Capítulo 13 - Armadilha

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O trajeto de ônibus até o antiquário não foi suficientemente longo, mas ainda assim, não só eu como o grupo inteiro, aproveitamos para descansar e nos sentir um pouco... normais.

Isto é, pudemos ter um momento de paz, cortando, por alguns minutos, os cabos que nos faziam temer o tempo inteiro desse que iniciamos a viagem e passando-o sem toda a pressão de ter que salvar o Olimpo de um deus psicopata e louco por poder.

No entanto o cabo, feito de aço e o mais resistente, que nos unia a missão ainda permanecia e sabíamos que a necessidade de encontrarmos as armas era séria e urgente.

Quando a motorista do ônibus nos chamou, avisando que havíamos chegado, nós nos levantamos. Maxwell quase precisou carregar Nathália, visto que a mesma havia cochilado durante o percurso praticamente encima dele. No fim, o filho de Hermes apenas precisou apoiar o corpo sonolento da minha irmã enquanto desciamos do ônibus.

— Obrigada! — agradeci à motorista acenando enquanto a mesma assentia para nós e seguia em frente.

— Bom… é aqui mesmo? — Elliot perguntou, duvidoso, enquanto observava a fachada do antiquário que ficava ali, no meio do nada.

A construção se tratava de uma casinha quadrada de dois andares e telhado inclinado. A pintura do exterior era de um tom verde-musgo e a fachada consistia em duas vitrines que estavam cada uma ao lado da porta também de vidro com uma moldura de madeira escura. O ambiente parecia tranquilo e podíamos ver pelas vitrines – que também exibiam artigos antigos – algumas estantes ao longo do espaço com esculturas e algumas cristaleiras que também estariam à venda.

— Parece calmo demais — Rafael franziu o cenho e olhou em volta. — Ainda mais porque é um comércio localizado em um lugar sem nada. Estranho.

— Eu achei aconchegante. E coisas antigas são legais, podemos até dar uma olhada — Marina sorriu, se esticando para ver algo mais ao fundo do antiquário.

A coruja, que até esse momento ficou quieta no galho de uma árvore logo ao lado da construção, voou para ficar encima do telhado do local e chirriou agudamente, me assustando.

— O que foi? — perguntei, confusa com a reação dela. A coruja bateu as asas, completamente inquieta, e continuou com o barulho.

— Acho que ela só quer chamar atenção — Maxwell torceu o nariz, não parecendo ter certeza do próprio pensamento. Muito menos eu.

Enquanto fitávamos a agitação da coruja a porta do antiquário se abriu, com um barulho de sino bem típico soando e nos fazendo descer o olhar rapidamente.

Uma velhinha de aspecto gentil com um vestido amarelo florido e um chale branco estava sob a soleira. Ela nos olhava com um sorriso surpreso de quem não esperava visitantes ou até mesmo fregueses. Seus cabelos, pretos porém cheios de fios brancos, estavam amarrados em um coque grande e bem apertado.

O mais interessante além da aparência amável e fofa dela eram os cheiros que invadiram nossos narizes assim que a porta foi aberta. Se tratavam do cheiro maravilhoso de brownies e biscoitos frescos, além de algo ali dentro ter um aroma semelhante ao de chocolate quente.

Minha barriga roncou e tenho certeza que não foi a única.

— Ora, olá crianças — saudou ela, numa voz doce e maternal que me lembrou imediatamente a minha avó. Sorri de volta, enternecida pela lembrança.

— Olá — inclinei a cabeça respeitosamente, a cumprimentando de volta. — Nos desculpe aparecer nesse estado, mas é que…

Hesitei. Eu não ia usar a desculpa de Maxwell sobre o circo embora tenha dado certo com a motorista do ônibus. Eu sentia que para aquela velhinha nós não poderíamos mentir.

Os Olhos da CorujaOnde histórias criam vida. Descubra agora