Ela está em primeiro lugar.
Ela chegou apenas algumas semanas atrás e já está em primeiro lugar.
Não estou acostumado a ficar em segundo, ou em terceiro, ou em qualquer lugar que não seja no topo. Em todos os meus vinte e dois anos de vida apenas fiquei em segundo lugar duas vezes. A primeira delas foi ao meu irmão nascer, quando eu tinha quatro anos. Por cinco anos inteiros fiquei em segundo lugar começar a tocar violino e me tornar prodígio em alguns meses. Ganhei tantos presentes e elogios de minha mãe que era como se meu irmão nunca tivesse nascido. Ganhar nunca foi difícil para mim. Meus avós diziam que estar em segundo lugar é o primeiro lugar dos perdedores. Eu não podia ser um perdedor. Eu não posso ser um perdedor.
A segunda vez foi na Olimpíada de Matemática no segundo ano do ensino médio. Em duas das três fases eu fiquei entre os melhores. Recebi cartas, roupas novas e até um novo celular. Estava preparado para fazer o mesmo na terceira fase, mas não aconteceu. Nunca vou esquecer o olhar dos meus avós na primeira fileira ao saberem que não ganhei a medalha de ouro. Eu vi o exato momento em que o nome de outra pessoa foi chamado para o primeiro lugar e o sorriso deles se desfez. Lentamente. Quase cruelmente.
Mas agora eu sou o segundo lugar. Por causa dela.
Talvez não seria tão sério se o segundo lugar não custasse tanto. Conseguiria lidar com a perda da popularidade. Conseguiria lidar com a perda da minha reputação. Porém, eu perco dinheiro. Muito dinheiro. Abro o pequeno caderno que guardo em minha jaqueta enquanto analiso a imagem projetada em uma das paredes pela metade. O ranking é atualizado toda semana com o número de corridas ganhas. É como um cardápio. Um cardápio preparado ao longo dos dias úteis para os finais de semana, esses são os que realmente importam. Nos fins de semana os riquinhos decidem extrapolar, colocam suas melhores roupas com jaquetas de couro e fingem fumar cigarros. Viram rebeldes da noite pro dia e decidem apostar em corridas ilegais.
Nesse momento, estou em segundo lugar em pleno sábado. Eu deveria estar ganhando muito, mas até minha vontade de correr está se esvaziando junto com o meu bolso.
—Ela só te ganha em quantidade. Nevasca é uma puta ambiciosa. Às vezes ela chega aqui antes de mim.—Zeus fala soltando sua habitual nuvem de fumaça—Se você sempre aparecesse, estaria em primeiro lugar de novo.
—E se você me ajudasse nas propagandas, eu não estaria perdendo tanto dinheiro.
Ele me olha com seu olhar divertido. Aquele em que eu consigo ver o quanto gosta de observar o mundo pegando fogo ao seu redor. Zeus sorri colocando o braço ao meu redor e tirando o cigarro de dentro da boca.
—Sabe que eu não trato ninguém como favorito.—Zeus faz uma pausa divertida—Mesmo você sendo meu favorito.
Eu conheci Zeus um pouco antes de entrar para as corridas ilegais. Pode-se dizer que ele foi o meu ingresso de entrada. Estava metido em algumas outras coisas também não muito legais que acabaram me colocando no mar de dívidas em que me encontro. Zeus falou que conhecia um lugar para correr e ele poderia me ensinar um pouco sobre corridas. Como disse, ganhar nunca é difícil para um prodígio em tudo.
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Sempre Correndo
Roman d'amourSummer Coffey e Aaron Bright vivem vidas duplas. Se conheceram como Nevasca e Ares, participantes de corridas ilegais e rivais pelo primeiro lugar. Desde que se viram, sabiam que não tinha jeito, sempre teriam objetivos conflitantes. Participando de...