que ele se sentisse mais culpado ainda, sabia que havia passado dos limites, mas não tinha coragem de ir atrás do australiano se desculpar.

— Ei!

Foi tudo que Changbin pode ouvir antes de ser atingido por um soco no rosto.

Tudo aconteceu rapidamente, mas na visão de Changbin estava tudo muito lento, Chan estava desferindo golpes enquanto ele revidava, Hyunjin e Han tentavam separar os dois em vão, pôde ouvir Felix gritando em lágrimas para que ambos parassem, mas aquilo só foi possível quando mais pessoas chegaram para afastar a brigar.

Lambeu os lábios e sentiu o gosto de sangue, encarou Chan que tinha um filete vermelho escorrendo acima da sobrancelha, os olhos fervendo de raiva pronto para avançar novamente sobre o moreno que possuía os cabelos bagunçados e os braços de Minho ao seu redor que o segurava tentando impedir uma nova briga.

— Por favor, vamos embora. — A voz embargada de Felix, desarmou ambos. Chan desferiu uma desculpa silenciosa para o loiro que o abraçou com o rosto coberto de lágrimas, não se importava com as pessoas que o observavam.

Changbin apenas encarava as costas de Felix que estavam envoltas pelos braços fortes de Chan, viu Han se aproximar dos dois e oferecer água para Felix, quando este se virou para Jisung, o moreno finalmente viu uma feição do australiano que nunca queria ver; seus olhos e a ponta do seu nariz estavam vermelhos, o rosto coberto por lágrimas que pareciam não parar de cair, as mãos trêmulas. Por impulso tentou se aproximar, mas foi impedido por Minho, quando tentou abrir a boca para se desculpar foi impedido por Seungmin, que alertou que deveriam sair dali. Ao sair do local o moreno deu uma última olhada no loiro, que retribuiu com um olhar vazio.