Naquela noite, depois que retornamos ao chalé e o sono chegou para a maioria dos semideuses, inclusive para mim, eu tive um sonho.
Mackenzie, Matthew e eu estávamos em um cenário mal iluminado. Tudo em volta parecia com o acampamento, mas eu não via as construções habituais para ter certeza disso.
As vozes no sonho estavam abafadas e não muito claras, mas eu podia ter certeza de que Mackenzie e Matt estavam discutindo.
"Gente, o que vocês…", comecei a perguntar, confusa por vê-los brigando, mas fui interrompida quando a cena subitamente se distorceu, lançando uma porção de escuridão em minha visão.
Percebi que era como se fosse uma transição desvanecida para outro momento, pois, assim que meus olhos se acostumaram ao ambiente turvo do sonho, a cena seguinte me chocou.
Mackenzie tinha uma espada ensanguentada em mãos, sua expressão era fria e me causava um arrepio gélido na espinha. Matthew estava deitado aos seus pés, seu rosto denunciando dor e suas mãos comprimindo um ferimento por onde vi muito sangue escapar.
Despertei do sonho logo após Mackenzie virar seu rosto para mim, com um olhar duro. Um olhar que poderia muito bem significar que eu seria a próxima…
Cansada, solto um suspiro profundo. Nesse momento eu estou sentada no Anfiteatro me esforçando para ficar acordada. O sonho estranho pareceu sugar todas as minhas energias e continuar pensando nele tornava minha noite mal dormida ainda mais crítica.
Mas era difícil não pensar.
Desde o momento que acordei, no café da manhã e até agora apenas me movi robóticamente não conseguindo prestar atenção em muita coisa à minha volta. Marina e Nathália, inclusive, chamaram minha atenção algumas vezes quando não ouvi o que elas estavam dizendo.
Minhas irmãs até mesmo perguntaram o que havia de errado, mas eu preferi não dizer nada sobre o sonho alegando que não havia dormido muito bem. Afinal, era só um sonho, certo?
— Eu não devia me surpreender em ver uma filha de Atena pensativa, porém a sua expressão parece dizer que as ideias não são lá muito boas.
Ergui a cabeça, surpresa. Elliot subia pelos últimos bancos da arquibancada até mim, sorrindo fracamente.
— Ah, é… oi. — cumprimentei, um pouco lenta. Ele sentou ao meu lado. — Não tinha te visto, desculpa.
Elliot deu de ombros, levando seu olhar para o palco desmontável a frente.
— Não tem problema. É que eu te vi aqui e quis saber o que estava te deixando tão distraída…
Mordi o lábio, hesitando. Eu não acho que deva simplesmente compartilhar o meu problema com o sonho dessa noite. Falar com alguém o tornaria menos real, claro, mas e quanto as pessoas envolvidas? Se chegar até elas pode gerar alguma situação bem ruim e é tudo que eu não quero.
Sendo assim, mudei rapidamente o assunto.
— Como está seu irmão? — eu quis saber virando-me de frente para ele.
Elliot respirou fundo, percebendo que eu não ia falar nada sobre sua pergunta. Ele se virou para mim, resolvendo engajar no assunto que eu havia proposto.
— Ele está bem, imagino. Não fui eu que cuidei dele essa manhã.
— Ah. — franzi o cenho. — Achei que seria você também. É que, sabe, para mim vocês dois são bem próximos.
Em resposta, Elliot negou com a cabeça. Aguardei, meio confusa, esperando por mais explicações.
— Não temos uma relação muito boa para falar a verdade. Claro que nós não nos odiamos, temos uma certa empatia um pelo outro devido o laço de irmandade que nos liga, mas também não adoramos ficar perto. — disse ele, abaixando o rosto para encarar as próprias mãos.

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Os Olhos da Coruja
AvventuraNayelly não tinha muitas ambições para a própria vida. Morando com a avó e constantemente vivendo em meio à desencontros de si própria com o mundo que a rodeava, ela nem mesmo acreditava que algum dia se encaixaria nas expectativas mais banais de se...