Já fazia quase meia hora desde que toda a situação com o Sr. Moore havia passado. Mackenzie tinha me arrastado para fora do colégio visto que aquela era a última aula do dia e os corredores já se encontravam completamente vazios. Isso explicava porque ninguém havia aparecido, pois os sons da briga estavam altos e deveriam ter chamado a atenção de qualquer um.
Agora, eu me encontrava sentada na calçada do outro lado da rua, encarando a estrutura do colégio, um colégio que devia ser normal, com uma expressão perturbada. Os carros passavam a todo momento em meu campo de visão, mas nada conseguia tirar meu foco.
Um professor havia morrido e eu estava aliviada por isso. Era horrível pensar assim, ainda mais se outra pessoa ouvisse a frase sem saber a história toda. Mas tenho certeza que me entenderia se eu dissesse que o tal professor estava sob a forma de um monstro canibal e prestes a me matar. Legítima defesa. E era nesse tipo de pensamento que eu tentava me confortar.
Suspirei, afastando finalmente meus olhos das janelas e da pintura desbotada do prédio. Encarei Mackenzie, o que foi um pouco estranho agora que eu sabia do tal parentesco "divino" que a mesma tinha. Assim como eu, supostamente, tinha.
Ela falava ao celular com alguém e eu tentava prestar atenção na conversa. Parecia que estava fazendo um relato do nosso problema anterior.
— ... e para terminar, ela deu um fim geral nele. Foi até legal, se consideramos que ela nunca recebeu treinamento. E, ah, eu sabia desde o início que aquele cara não era muito normal, só precisava de um deslize dele para comprovar. Meu faro sempre foi muito bom para essas coisas. — gabou-se ela, sorrindo de forma presunçosa ao colocar a mão livre na cintura. Seu rosto então mudou enquanto ouvia o outro lado da ligação, assumindo uma expressão séria. Ela apertou os lábios e franziu as sobrancelhas. — Hm... E como você está?... Eu falo sério, Matthew, você se machucou no último capture a bandeira e mesmo assim quis vir junto na missão. — ela revirou os olhos após ouvir mais uma vez. — Você é um cabeça oca, eu devia ter dito aos filhos de Apolo para te prenderem na maca da enfermaria... É, sei. Quíron não vai gostar de saber que você se arriscou mais do que devia... Ora, é claro que vou contar a ele!
Argh. Não adiantava tentar prestar atenção. As palavras até podiam estar claras, mas na minha audição as tornava embaralhadas. Talvez porque fizessem parte do que envolvia os tais semideuses, os deuses gregos e tudo o mais que eu ainda não entendia. Mackenzie havia prometido que me explicaria quando me levasse para casa.
Eu só esperava que conseguisse assimilar o que ela me contasse. Eu ainda achava ridículo e impossível a idéia de ser filha de algum deus grego, mas ao mesmo tempo sentia uma ponta da verdade me cutucando de forma insistente como se dissesse que ela estava, sim, ali. Eu tentava ignora-la e toda a loucura. O péssimo era que mesmo assim eu tinha um milhão de perguntas. Se Mackenzie conseguisse me dar respostas para pelo menos um terço delas eu já estaria feliz. Então eu tiraria a limpo a história com minha avó e resolveríamos as pendências de uma vez. Eu não queria mais segredos me envolvendo e esperava o máximo de sinceridade dela.
Ela realmente esconderia algo tão importante de mim por tanto tempo? Se um monstro não tivesse vindo atrás de mim e me obrigado a saber, ela ainda manteria isso oculto?
Pior. Será que, na realidade, minha mente estava tomada de insanidade e eu ansiava tanto por respostas que iria acreditar em algo tão bizarro?
— Certo, estamos te esperando na rua da escola... Ah, você está perto? Então até daqui a pouco. — novamente olhei para Mackenzie, ela agora me observava. Desligou o aparelho e o guardou no bolso da calça, suspirando. — Ele está vindo nos buscar, Nayelly.
— Quem era? — decidi perguntar quando ela não disse mais nada sobre.
— Um semideus também. Lembra que eu disse que haviam outros comigo? — eu assenti e ela continuou. — Bom, éramos um grupo de quatro, porém nos dividimos por acidente em Nova Iorque. No fim, restou apenas Matthew Evans, um filho de Hefesto, e eu. Nós seguimos as indicações e chegamos até aqui. — ela gesticulou ao redor. Ela poupou detalhes, os que eu mais queria saber por sinal, e mudou o rumo da conversa para o garoto que era seu parceiro na missão. — O fato é que Matthew estava esperando que eu o contatasse depois de acabar com o falso professor, mas ele não se manteve muito discreto. Foi atacado também. Ao que parece ele foi um pouco impulsivo e fez mais do que devia, então se machucou. De novo.

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Os Olhos da Coruja
AdventureNayelly não tinha muitas ambições para a própria vida. Morando com a avó e constantemente vivendo em meio à desencontros de si própria com o mundo que a rodeava, ela nem mesmo acreditava que algum dia se encaixaria nas expectativas mais banais de se...