Os olhos semicerrados de Nathália encaravam Maxwell, parado sob o marco horizontal da porta com as mãos atrás das costas, o cabelo bagunçado e úmido de algum banho recente que ele devia ter tomado, os olhos brilhantes e a expressão como a de uma criança esperando pela bronca que ela sabia que viria.
A garota tinha pego o semideus entrando sorrateiramente no quarto, silencioso como uma sombra, e a cara de pau dele ao ser descoberto, como se não estivesse fazendo nada demais, era totalmente absurda. Absurda até para ele!
Nathália ajeitou o travesseiro atrás das costas ao ficar sentada, afastando as cobertas de cima de si própria e encarou Maxwell com a sobrancelha arqueada.
— Vou esperar que você tenha vindo me dar notícias sobre aquela coisa da cigana, caso contrário...
O filho de Hermes deu uma risadinha e se balançou nos calcanhares, relaxado. Nathália ficava engraçada desconfiada.
E linda, claro.
— Vou ser sincero — ele começou, recebendo mais ceticismo da garota, coisa hilariante que o fez querer rir de novo. Conquanto, procurou evitar, dando de ombros. — Entrei só para te ver mesmo.
Nathália mordeu o lábio inferior, o cenho se franzindo. Ela negou com a cabeça.
— E essa confiança repentina? Antigamente você teria medo de que eu pudesse amassar sua cabeça com a primeira coisa que eu visse na minha frente.
— A primeira coisa na sua frente é uma almofada — Um sorriso arteiro e pretensioso. — Acho que posso lidar com isso, baixinha.
Foi a primeira vez que Nathália não se incomodou com o apelido. Na verdade, até mesmo a fez rir graças à junção de palavras. Como se Maxwell não soubesse que ela poderia facilmente sufocá-lo com aquele travesseiro se os tempos fossem como antes.
Mas agora não eram. Nathália suspirou, lembrando-se o porquê disso.
— Certo — ela tentou fugir dos próprios pensamentos, passando as mãos por entre os cachos. — Você veio me ver. Por que?
Maxwell finalmente saiu de perto da porta e casualmente fechou-a, mal parecendo pensar ao fazê-lo. Uma sensação estranha deu um nó no estômago de Nathália, repentina, e ela se ajeitou na cama, atenta. O semideus se virou para ela, o rosto com ares de inocência que nem mesmo eram propositais conforme caminhava até a mesma. Ele analisou Nathália com cuidado, percebendo meio tarde que ela estava decididamente mais confortável do que antes. A filha de Atena vestia uma camisa grande e preta por cima de um short de algodão e os cabelos cacheados caíam em uma volumosa cascata ao redor de seu rostinho bonito, porém cansado.
Maxwell sorriu, mas respirou fundo a seguir. Concentração, Max, não deixe essa abençoada por Afrodite atacar você com todo esse charme...
— Você disse que estava com dor de cabeça, então vim ver se estava bem — finalmente disse. — Pelo jeito não conseguiu dormir...
Sua última frase, ao invés de ter aquele tom habitual de sempre, característico de Maxwell Lawrence, soou preocupada em mescla com o olhar solidário que ele direcionou para a semideusa. Nathália acabou sorrindo suavemente.
Ela precisava admitir que adorava o Maxwell preocupado.
— Estou melhor agora — garantiu ao rapaz, falando sobre a dor de cabeça anterior. — O remédio caseiro que o Rafael me deu funcionou melhor que um Tylenol. Eu deveria pedir para ele montar um kit para mim qualquer dia desses, ele é mais confiável do que qualquer farmacêutico aleatório — Maxwell respondeu a isso com uma risadinha baixa, mas Nathália não o acompanhou apesar de ter sorrido. Ao invés disso, a expressão dela se fechou aos poucos e ela abaixou o olhar para as mãos no colo. — E... Eu não consigo dormir preocupada com eles, Max.
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Os Olhos da Coruja
AdventureNayelly não tinha muitas ambições para a própria vida. Morando com a avó e constantemente vivendo em meio à desencontros de si própria com o mundo que a rodeava, ela nem mesmo acreditava que algum dia se encaixaria nas expectativas mais banais de se...