Capítulo 20 - Medos

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— Quem empunhar a Lança dos Três Grandes para tentar deter Phobos é quem sofrerá a ruína mencionada na profecia. — foram as palavras tensas de Nayelly.

Alguns queixos caíram ao redor da semideusa.

Era uma situação que nunca chegaram a imaginar desde o início da missão. O tempo inteiro eles estavam cientes apenas de que iríam vencer graças à arma e que um deles acabaria, infelizmente, por representar uma baixa no grupo, isso se não houvessem outras ao longo do caminho perigoso pelo qual trilhavam.

Esperavam que a profecia não errasse naquilo.

Mas nunca pensaram que a pessoa que daria um fim aos planos maléficos de Phobos fosse a mesma que sofreria as duras consequências dessa vitória. Era uma injustiça que o destino, em sua forma personificada como um ser cruel, estivesse com isso perfeitamente anotado com uma caneta permanente em seu roteiro.

— Me diz que é mentira… — Marina murmurou, a expressão nervosa ao imaginar as diversas possibilidades. O futuro era realmente incerto, pois qualquer um deles podia ser aquele que se sacrificaria por todos.

Nayelly suspirou, se encolhendo como se quisesse sumir entre seus ombros.

— Eu queria poder dizer que é, Mari, mas… Rachel tem muita certeza da sequência de imagens que ela viu e todas se encaminham para um final assim. — disse ela, apertando os lábios em seguida ao perceber as expressões chocadas dos amigos. — Estão zangados comigo por eu ter escondido isso até agora?

Muitos olhos se desviaram com sua pergunta, mas não pela irritação que a filha de Atena esperava. Eles estavam aflitos.

— Não, Nay… — Rafael garantiu, falando de forma hesitante por não saber se a confirmação era unânime. — Mas isso modifica um pouco as coisas… O plano de ataque por exemplo. Estávamos pensando que seria fácil…

— Exato — Nathália assentiu uma vez, passando a mão pela testa. — Como vamos nos concentrar caso o embate final com o deus seja realmente inevitável? Teremos que nos preocupar em não morrer e ao mesmo tempo em quem…

Ela parou e não terminou a frase, deixando-a no ar. Contudo, suas palavras se tornaram ambíguas sem necessidade de prosseguimento. Com muita facilidade podiam ser interpretadas como "Quem vai empunhar a lança" ou "Quem vai morrer".

O único ponto era que o grupo não tinha ideia do quê a palavra "arruinar", mencionada na profecia significava de verdade por haver muitos sentidos. Morte era a pior das hipóteses e eles esperavam que a situação não chegasse à isso.

— Se eu não confiasse que profecias são tão soldadas e fixas, adoraria dizer que vamos mudar isso e que nenhum de nós vai se machucar — os olhos de Elliot dispararam para cada rosto enquanto ele falava, demorando-se, sem perceber, em dois especificamente. Rafael e Nayelly.

Marina moveu as mãos, inquieta e desconfortável.

— Nós temos mesmo que falar sobre isso agora? Não gosto de pensar no quê um de nós vai ter que fazer…

— Bom, temos que falar sobre isso em algum momento, Mari — Nathália cruzou os braços. Apesar de suas palavras firmes, ela estava visivelmente preocupada. O cenário em sua mente era de uma batalha letal contra um deus em cólera e semideuses que mudaram de lado. Na imagem, Nathália imaginou como o grupo ficaria dividido quando chegasse a hora. Quem seria capaz de largar tudo para enfrentar o triste final, independente de qual fosse?

— Ótimo evento… Vamos todos sentar, tomar um chá e conversar sobre quem vai sofrer no fim. — Maxwell murmurou, mas apesar de ser claramente uma piada não havia sorriso em seu rosto e muito menos o tom zombeteiro e sarcástico de sempre. Ele estava muito sério. O humor tinha se esvaído.

Os Olhos da CorujaOnde histórias criam vida. Descubra agora