Favorite crime | JUKE

Capítulo 2

Julie's PoV

O taxi dobra uma esquina e, em um dos prédios, vejo a placa boate Orpheum. Mais embaixo, estão escritas as palavras:

Estamos contratando dançarinas. Sem necessidade de experiência. Moradia e alimentação incluídos.

Aquilo era...exatamente o que eu precisava. Um emprego e ainda com moradia e alimentação incluídos.

— Moço, o senhor pode parar bem aqui!– digo a ele, que me olha.– Quanto deu a corrida?

Ele me diz o valor e pago. Saio do carro e pego minha mochila. Olho pra fachada e resolvo entrar.

Assim que entro, avisto uma garota negra de tranças varrendo o chão  e um menino de cabelos longos limpando o balcão.

— Oi! É...eu li a placa na porta. Vi que estão contratando...

— Desculpa, gata. Mas a gente não tá contratando pra faxineira...– A menina diz sem levantar o olhar.

— Mas eu vim pela vaga de dançarina!– digo. Ela me olha de cima a baixo

— Com essas roupas?– ela pergunta.

— Escuta aqui, ô coisinha... Não pedi a sua opinião sobre minhas roupas. Quero só saber sobre a oferta de emprego de dançarina.– Retruco.

— Pra sua informação, esquentadinha, meu nome é Flynn. E se você quiser esse emprego, eu já tô te dizendo que com essas roupas, você não vai conseguir!– ela diz.

— Bom, Flynn. Essas são as únicas que eu tenho.– As roupas que eu usava foram as que eu consegui nas doações pro orfanato. Estavam surradas e acabadas porque não eram exatamente novas.– E pra sua informação, me chamo Julie.

— Eu tenho algumas roupas lá em cima, Julie. Acho que vestimos mais ou menos o mesmo número. Posso te emprestar umas peças. Se você quiser, é claro.

— Serio que você vai me ajudar depois de eu te tratar mal?– pergunto rindo.

— É claro! Dá pra ver o quanto você precisa de um emprego. Sabe, pra trocar esse...– ela faz cara de nojo– Guarda-roupa.

— Escuta aqui...– ia avançar nela, mas o menino me segura.

— Uuuh, afrontosa! Gostei de você!– ela diz e se direciona à escada no fundo do bar– Se quiser as roupas, me siga.

Me solto do garoto e vou com ela até seu quarto.

— Você não vai me trancar aqui e me assassinar, vai?– A Flynn pergunta enquanto separa algumas de suas roupas.

— Vou pensar no seu caso!– digo a ela, que me olha com medo.– Que foi? É brincadeira!

— Toma! Tenta isso!– ela diz e me joga um top, um cropped folgado e uma calça mais justa. As visto.

— Perfeito! Agora...esse cabelo...– ela diz pegando uma mecha– Há quanto tempo ele tá sem ver uma hidratação?

— Acho que nunca fiz uma...– digo. Ela me olha espantada.

— Garota? Embaixo de que ponte você morava?

— Eu morava num orfanato...desde os oito anos.

— Ah, desculpa eu...sinto muito...Bom, isso explica muita coisa...acho que começamos com o pé esquerdo né? Me chamo Flynn!– ela se apresenta de novo

— Sou a Julie...– digo e sorrimos uma pra outra– Bom, é melhor eu arrumar o meu cabelo, né? Eu realmente quero esse emprego.

Vou pra frente do espelho e começo a fazer algumas tranças no meu cabelo. Pego alguns cremes, grampos e gel e acho que consigo deixar ele melhor do que estava antes.

— Pronto!– digo e a olho

— Bem melhor do que aquele ninho de passarinho!

— Vem cá, você trata todo mundo mal assim ou é só comigo?

— E você é chata assim com todo mundo ou é só comigo? Se você quer saber, sim. Esse é o jeito que trato todo mundo. Se não gosta, o problema é seu!

Reviro os olhos.

— Agora...ainda precisa de uma maquiagem...

— Mas vai borrar tudo quando eu começar a dançar.– Falo pra ela.

— E você tá pensando que eu vou rebocar a sua cara? Claro que não! É só uma maquiagem pra disfarçar essas olheiras.

— Eu não...– ia dizer que não precisava de maquiagem, mas ela não escuta já que sai me puxando e me senta numa cadeira do quarto, vasculhando uma maleta com produtos de maquiagem e tirando algumas coisas.

Primeiro, ela tira uma pinça e vem até mim. Desvio meu rosto.

— O que você vai fazer com isso?– pergunto.

— Dar um jeito nas suas sobrancelhas.– ela diz e aponta a pinça pra minha sobrancelha, começando a arrancar os pelos.

— Ai! Ai! Ai!– digo fazendo caretas de dor. Mas ela não para até que tenha acabado. Então ela me entrega um espelhinho e olho minhas sobrancelhas. Elas estavam...perfeitas e bem desenhadas.

— Uau! Você é boa nisso!– digo a ela

— Eu sei!– ela diz e começa a pegar as coisas para me maquiar. O tom de pele dela é mais escuro que o meu, mas ela dá um jeito e, no final quando ela me mostra no espelho a maquiagem que fez, o tom está perfeito e a maquiagem, apesar de simples esta muito bonita.

— E aí, o que achou?– ela pergunta.

— Ficou...incrível!– digo– Serio, nem sei como te agradecer...

— Consiga o emprego, garota!– ela diz e sorri. Sorrio também.

— É...desculpa por te tratar daquela maneira. É que eu...Bom, prometi a mim mesma que não iria abaixar a cabeça quando me ofendessem e, Bom, eu achei que você estava me ofendendo...

— Como eu disse, essa é a maneira que eu trato todo mundo. O Willie, o cara lá embaixo, que o diga. Mas juro que na maioria das vezes sou um amor!– ela diz e sorrio– E eu também não fico calada quando me ofendem. Acho que vamos nos dar bem!

Meneio a cabeça e a sigo para fora do quarto. Acho que, em algumas pessoas dá pra confiar. Flynn me parece ser esse tipo de pessoa. Ela me ajudou sem esperar nada em troca mesmo depois de me falar aquelas coisas e de eu ter sido grossa com ela.

Mas bom, agora não é hora de ficar pensando na bondade dos outros. E nem de amolecer o coração. Vim aqui procurar um emprego e é o que vou fazer.

Flynn e Willie, o rapaz que estava limpando o balcão, me indicam uma das salas em que está ocorrendo a seleção das dançarinas. Vou até lá e respiro fundo antes de abrir a porta.