Capítulo 75

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" Você só colheu o que você plantou
Por isso que eles falam que eu sou sonhador
E digo o que ela significa pra mim"

— Morango do nordeste, Karametade

Digão narrando

Eu juro que nunca tive medo de nada na minha vida, desde que entrei nessa vida fodida do tráfico? Eu nunca temi nada não, já fiquei cara a cara com a morte tantas vezes que eu nem sei contar nos meus dedos.
Já enfrentei comando contrário, já enfrentei polícia, já enfrentei milícia, eu já vi de tudo nessa minha vida tá ligado?

Mas era a primeira vez que eu ficava frente a frente com um pai que de fato amava sua filha.
Um homem que faria qualquer coisa por uma filha, o problema que o Muka não sabe é que eu também faria qualquer coisa pela filha dele

O maluco tava acelerado, eu não tive como não entrar naquele carro, os pneus cantavam alto e ele tava calado concentrado na direção, de vez em quando olhava de lado pra mim, meus ossos tavam doendo e eu sentia um arrepio estranho, ele estava com ódio de verdade de mim.

— Vai devagar caralho — Eu quebrei o silêncio e falei quando ele derrapou na pista devagar

— Cala a tua boca caralho — Ele disse bruto

— A gente não vai conversar assim não parceiro, tu tá virado aí e eu nem sei se tu pegou alguma coisa — Segurei com força o puxador do carro — PARA ESSE CARRO MUKA — gritei com ele

— NÃO GRITA COMIGO, CALA A PORRA DESSA BOCA DEU BUCETA — ele freiou com tudo e o carro dessa vez derrapou e virou com tudo

Fechei os olhos com força só esperando o baque, mas ele não veio.

— Mas é um frouxo mesmo — Ouvi a voz de Muka debochar de mim — Desce da porra desse carro agora e sem gracinha que eu estouro teus miolos Digão — Senti o cano frio da pistola dele na minha cabeça

Eu não podia fazer nada, eu tinha soltado minha arma a quilômetros atrás quando ele me obrigou a deixar celular e pistola pra trás.
Suspirei preocupado mãe obedeci a ele, desci do carro sendo acompanhado pelo meu parceiro, eu tava puto com toda essa situação e eu juro que se o Muka não fosse quem é eu já tinha marcado esse otário.

— Vamo conversar na moral Muka — Levantei às mãos em rendição

— Conversar na moral? — Ele perguntou com escárnio — Tu não quis conversar na moral quando foi lá catar minha filha deu porra — Cuspiu as palavras

— Não fala assim dela — Eu fiquei puto

— Não tô falando da minha filha, estou falando de quem tu é — Ele apontou a pistola na minha cara — Ou tu vai me dizer que tu não quis só comer minha filha? Tratar ela como mais uma das tuas seu porra

— Eu quis — Fui sincero — No começo? Eu realmente quis só comer tua filha porque porra quando eu vi aquilo tudo pisar o pé na minha comunidade eu fiquei doido pra foder cada pedacinho do corpo da tua filha — Eu disse puto de ódio

Nem terminei direito de falar se senti o murro certeiro do cara na minha frente acertar minha bochecha.
Virei o rosto com tudo e cuspi sangue, minha mordido minha língua junto com o soco que levei.

Isso é o que o amor fazOnde histórias criam vida. Descubra agora