Encontro inesperado

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Estava quase na hora de sua vigília, normalmente sempre ficava com a parte da noite, pois gostava de aproveitar o dia fazendo o que mais gostava, sem esquecer é claro, de seus deveres como cavaleiro.

Apesar de sua vida de solitude, tinha lá seus hobbies diários. Entre eles, passear por Rodório e observar a pacata vida dos moradores, imaginando como teria sido a sua se não tivesse concluído o elo carmesim com seu falecido mestre.

Tinha um ritual diário e um tanto curioso que costumava fazer. Sempre antes de sua vigília noturna, gostava de caminhar nos campos de lírios próximo ao Santuário. Costumava ler em seu templo, mas porventura nesse dia, levou seu livro consigo. Quem sabe o contato com a natureza somado a sua aventura literária o fizesse esquecer daquele encontro com o maldito espectro.

Ledo engano.

Ajeitou sua caixa de Pandora ao chão na sombra de uma árvore. Sentou-se escorando suas costas nela, afim de ficar confortável para poder acompanhar o filho do duque se declarar a camponesa. Porém, ao iniciar a leitura, não conseguia se concentrar. Obviamente estava lendo, mas seu cérebro não assimilava palavra alguma, já que sua mente ainda trilhava no rumo daquele maldito juiz.

— Já chega! — fechou o livro com rudeza, desistindo de sua leitura.

Aspirando o aroma almiscarado que vinham daqueles lírios, deu início ao seu retorno para seu templo.

Já no início das escadarias das doze casas, olhou para aquele livro como se ele pudesse lhe dar alguma resposta.

— Qual é meu problema?

— Falando sozinho Alba? — a voz de Shion interrompia sua conversa com o livro.

O ariano estava de braços cruzados encostado em uma das pilastras da primeira casa.

— Não seria a primeira vez — balançou os ombros sem se importar muito com a brincadeira.

— Me disseram que você andou matando espectros por aí.

"Ele tinha que tocar no assunto."

Pensou revirando os olhos. Mas não era culpa dele, Shion tinha esse senso de preocupação com os companheiros. Sabia que não demoraria para ele questionar e verificar se estava tudo bem.

— Quem dera tivesse matado...

— Aconteceu algo?

Albafica sabia que poderia conversar com Shion sem receios. Sempre que precisava de algo era com o ariano que desabafava, conversava, ele parecia sempre ter a resposta para tudo. As vezes poderia jurar que o amigo estava lendo sua mente. Mas definitivamente, nem ele mesmo saberia do que falar. Já que tudo se resumiria em pensamentos impróprios com um espectro. O que para ele, seria algo vergonhoso.

— Cansado — respondeu simplesmente.

O cansaço sempre era uma ótima desculpa.

— Sabe que não está sozinho, Alba.

— Eu sei, você sempre faz questão de dizer isso sempre que pode.

— Vá descansar. Eu fico de vigília no seu lugar hoje. Sua cara está péssima!

— Não precisa se preocupar Shion, estou inteiro.

— Sua aura aflita te acusa.

— Estou tão transparente assim?

— Digamos que sim. Parece perdido.

—Talvez...

O pisciano ponderou por alguns segundos, talvez dizer a verdade lhe faria bem. Mas seu recato e sua nenhuma experiência em qualquer tipo de relacionamento, reduzia a zero a chance de falar sobre o que pensava e sentia.

Rosa AlbaOnde histórias criam vida. Descubra agora