Sentado em um banco na praça, frustrado consigo mesmo por causa de mais uma tentativa fracassada de um encontro às cegas, Doyoung descontava sua dor atirando pedrinhas no lago à sua frente. Já era a quinta vez que tentava conquistar uma mulher e firmar um possível relacionamento, entretanto, a mesma não gostava dele e arrumava desculpa para ir embora, deixando-o sozinho onde estava atualmente. Ele admitia que parte de tal decepção fora culpa dele, não deveria ter dito que era meio bruto em relação a sentimentos, mas convenceu-se de que ela também estava errada, pois o considerara afeminado.
Que se dane, não estou nem aí, Doyoung pensou, levantando e guardando o celular no bolso, ainda desacreditado da rejeição. A fim de acabar com a fome que insistia em fazer sua barriga roncar, ele se dirigiu ao seu restaurante predileto, tinha absoluta certeza de que a comida renovaria suas energias. Não demorou a chegar ao estabelecimento, e sem demora, escolheu a mesa próxima à sacada e aguardou o garçom ir atendê-lo com o cardápio e o bloco de notas em mãos.
— Boa noite, senhor – disse o garçom, entregando-lhe o cardápio — Sinta-se à vontade, volto em um minuto para anotar seu pedido.
— Obrigado.
Folheando o cardápio e analisando as opções, Doyoung sentia-se observado e podia jurar que estavam o julgando, afinal, normalmente aquele restaurante costumava ser frequentado por casais. Tinha fama de ser um ponto de encontro, pois muitas das pessoas que chegavam sozinhas, saíam acompanhadas com outras que buscavam experiências novas em suas monótonas vidas. Aquele certamente não era o caso do Kim, ele apenas queria desfrutar de um bom jantar acompanhado de um vinho, e por fim, voltar para o seu apartamento e descansar.
Quando decidiu o que queria, o homem chamou o garçom e fez o pedido, e após fazer as anotações no bloco de notas, saiu e se dirigiu à cozinha. Sozinho novamente, Doyoung pegou o celular e checou as mensagens que recebera dos amigos, perguntando-lhe como estava sendo o encontro. Ignorando-as, saiu do aplicativo de mensagens e checou os e-mails da caixa de entrada, encontrando somente coisas do trabalho e a fatura do cartão de crédito.
— Como sempre, nada de interessante para mim – ele murmurou, bloqueando o celular e começando a observar os detalhes do local e as pessoas ali presentes.
O ambiente era calmo e agradável, músicas clássicas deixavam o clima mais romântico e trazia paz aos clientes. A decoração era impecável, havendo um belo aquário e lindos vasos de plantas. Os casais sorriam apaixonados, trocavam carícias e palavras de amor, fazendo os solteiros sentirem uma pontinha de inveja. Eu poderia estar assim agora, mas não, sempre estrago tudo, Doyoung pensou, desviando o olhar para a sacada e tentando esquecer seu terrível fracasso.
O garçom voltou a se aproximar da mesa a qual Doyoung estava, o mesmo levava uma bebida muito colorida e bem arrumada, e com delicadeza, pôs a taça a frente do outro.
— Com licença, um admirador secreto me pediu para entregar ao senhor.
Admirador secreto? Era só o que me faltava acontecer, o Kim pensou, negando com a cabeça.
— Diga a ele que agradeço a gentileza, mas que com todo o respeito, não poderei aceitar – Doyoung respondeu — Não sinto interesses amorosos por homens, é isto.
— Certo, farei isso – colocando a bebida de volta na bandeja, o garçom pediu licença e saiu.
Pensou em virar o rosto para ver quem era o tal admirador secreto, mas repensou na decisão e desistiu, definitivamente não gostaria de encontrar um velho pervertido o encarando, ainda queria dormir bem naquela noite.
Em meio a tantos pensamentos, o celular de Doyoung começou a tocar, e rapidamente ele atendeu a ligação. Era um de seus amigos, com certeza querendo saber das novidades, naquele caso, as quais não existiam.
— Ei, como está a noite? – Yuta perguntou, pausando o jogo do computador.
