Favorite crime | JUKE

Capítulo 9

Luke's PoV

Deixo Julie na porta do prédio dela e volto pro hotel. No caminho, vou pensando nela e no quanto ela mudou.

Victoria estava certa. Julie mudou bastante. Ela ficou mais...revoltada. Me arrisco até a dizer que ela tinha um pouco de amargura em suas palavras. E ela é tão jovem. Não deveria ter um sentimento tão ruim assim dentro dela.

A Julie que eu conheci era uma menina doce, alegre e sorridente. E, mesmo depois de tudo que passou ainda sendo tão nova, quando eu estava com ela, ela sempre conseguia sorrir e brincar. Eu tinha esperanças de que ela continuasse sendo aquela menina que eu conheci.

Mas eu também tinha esperanças que ela seria adotada. Se ela fosse adotada por uma boa família, não tenho dúvidas que Julie ainda seria a mesma menina doce e gentil que eu conheci.

Sei, mais que ninguém, o quanto passar dez anos esperando ser adotado, pode te fazer ficar revoltado e pensar que isso nunca vai acontecer, pode te fazer se rebelar contra todos ao seu redor. Eu nunca fiz isso. Mesmo tendo todos os motivos do mundo.

Julie, por outro lado, não teve a mesma sorte. E fico pensando no que seria se eu não tivesse ido embora, mesmo com todos ao meu redor dizendo que coisas assim não estão ao meu alcance, sinto um pouco de culpa, pois se ela não tivesse ficado sozinha, talvez as coisas fossem diferentes.

Fico feliz em saber que ela não deixou de pensar em mim. Ao menos isso não mudou. E agora que eu a encontrei de novo, vou fazer o possível para que ela volte a sorrir. Devo isso a ela.

Chego ao hotel e vou pro quarto do Alex. Precisava contar a ele sobre meu reencontro com a Julie.

— Alex!– bato à porta– Alex!– bato de novo. Ia bater a terceira vez quando ele abriu a porta.

— Que é?– ele pergunta.

— Credo, que mau humor, hein?— digo a ele.

— Ah, claro! Seu amigo começa a bater a sua porta e gritar o seu nome quase à meia noite, querendo acordar você e o corredor inteiro em que você dorme...é, uma situação que faria qualquer um feliz!– Alex diz.

Me esqueci que ele detesta ser acordado quando está dormindo.

— Ah, cara foi mal. Desculpa aí. Não vi que tava tão tarde. Volto amanhã!– Eu já ia embora quando Alex me impede e me puxa pra dentro.

— Agora que você já fez o favor de me acordar do meu sono de beleza, fala logo! Deve ser algo muito importante.– Alex diz e se senta na cama, com os cotovelos em cima dos joelhos e uma cara de criança que está prestes a ganhar um presente.

A segunda coisa que ele ama mais que dormir é uma boa fofoca.

— Eu encontrei ela!– digo.

— Ela quem? Sua mãe de sangue?– ele pergunta.

— Não! A Julie!

— Aaaaah, a sua namoradinha do orfanato?

— Ela não era minha namoradinha! Caramba, Alex, eu tinha dez anos!

— Tá bom...– ele diz. Mas seu tom deixa claro que não acredita em mim– E como você a encontrou?

Começo a contar a ele sobre minha saída pra dar uma volta, o fato de dirigir pela cidade e ter atropelado a Julie sem saber que era ela e o momento em que eu e ela descobrimos quem éramos. Contei a ele o quanto ela mudou, tanto fisicamente, quanto internamente.

— É sério, Alex! Dava pra ver um ódio no olhar dela, uma revolta...–digo– Ela parecia...perdida.

— É né, cara...pelo que você já me disse, essa menina já sofreu demais...ela perdeu os pais com oito anos, aí a única pessoa de quem ela conseguiu se aproximar foi embora e logo depois perdeu contato...e eu não tô dizendo que o que aconteceu com ela foi sua culpa...– ele completa quando baixo o olhar, numa expressão arrependida.– E passou dez anos acreditando que seria adotada, mas nunca foi, e além disso, ainda foi expulsa do lugar que ela chamou de lar durante a maior parte da vida. Ela tá quebrada, Luke.