A mensagem do Grifo

144 13 0
                                    

Asmita não era o Santo de sua devoção, muito menos alguém em quem confiava, até porque, era conhecido por nunca tê-lo visto fora de seu templo. O recente envolvimento na traição de Aspros e o sumiço de Deuteros, deixaram alguns cavaleiros incertos sobre sua lealdade. Mas o próprio pouco se importava, era sensitivo demais, lidar com esse fardo a vida toda foi o que lhe tornou o cavaleiro poderoso que é hoje. E o Grande Mestre tinha total confiança nele, e isso era inquestionável a qualquer um do Santuário. 

— Todos estão de alguma forma prestando homenagens a aqueles jovens. Pensei que fosse fazer isso de alguma forma também — indagou o virginiano.

Albafica ainda sentia o peso das mortes dos jovens caírem sobre si, porém, o que ainda gritava mais alto em seu coração era Minos. 

Não sabia dar uma resposta certa, então, respondeu de qualquer forma mesmo. 

— Se você me parou aqui, tenho certeza de que foi uma ordem do Grande Mestre, já que é o tipo de coisa que ele pediria a você. E eu ficaria feliz se fosse breve. 

— Você é realmente belo, como todos dizem. 

Ele era realmente invasivo. E com isso, iniciaram uma discussão rápida que na mente de Albafica, sem sentido algum. 

— Pensei que não enxergasse.

— E não enxergo. Mas sinto seu cosmo, seu coração. É radiante, afetuoso, no entanto, angustiado e solitário. Você tem muitas dúvidas, e isso, está te impedindo de seguir em frente. 

— Você não me conhe-

— Apenas faça. Se entregue, é o que quer, não é mesmo? — Asmita interrompeu, como se já soubesse de algo. 

Albafica ficou receoso com o questionamento. 

— Você não sabe de nada! — o pisciano respondeu acuado. 

— O que é a vida para você? Albafica. 

— O que é pra você Asmita? — ainda se mantinha na defensiva. 

O virginiano respondeu apenas com um sorriso. 

Não era nenhuma ordem ou algo do tipo, mas, Asmita sentiu que deveria entender o que está a acontecendo com Albafica. Apesar da pouca intimidade com o cavaleiro, ele ouvia os comentários e as preocupações dos seus colegas. Por acaso acabou ouvindo uma conversa de Shion com o Patriarca sobre algumas atitudes do pisciano. Asmita decidiu agir, e agora, frente a frente com ele, conseguiu sentir parte dos sentimentos do pisciano. Albafica parecia estar com medo, e também, com um sentimento que ele próprio não sabia definir. Entendia que Albafica não tinha muito convívio com os outros por conta da condição de seu sangue, e assim como ele, a vida lhe reservara certas privações. Talvez se Albafica se libertasse de certas amarras, a vida poderia lhe trazer um novo sentido. Ele podia sentir que havia alguém. Esse alguém que poderia ajudá-lo com isso, esse alguém parecia iluminar o caminho escuro que Albafica estava caminhando. 

Mas quem? 

Iria investigar mais a fundo. Alguns minutos se passaram. Albafica não cogitou mover-se, e Asmita o analisava minuciosamente. Até chegar a uma conclusão. 

Já Albafica, devido ao silêncio momentâneo e sua mente em outro lugar, passou a divagavar nos recentes acontecimentos, principalmente nos lábios do Juiz. 

O beijo...

Mas quem diria, seu primeiro beijo foi em um inimigo. 

Foi estranho e bom ao mesmo tempo. 

Albafica sem perceber, leva seus dedos aos seus próprios lábios, como se estivesse voltando ao momento que beijara seu Juiz. 

— Não recebi nenhuma ordem, Cavaleiro de Peixes — respondeu Asmita quebrando o silêncio, enquanto olhava a atitude inusitada do pisciano.

Rosa AlbaOnde histórias criam vida. Descubra agora