Capítulo 28 - 42 dias de contágio

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- Isso é uma piada, Gaia - sua voz é eufórica - Ninguém perguntou se eu queria morrer por ninguém - suas mãos balançavam sem parar - Eles não ligam se queremos ou não - minha voz sai calma, na tentativa de o acalmar.

- Você ta brincando comigo, né? - sua voz saia em uma gargalhada - Isso é um humor duvidoso até para mim - balanço a cabeça em negação e vejo seu semblante cair - Quanto tempo temos? - sua voz sai fria junto com seu corpo que parou ereto enfrente a lareira - Eles já estavam prontos para dispara-lo - minha voz sai cortada pelas lágrimas.

- QUE PORRA, CARALHO QUE PORRA - seus gritos são assustadores e me encolho no sofá - FILHOS DA PUTA, CARALHOOOOOO - seu corpo vai ao chão e o berro me arrepia, mas não pelo quanto ele é alto e sim pela dor que saiu com ele, uma dor tão visível que por instantes achei que era palpável

Pela primeira vez desde que nos conhecemos eu sentia que Tom não tinha controle sobre nenhuma de suas emoções, que nenhuma delas revelavam quem ele era, só revelavam o medo que ele estava a sentir me abaixo junto ao seu corpo podendo sentir seu calor.

- Thomas - minhas mãos vão uma a cada lado do seu rosto - Presta atenção em mim - ergo seu rosto para que possa olhar em seus olhos e pela primeira vez o vejo chorar - Eu nunca tive medo da morte - respiro fundo - Até o conhecer - uma pequena lágrima fica presa em meus olhos - Eu preciso que você me proteja, lembra?

- Você irá morrer, eu falhei na única coisa que deveria fazer - as lágrimas em seu rosto escorrem - Eu preciso que me proteja do medo - aperto seu rosto - Eu preciso que me abrace e diga que não vai doer, eu preciso que me faça acreditar que não irei sentir cada parte do meu corpo queimar - puxo o ar junto as lágrimas - Eu preciso que o calor do seu corpo seja a última coisa que sinta, senão me resta mais tempo, eu quero passar os últimos segundos me sentindo segura. Como você me fez sentir desde o primeiro dia.

- Eu tenho tanto, mas tanto a viver, amor - sua voz é manhosa - Eu sei - o puxo para meu colo - Eu sei, meu Thomas- o abraço - Eu te protegi? - sua voz sai calma novamente - Como ninguém havia feito - sorrio e sinto um levo sorriso sair de seus lábios - Eu prometi ao meu pai que iria proteger a mulher da minha vida de todos os males - sorrio ao ser comparada ao adjetivo - Eu achei que tinha falhado miseravelmente com a última, até entender que não era ela e se um dia pudesse vir a ser, ela deveria ser protegida de mim - suas mãos tocam meu rosto - Mas você, você Gaia, não me fez duvidar por nenhum segundo - as lágrimas em seu rosto param e sei que o mesmo está recuperando o controle sob suas emoções - Ao seu lado eu me senti mais homem do que jamais me senti em toda vida. Então faz sentido que meu último adeus seja dado a ti, somente a ti.

De todos os adeus que não pude dar, pensar em perde-lo foi o mais avassalador. Nada em toda minha vida era igual, eu não tinha mais ninguém do meu passado, eu não tinha mais ninguém. Eu não pude me despedir verdadeiramente de nenhum deles, se eu ao mínimo soubesse, o último beijo que dei em minha mãe seria tão mais demorado. Eu teria segurado em sua mão e dito o quanto a amei, do meu primeiro segundo de vida ao último.

Eu correia a casa do meu avô e o abraçaria tão forte, as palavras nem seriam capazes de sair de meus lábios, pois eu só gostaria de o tocar, de senti-lo pela última vez. Eu discutiria pela última vez com a Raquele e iria querer mata-la por alguém ainda ser tão ignorante assim.

Eu tocaria os lábios de Michael, uma última vez, apenas para sentir seu toque, apenas para naquele instantes lembrar de tudo de mais bonito que vivemos, para que nossas últimas lembranças um do outro não seja nada além do amor.

Eu me perdoaria por todas as vezes em que fui tão dura comigo mesma, em todas as vezes que me machuquei por medo, por vergonha, por falta de coragem. Mas eu me alegraria por cada momento que tive a oportunidade de viver, por cada minuto que me foi dado, eu só gostaria de ter o aproveitado melhor. Eu gostaria de ter mais tempo, eu gostaria de voltar a vida novamente e vive-la até me esbarrar com Thomas novamente.

Então se me fosse permitido orar pela primeira vez na vida, meu Deus, me deixe encontra-lo novamente.

- De todas as formas que imaginei morrer, em seus braços seria a melhor delas - sorrio ao sentir seu corpo me puxar para seu colo, seus braços me envolvem enquanto ele se ajeita até se recostar na parede - Você, Thomas será o último sopro do meu ser, a última pintura que meus olhos irão contemplar - sinto uma resistente lágrima sua a cair em minha bochecha.

- Eu poderia andar por todos os mundos, vasculhar todos os cantos desse planeta e o de todas as realidades possíveis. E nunca, nunca Gaia, sentiria um amor tão lindo quanto ao que sinto por ti - seus lábios tocam em minha testa depositando um delicado beijo, porém completamente molhado por suas lágrimas.

Era visível o medo percorrendo o corpo do moreno a cada vez que seus braços me apertavam ainda mais forte - Foi uma dádiva partilhar os meus últimos dias ao seu lado. Eu só gostaria que tivesse sido minha vida inteira- sua voz é calma.

Foi nesse instante que o medo e desespero invadiram meu corpo.

- Eu não que ir, Thomas - uma última lágrima desce pelo seu rosto - Eu também não, minha querida - olho no mais profundo de seus olhos e foi como se nossas almas se encontrassem e prometessem naquele instante sempre estarem destinadas uma a outra. Acabo por sorrir, não existe outro lugar que queira terminar - Eu te amo, Gaia Wind - ele deposita seu último beijo em meus lábios - Eu também te amo, Thomas Holland - sorrio sinceramente.   

Eu gostaria de ter tido mais tempo, eu gostaria de ter tido mais minutos, mas a dádiva que me foi dada de encontrar o verdadeiro amor depois de ser tão machucada pela vida compensava a falta tempo. Não houve dor, não houve sofrimento, só houve de repente o fim. A morte é tranquila, como o início de um sono profundo, como temer adormecer lentamente ?
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Obrigada por toda a jornada, obrigada por lerem minha história, obrigada por estarem presente. Espero que tenham amado ler dilúvio , tanto quanto eu amei escrever.

DILÚVIO • tom •Onde histórias criam vida. Descubra agora