Alguns minutos depois da minha descoberta minha avó nos levou para dentro do prédio. Passamos pelo elevador e fomos até o apartamento. Nenhum de nós disse nada em momento algum, mas não era um silêncio ruim ou que representasse um mau presságio. Era conveniente, apenas.
Agora estávamos todos sentados na sala de estar, insistindo que eu ficaria em pé, agitada demais para ficar sentada, e deixaria que Matthew e Mackenzie ocupassem o sofá e minha avó a poltrona.
Depois de oferecer o que podia para os dois convidados – e Mackenzie aceitar um punhado de biscoitos – minha avó se sentou na poltrona, olhando para nós três antes de falar.
— Certo. Agora, preciso saber o que vai acontecer com a minha neta. — disse ela, unindo as mãos e fazendo surgir aquela ruguinha de preocupação em sua testa.
Olhei na direção dos outros dois na sala, também esperando por uma resposta. Tudo que eu sabia até agora era de um acampamento.
— A senhora sabe que, devido as circunstâncias, aqui não é um bom lugar para um semideus ficar, não sabe? — Matthew perguntou, pensando um pouco antes de continuar. — Existe um, bem melhor, para pessoas como nós. Iremos levar Nayelly para lá e ela estará segura.
Mary assentiu devagar, lançando um rápido olhar em minha direção antes de se voltar para o rapaz.
— Como é lá?
— O acampamento Meio-Sangue? Podia ser melhor. Quer dizer, o Sr. D é um pouco mão de vaca, mas até ele sabe que uma reforma seria ótima lá. — Mackenzie, que até então se ocupava de comer, soltou de repente, respondendo minha avó. — Mas em matéria de relações e da função principal do local, que é basicamente treinar os semideuses, até que vai tudo bem. E parece que os deuses estão, digamos, tentando fazer um controle populacional de semideuses porque o número de recém chegados diminuiu bastante. Minha teoria é de que, ou a maioria morreu no caminho para o acampamento, ou os deuses não andam brincando de mamãe e papai com muita frequência de uns tempos para cá.
Mackenzie deve ter percebido como minha avó deixou seu olhar arregalado, assustada com a parte que citou morte, pois a ruiva tossiu e pigarreou enfiando outro biscoito na boca rapidamente.
— O risco é assim tão grande? Vocês podem morrer a caminho de lá? — perguntou ela, pondo a mão sobre o peito, levando os olhos para mim novamente. Eu quase podia ler a negação à viagem ali. Ai, lá se vai minha chance de descobrir mais sobre minha outra metade.
— Não. — eu tentei, mas Matthew respondeu junto comigo, me contrariando.
— Sim.
O olhei, minha cabeça pendendo para o lado ao fazer isso. Movi meus lábios, esperando que ele entendesse a frase "Me ajuda" através deles. O rapaz negou com a cabeça.
— Não vamos mentir assim, você mesma viu hoje, lutando com aquele Ghoul, que é perigoso. — ele disse, mas não prestei mais atenção quando ouvi um arfar de choque.
— Você lutou com um monstro?! — minha avó se levantou da poltrona, se aproximando de mim para me segurar pelos ombros. Gemi, frustrada, olhando para Matthew novamente.
Ele se limitou a fazer uma expressão arrependida, encolhendo os ombros, como quem se desculpa.
Mackenzie o cutucou com o cotovelo, rindo na cara dele que agora fazia uma careta para a garota.
— Parece que eu não sou a única falando demais aqui, hein?
Suspirei e me voltei para minha avó. Eu precisava dar um jeito de faze-la confiar em mim ou meu futuro seria morrer por um monstro, como teria sido hoje.
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Os Olhos da Coruja
AventuraNayelly não tinha muitas ambições para a própria vida. Morando com a avó e constantemente vivendo em meio à desencontros de si própria com o mundo que a rodeava, ela nem mesmo acreditava que algum dia se encaixaria nas expectativas mais banais de se...