— Está maravilhosa, acredita? – o Kim respondeu, rolando os olhos em tédio — Foi tudo por água abaixo, ela não quis levar o encontro adiante e foi embora, agora estou num restaurante com minha própria companhia.
— Puxa, você é mesmo azarado, hein? Já é a quarta ou quinta mulher que tenta namorar?
— Muitíssimo obrigado pelo apoio, você é um ótimo amigo – Doyoung ironizou, batucando os dedos na mesa e suspirando — Sério, eu sou um desastre, nem sei porque ainda tento... O que há de errado comigo? Não é normal um homem da minha idade estar solteiro.
— Você só tem vinte e cinco anos, pare de exagerar – Yuta o repreendeu, depois teve uma ideia — Já te ligo de volta.
— Mas o que... – antes mesmo de terminar de dizer, a chamada foi encerrada.
O jantar não demorou a chegar, e após guardar o celular no bolso novamente, pegou os hashis e começou a comer, bebendo também o saboroso vinho tinto. Por sorte, ninguém se aproximou e nem lhe mandou mais nenhum agrado, assim conseguiu jantar em paz. Seu amigo também não ligou de volta, então Doyoung imaginou que o mesmo voltou a jogar e esqueceu-se de ligar. Aquilo não era surpresa para ele, pois Yuta costumava se distrair facilmente, até mesmo com um pombo sobrevoando o céu.
Assim que terminou de jantar, Doyoung chamou o garçom e pediu a conta, depois tirou as notas da carteira e aguardou. Não estava tarde — ainda era nove da noite —, mas o homem já sentia cansaço e gostaria de voltar para casa, nada melhor depois de uma noite frustrante. Contaria tudo aos amigos quando chegasse, isto é, se Yuta já não tivesse contado.
Após pagar a conta, ele levantou e saiu do restaurante, ignorando os diversos tipos de olhares que recebia ao passar pelas mesas. Adicionou uma nota mental de começar a pedir pelo delivery, não gostava nem um pouco de chamar atenção.
E como o prometido, o amigo ligou novamente, e dessa vez com uma possível solução para o problema de Doyoung. Gostando ou não, ele teria que aceitar a forma de ajuda dele.
— O que você aprontou? – perguntou, atravessando a rua e se dirigindo para o carro estacionado.
— Nada do que não vá te ajudar, relaxa – Yuta respondeu — Marquei uma sessão com o meu amigo psicólogo pra você, tenho certeza de que ele irá te ajudar nisso.
— Como um psicólogo me ajudaria? Vou sentir é vergonha! – Doyoung murmurou, achando a ideia ridícula — Fala sério, você fez mesmo isso?
— Fiz, e você vai a essa sessão sim, ele não cobrou nada – o japonês insistiu — Não precisa sentir vergonha, é algo totalmente normal.
Destravando o carro, Doyoung entrou e respirou fundo, pensou seriamente e fechou os olhos, esperando não arrepender-se futuramente.
— Doyo? Está tudo bem?
— Ok, eu vou, satisfeito? – respondeu, ligando o automóvel — O que eu não faço por você...
— Lindo, te amo! – Yuta comemorou.
— Em casa conversamos, irei dirigir agora, até mais.
Após desligar o celular, Doyoung dirigiu tranquilo, ou quase. Nunca tinha ido a nenhum psicólogo antes, achava que não era preciso e que tinha o psicológico perfeitamente estável, com exceção da sua dificuldade de se relacionar com mulheres. Parando para pensar melhor, considerou a ideia de Yuta boa de certa forma, tendo esperança de conseguir resolver seu problema.
Já em seu apartamento, o homem leu o endereço do consultório, a data e a hora da consulta, anotou tudo em um papelzinho e o colou na porta da geladeira. Espero que realmente que isso dê certo, ele pensou.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Doctor, help me! - JohnDo (Reedição)
FanfictionDesesperado por respostas, Doyoung procura a ajuda de um psicólogo para "resolver seu problema com mulheres". Mas o que era pra lhe ajudar a gostar do gênero oposto, só lhe deu a confirmação de que não sentia nenhum interesse amoroso pelo mesmo. Esc...