Inferno tedioso

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A primeira prisão parecia sufocante, olhava para aquela pobre alma lhe implorar por misericórdia enquanto em seu enorme livro analisava todos os seus pecados. Uma bufada saia de seus lábios, colocou a mão sobre o queixo mirando seu olhar ao pobre condenado.

— Você viveu sua miserável vida cometendo o pecado da ira. Eu o condeno as águas escuras da quarta prisão, o Pântano das trevas. Passará a eternidade junto de seus semelhantes, batendo e torturando-se eternamente no pegajoso e frio Estige. — Griffon bateu o martelo dando a sentença.

— Minos-Sama, mandou me chamar?

Lune de Balron, seu subordinado aparece carregando consigo uma enorme papelada depositando-a na mesa ao lado do juiz.

— Sim Lune, preciso que fique no meu lugar por um tempo. Estou entediado e farto de olhar para esses vermes pecadores por tanto tempo.

— Me perdoe a indiscrição Minos-Sama, mas a guerra santa logo estará prestes a começar. Não seria prudente vossa excelência deixar a Casa do Julgamento.

— Ela não vai estar desprotegida. Estou deixando em suas mãos Balron. Além do mais, não vou demorar tanto, estarei de volta antes do despertar de nosso imperador. Preciso respirar novos ares.

— Como quiser Minos-Sama.

Dito isso Griffon deixou o inferno, retornando ao mundo dos mortais.

Restava poucas memórias de sua vida como mortal. Vez ou outra quando se entediava de seu tribunal, tentava reviver um pouco de seus momentos como mero mortal. Lembrava de seus momentos de lazer, de suas visitas aos bares na sua cidade natal, das mulheres, afinal, sua aparência lhe ditava um galanteador nato. Muitos anos se passaram desde a última vez que estivera em sua cidade natal, então gostaria de ver como as coisas haviam mudado com o passar do tempo.

Até se sentia mais livre sem sua sapuris, trajava uma camisa de linho branca e uma calça escura de algodão, também usava seu óculos mais como uma espécie de acessório — uma lembrança de seus últimos momentos como mero mortal.

Caminhou pelo vilarejo cheio de comerciantes que buscavam o próprio sustento, achando patética a forma que os mortais se sujeitavam por migalhas. Seu pensamento fora interrompido por uma senhora que vendia rosas em uma tenda um pouco mais afastada das outras.

— Boa tarde senhor. Não gostaria de levar algumas de minhas rosas? Um homem tão bonito como o senhor deve ter muitas pretendentes. Tenho rosas de todos os tipos. Venha, dê uma olhada.

Griffon crispou os lábios com desprezo e usando a marionete cósmica estraçalhou todas as rosas que haviam na tenda da comerciante, que caiu entre o que sobrou de suas preciosas rosas completamente apavorada.

— Sinto muito mas vou ter que recusar — olhou para a comerciante com seu sorriso sádico. — Eu odeio rosas!

Em seguida saiu sem dar muita importância para a quantidade de curiosos que se formou ao redor.

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No santuário, Albafica em seu templo lia seu romance favorito, passava o tempo se perdendo em um mundo ao qual acreditava que jamais iria conhecer, se pegava imaginando como seria realmente viver um amor de verdade, poder tocar e beijar alguém sem se importar com seu sangue venenoso. Era um romance onde o herdeiro de um duque se apaixona por uma camponesa, e a família do jovem não aprova o relacionamento por existir uma grande diferença entre classes sociais. Um típico clichê que faziam os olhos do pisciano brilharem a cada palavra lida.

Rosa AlbaOnde histórias criam vida. Descubra agora