Os Olhos da Coruja

Capítulo 08 - Antagonismo

Os dias se passaram mais rápido do que eu teria percebido.

O tempo parecia diferente no acampamento, ele não se arrastava e sim fluía naturalmente. Eu o sentia dessa forma, enquanto me ocupava da rotina de treinos que havia criado, alternando entre a luta corporal e a luta com armas. Aparentemente eu devia tentar ser boa em ambas.

Claro que, depois de ter sido derrubada algumas vezes por meus colegas de treino, meu empenho no treinamento aumentou muito. Eu já me considerava bem melhor desde que eu havia chegado.

Aliás, melhor desde minha primeira luta.

Depois daquele dia, Mackenzie não voltou sua palavra à mim. Ela nem mesmo me dirigiu um olhar sequer, ignorando completamente minha presença quando estávamos em um mesmo ambiente ou evitando ficar comigo num mesmo lugar por muito tempo.

Cheguei a conversar com Matthew sobre isso em um dia, quando fui visitar ele e ao Rafael na enfermaria junto a Marina.

Ela ainda o visitava frequentemente para saber como o mesmo estava e as vezes pedia minha companhia ou a de Nathalia.

E nós duas – três se contarmos o pobre do Rafael – estávamos de acordo que era uma situação em que ficávamos totalmente de vela, quer eles fossem um casal ou não.

Matthew e Marina tinham uma forma única de conversar. Eu havia percebido isso por último enquanto assistia os dois se olharem em silêncio no intervalo de suas conversas, observando profundamente os olhos um do outro, estes parecendo momentos tão íntimos, tão longe do que poderia ser considerado apenas amizade, que eu sentia a necessidade de desviar o rosto deles vez ou outra para Rafael.

Ele sempre sorria para mim, achando graça, e dava de ombros.

— Por favor, me prometa que só vai sair daqui quando estiver completamente bem. — Mari havia pedido na última vez que eu havia ido a enfermaria com ela, seu tom preocupado me fazendo fixar o olhar em ambos. Matt suspirou, pegando a mão dela.

— Não se preocupe com isso. Eu ainda tenho alguns dias de castigo aqui — ele disse, sorrindo fracamente para minha irmã. Mari, por sua vez, crispou os lábios.

— E outros mais. Não se esqueça que você está proibido de sair em missões por algum tempo. — ela tratou de lembrar, séria ao passar a suave bronca, mas respondendo ao toque de Matthew ao fazer um carinho na mão dele. — É outra coisa que eu quero que prometa. Não saia do acampamento, em hipótese nenhuma. Muito menos se for para aquelas missões de busca com a Mackenzie.

Foi quando entramos no assunto. Acabei soltando que achava Mackenzie muito estranha nos últimos dias e expliquei toda a situação em minha primeira luta com ela. Matt ficou claramente chocado, não entendendo o que podia estar acontecendo para que a mudança de comportamento dela fosse tão brusca. Até tentamos pensar em algo juntos, mas nada fazia sentido então abandonamos qualquer teoria.

Depois desse dia na enfermaria, nós não voltamos no assunto e, como dito antes, Mackenzie não voltou a falar comigo e aparentemente com ninguém mais.

Não houveram mais sumiços de semideuses e os jantares permaneceram normais, apesar de ainda haver certo mistério inacabado por parte de Quíron e do Sr. D. Eu sempre notava semideuses conversando sobre o que estaria acontecendo e o porque daquelas três fugas, mas ninguém parecia saber ou ter uma pista dos motivos.

Quando percebi, uma semana cheia de especulações já havia se encaixado na conta e eu tinha que arrumar distrações.

Hoje, em particular, eu estava aproveitando para treinar de novo, mas dessa vez resolvi arriscar o arco e flecha.