Capítulo 28 - A Marca do Medo

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• Elliot

Eu não tinha muita certeza de como deveria me sentir ao abrir os olhos, mas podia descrever a sensação inicial como perturbadora e extremamente confusa.

Que estranho...

Minha visão fica turva por um segundo enquanto me acostumo ao ambiente. Podia sentir uma luz artificial me tocar de algum canto daquele local novo, mas não procurei por ela, mantendo os olhos fixos no teto de madeira com algumas telhas marrons acima de mim. A chuva bate com força, como se tentasse entrar a todo custo, e provavelmente faz muito frio, mas estou confortavelmente deitado em um colchão macio e coberto por uma manta.

Meu cenho se franze no mesmo segundo em que percebo essas coisas e o movimento me faz sentir que há algo encima de minha testa.

Ergo a mão e toco o tecido sobre mim, afastando-o. É um pano meio úmido, quase seco, aliás, e parcialmente gelado. Meus pensamentos em relação ao que está acontecendo permanecem caóticos.

— O quê... — minha voz soa rouca e pigarreio para melhorá-la, uma careta ainda em meu rosto. Giro os olhos pelo lugar mais uma vez, tentando associar uma coisa à outra, mas, não, eu não sei que lugar é esse e não sei como vim parar nesse quarto quando minha última lembrança era perfeitamente do momento em que tentei livrar a mim e…

Um ofego de choque me escapa e eu me sento rapidamente. Levantei-me tão depressa que sinto vertigem, mas não me incomodo o suficiente para que isso me distraia do rumo que meus pensamentos tomaram.

Nayelly. Ela estava comigo.

Jogo minhas pernas para o lado naquela cama desconhecida e fico em pé. A tontura me irrita de novo, mas forço meu corpo a ficar firme. Caminho vagamente pelo espaço, me apoiando na parede e notando que a luz de antes não passava de um abajur amarelado num criado mudo do outro lado da cama. Não existe mais nada identificável no resto do cômodo, está escuro ao longo dele, mas consigo ver a silhueta de uma cadeira com algumas roupas penduradas, cortinas numa das paredes, e um tapete felpudo toca meus pés descalços até que eu chegue na porta.

A claridade que vem do pequeno corredor quando abro a porta também é artificial e incomoda meus olhos, mas não volto para dentro do quarto como um vampiro. Aperto a vista, piscando até acostumar-me, obrigando-me completamente a isso. Me apoio nas laterais da porta ao inclinar a cabeça para analisar o corredor antes de sair. Está silencioso por ali, com excessão, é claro, da chuva martelando acima de mim.

Deuses, onde raios eu estou?, A dúvida me atropela seguidas vezes, me fazendo engolir em seco com possibilidades nada agradáveis. Será que meu plano de salvar Nayelly e eu de qualquer que fosse a idéia de Phobos nos mandou para um lugar ainda mais perigoso?

O silêncio muda apenas conforme sigo pelo caminho estreito, alcançando facilmente as escadas em meu lado direito. São barulhos de utensílios de cozinha e de pessoas conversando em voz baixa que me recebem no topo da escada. Franzo a testa mais uma vez. Meu pé alcança o primeiro degrau enquanto me seguro firmemente no corrimão. Não confio totalmente em minha cabeça afetada por tonturas e vertigens para andar livremente sem temer uma queda.

Ao passo que avanço pelos degraus, as vozes ficam aos poucos mais claras e posso identificar um homem e uma mulher, provavelmente mais velhos.

— A febre do garoto passou, provavelmente vai despertar logo. Sinto isso — responde, com confiança, a voz feminina à alguma pergunta que não entendi. Mais barulhos de utensílios e, dessa vez, de pratos. —  Acho até que ele poderá jantar conosco, Fabian!

Estão falando de mim?, Questiono mentalmente, atordoado.

— Hum. — Resmunga a outra voz, o tal Fabian. — Vamos ver. Do jeito que estava, não me surpreenderia se ele dormisse até amanhã. E quanto a garota?

Os Olhos da CorujaOnde histórias criam vida. Descubra agora