Capítulo 19 - 26 dias de contágio

145 16 8
                                    


Tom on

Recosto a cabeça no batente de madeira e respiro fundo. A porra de um dia inteiro havia se passado e eles permaneciam parados da mesma forma a 24 horas, como se estivessem a esperar nossas cabeças surtarem e preferirem a morte ao invés dessa tortura.

Michael e Raquele subiram ao porão depois de duas horas da chegada deles e ambos se encontravam do outro lado do porão como uma espécie de birra de criança. "Quem realmente pensa em orgulho prestes a morrer ?"  o questionamento ecoava a horas por minha mente. Apenas uma coisa me acalmava, o doce anjo recostado em meu peito a dormir.

Seus olhos se encontravam um pouco avermelhados por fora e sei que foi pelo seu choro silencioso durante horas, eu faria qualquer coisa para protegê-la, mas por instantes minha mente pensou na hipótese de poder salvar apenas um daqui. Meu peito se apertou, eu não poderia fazer essa escolha, me pergunto em qual momento me deixei decair tanto ao ponto de preferir defender Michael e Gaia ao invés de eu mesmo.

Recosto o corpo da morena delicadamente em uma toalha ao chão e engatinho até a beira da janela. Um deles se encontrava deitado no capô do carro a assobiar, dois escorados em cada porta do carro e o último sentado na areia a desenhar no chão.

- Eles estão esperando o momento certo para entrar e nos matar - Michael chega a beirada pela primeira vez - Não - meu tom de voz sai até mais seco do que o esperado - Eles estão esperando o momento em que nós mesmo iremos preferir morrer - Michael engole em seco e se aproxima ainda mais, permitindo a visão de todos eles. Seus olhos percorrem por cada um até chegar no loiro deitado e sua expressão esmorecer.

- O que foi cara ? - Pergunto ao colocar uma das mãos em suas costas - A Gaia já viu eles ? - seu rosto parecia muito mais branco do que já é - Não, por quê? - levanto a sobrancelha ao questionar seu tom de voz - Ela não pode chegar aqui - sua respiração acelera - A gente tem que tirar ela daqui agora.

- Todos temos que sair daqui - sento no escuro longe do campo de visão das pessoas fora da casa - Você não está entendendo, Tom - meu nome sai de sua boca pela primeira vez em dias - Precisamos tirar ela daqui agora - seu olhar transborda medo.

- Você pode me explicar o que está acontecendo aqui ? - olho no mais fundo dos seus olhos.

* Quatro anos antes do contágio

- Eu tinha apenas uma chance de ganhar a bolsa de estudos e você tira a porra da minha oportunidade? - mais um soco é depositado no moreno- Você tinha que ser o astro da noite? Porra você está no primeiro ano cara.

- João, foi só um jogo - Michael gospe sangue ao falar - O JOGO DA MINHA VIDA - outro soco é depositado no moreno - Você me tirou o que mais importava - seus dedos percorrem o rosto ensanguentado de Michael e o mesmo sente o aperto de seus amigos idiotas a apertar mais seus braços- Eu vou tirar o mesmo de ti - o loiro se inclina ficando a frente do rosto magro - Eu vou foder a tua mulher - Michael se debate ao chão de uma forma inútil devido ao aperto dos dois garotos - Será que ela gosta de loiros ? - sua risada é diabética - Marques vasculha esse parque inteiro e só volta quando souber onde a namoradinha dele está- sua voz é firme ao falar para um garoto franzino que mais parecia uma criança.

- Teu problema é comigo, resolve comigo porra - Michael grita e se pergunta o motivo de ninguém vir ajudá-lo quando estão na porra de um parque de diversões- Me espanca até que eu morra, faz isso comigo, mas deixa minha mulher fora disso, eu imploro - sua voz é fraca pela culpa em seu peito - Eu vou acabar com sua vida, cara - o loiro fala ao andar na direção  que o franzino estava abanando.

********

- Foi ele - suas mãos vão a sua cabeça apertando seus cabelos - Ele que abusou da Gaia.

A frase ecoa em minha mente como o caralho de uma caixa de som, meus olhos percorrem cada centímetro de seu corpo. Eu podia sentir o ódio escorrer por cada veia, dominando cada partícula do meu sangue.

- Você sempre soube quem foi e nunca fez nada, Michael ? - a frase ecoa pelo porão e vejo Raquele olhar para nossa direção pela primeira vez- Ela não deixou cara - sua voz é fraca, ele é fraco, porra, como ele é fraco - Ela era sua mulher, seu único dever era protegê-la - inclino-me em sua direção pouco me fudendo se iam ver lá embaixo - E quando não conseguiu, a porra do seu único dever era matar o cara que fez isso - as palavras rolam por meus lábios.

- Quando eu descer lá, você vai levar as duas para o mais longe que poder - olho no fundo de seus olhos - Eu preciso que você corra, que você faça elas correrem

- Eu não vou te deixar, irmão.

- É sua ultima chance de protegê-la, Michael - sorrio sincero- Eu não posso te deixar - ele me abraça fazendo meu corpo se acalmar por segundos- Eu não estou te dando escolha - dou tapinhas em suas costas e vejo o mesmo ir em direção a Raquele para avisa-la.

Minutos são passados até ouvir sua voz - Vocês são idiotas ? - seu berro me faz virar a cabeça - Você é idiota ? - seu olhar se encontra ao meu e quase sorrio por ver seu rosto inchado e marcado pelo sono - Você acha divertido a ideia de morrer, Thomas ? - seus passos são firmes até meu encontro.

- Para de tentar se matar - sua voz sai fraca ao se aproximar da janela e ver quem estava lá embaixo - Você tem que sair daqui - sorrio fraco ao ver todo o brilho existente de seus olhos sumirem - Você vai matá-lo ? - seus olhos encontram os meus novamente e não sinto dor, sinto raiva, tanta raiva - Por você, óbvio- coloco uma das mãos em seu rosto e sinto ela jogar o peso da cabeça- E se você não conseguir alcançar a gente? E se você não conseguir nos achar ? - Sua voz é delicada e me aproximo de seu ouvido sussurrando- Eu vou te achar não importa aonde esteja, Wind.

- Lembra quando eu disse que precisava que fizesse o que eu mandasse ? - sua cabeça concorda em sim - Eu preciso que corra, meu amor.

Um doce beijo é depositado em meus lábios antes que possa perder seu corpo de vista.

DILÚVIO • tom •Onde histórias criam vida. Descubra agora