• Narração
Era raro casas serem construídas dentro da floresta por ali, mas ainda assim existiam. A maioria era utilizada com algum tipo de propósito relacionado ao veraneio enquanto outras serviam de moradia para pessoas que detestavam a cidade.
Uma casa em específico, esta que estava absurdamente embrenhada na mata, havia sido abandonada há muito tempo. Se tratava de um sobrado antigo que, em outra época deveria ter sido um lindo imóvel. Agora nada mais era do que uma construção em frangalhos, com a pintura branca descascada, uma varanda cujos degraus de acesso estavam destruídos, fora as hastes de sustenção da grade ao telhado que pareciam tão frágeis que um sopro poderia derrubá-las. Alguns vidros da janela estavam quebrados, outros embaçados pela poeira que se acumulava por toda parte junto às teias de aranha.
Cortinas rasgadas e amareladas pelo tempo pesavam do lado de dentro da casa. A maioria dos móveis estavam cobertos por camadas grossas de poeira e um ou outro tinham lençóis jogados por cima na tentativa de protegê-los. A sala era antiquada. Um lustre com lâmpadas queimadas no formato de gotas servia de casa para uma porção de aranhas. Mesas e cadeiras e sofás com design antigo que pareciam antiguidades estavam cobertos pelos lençóis. A lareira no canto mais distante da sala estava frequentemente úmida e fedia a madeira podre, assim como o chão nem um pouco seguro que a qualquer momento poderia afundar sob os pés de qualquer um.
Mas Mackenzie sabia andar por ali.
A semideusa desceu as escadas cautelosamente, evitando as madeiras que mais rangiam quando apoiava o pé apenas para testar. Com uma careta, ela saltou um degrau que parecia perigoso e aterrissou no chão da sala.
— Ugh. Não aguento mais essa podridão — Resmungou enquanto caminhava para perto das janelas, tomando cuidado para não esbarrar nos entulhos que a sala acumulava pelo chão. Livros, caixas velhas com objetos estranhos e materiais esquisitos que deveriam estar em uma sala de tortura.
A garota encarou através do vidro embaçado da janela, com certo alívio, a chuva noturna que diminuía aos poucos. Já não era sem tempo. Ela estava louca para sair daquela casa imunda.
Suspirou, indo até a porta.
— Aonde vai? — Uns voz perguntou, cautelosamente curiosa, atrás dela. Mackenzie deu um salto, largando a maçaneta como se tivesse tomado um choque. Ela girou nos calcanhares, surpresa, e encontrou a figura de Phobos misturada às sombras, a encarando do meio da sala escura.
— Mas que droga, não assuste as pessoas assim! — Ela reclamou, pondo a mão no peito, logo acima do coração acelerado.
Phobos riu de forma nada divertida.
— Mas é o que eu faço de melhor, querida — respondeu ele, se aproximando alguns passos. Ele suspirou, desviando seus olhos para a janela assim como ela tinha feito. A presença da noite o deixava incomodado. O tempo estava passando muito devagar. — Foi um dia bem produtivo…
— Nunca sei quando você está sendo irônico — Mackenzie murmurou, dando de ombros. O dia para ela na verdade tinha sido um fiasco e um desperdício de tempo. — Você perdeu o colar que supostamente só funciona na filha de Atena famosinha do momento e ainda por cima perdeu ela e seu novo garoto prodígio de vista. Me diga como isso pode ter sido produtivo?
Phobos ficou em um silêncio perturbador por um momento, mas logo encarou a ruiva.
— Essas coisas não passam de infortúnios insignificantes. Acredite, meu… garoto prodígio, como você mesma disse, vai cuidar de tudo por mim muito em breve — um sorriso sinistro que fez Mackenzie sentir um arrepio involuntário. O deus se virou para a lareira apagada, admirando-a como se visse algo estupendo através do cheiro de morte e da escuridão. — Não terei que fazer nada.
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Os Olhos da Coruja
MaceraNayelly não tinha muitas ambições para a própria vida. Morando com a avó e constantemente vivendo em meio à desencontros de si própria com o mundo que a rodeava, ela nem mesmo acreditava que algum dia se encaixaria nas expectativas mais banais de se...