Capítulo 3 - 16 horas de contágio

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Dor sensação penosa, desagradável, produzida pela excitação de terminações nervosas sensíveis. Uma explicação teórica, mas sabe a prática? Dor é o vazio no seu peito, é a escuridão que você quase consegue enxergar. Não existe um dia da minha vida que pelo menos por um instante das horas eu não consiga enxergar a escuridão tomando todo o meu coração.

Eu sabia que não deveria ter saído essa noite, eu sabia assim que ela apareceu em minha janela que do outro lado do quarto lá estava a sombra esperando para tomar todo o meu peito a qualquer momento.

- Temos que voltar - Raquele gritava sem parar e levo as mãos aos meus ouvidos tentando diminuir o eco que isso causava em minha cabeça dolorida pela bebida - Não podemos voltar, eles estão se matando lá embaixo - a voz de Michael é repleta de tristeza e minha mente volta a trinta minutos atrás.

...

- Ontem a noite foi louco - a ruiva ri ao levar um pouco da água aos seus lábios - Eu só lembro de flash - minto, eu lembrava de tudo, de todas as goladas de cerveja, todas as tragadas, todas as balas, todas os movimentos em michael e principalmente todos os olhares de Tom. Mas nos duas sabíamos que o melhor a se fazer depois de nossas noites de loucura era fingir que o efeito era repleto da droga e nenhum daqueles desejos se alimentavam quando estávamos sóbrios.

-Bom dia minhas princesas - a voz grave do moreno se estende pela cozinha e ele sorri ao dar um beijo na testa de cada uma. Eu nunca entendi como Raquele lidava com isso, sóbria Michael era o amor de sua vida, drogada, seu maior desejo era nos dois. E sempre terminava assim, os três se amando de formas que ninguém nunca entenderia - Sabe que perdemos a prova, ne? - ela sorri e da um longo Beijo em seu amado.

Passo a mão pelos cabelos e respiro fundo, essa sem dúvida era a pior parte, sóbrios eu era nada, quando a horas era a musa de ambos. Por muito tempo pensei em deixar isso de lado, tentar achar alguém que ame todas as minhas partes desde Gaia a deusa a Wind minha melhor parte, mas a menos exalada.

- Iremos reprovar do mesmo meu amor - ele brinca ao ligar a tv acomodada no mármore da cozinha - Vocês irão, eu não - gargalho ao levar um louco de cereal a boca - E é por isso que te odeio - a ruiva sorrir ao levantar sua faca com pasta de amendoim.

-Quietas - a voz de Michael é grave - Já disse que odeio quando me manda ca - antes que Raquele possa terminar ele a interrompe aumentando o volume da TV  e nossa atenção é voltada para mesma.

"Atenção isso não é um treinamento, permaneção em suas casas, tranquem todas as saídas e entradas. Seu vizinho não é mais seu vizinho, seu amigo não é mais seu amigo, ao mínimo sinal de infecção saia de locais com aglomerações"

Respiro o máximo que posso na fula tentativa de não vomitar todo o meu cereal ao ver as imagens de câmeras de segurança.

"Todas as rodovias e passagens que levam a West foram fechadas pela guarda nacional. Um próximo comunidade será anunciado em breve"

Meus olhos percorriam cada cena, cada carro em chamas, cada pessoa baleada, cada partes humanas espalhadas pelo chão. Os olhos vermelhos de todos os assassinos me causa repulsa, de que infecção ele estava falando? Que tipo de doença faria os seres humanos se matarem tão cruelmente?

...

- Nossas famílias estão lá embaixo - os gritos de Raquele me trazem de volta para a realidade - Se as coisas que estão aparecendo ali forem verdade, nem sabemos se ainda estão lá - era a primeira vez que ouvia sua voz hoje e juro que queria que fosse a última.

- Você tem família lá embaixo, Tom ? - e agora é a primeira vez que ouço minha voz depois de horas - Porque pelo o que saiba sua família está do outro lado do mundo, com a porra de uma mesa cheia de comida, tomando a porra de um chá - levanto o rosto olhando em sua direção - A minha tá lá embaixo, viva ou morta, está lá embaixo - me levanto e sinto todo meu sangue percorrer  o corpo rapidamente até minha cabeça me trazendo sensações de desmaio - Então se você abrir a porra dessa boca novamente para dizer qualquer coisa de util, lembre que você não tem uma voz a todo instante em sua mente gritando que eles estão mortos - solto todas as palavras como todo o enjôo que queria liberar.

- Eu não quis dizer isso, Gaia - sua voz é suave ao se levantar e tentar caminhar ao meu encontro - Quis dizer o que ? - me exalto - Quis dizer exatamente isso? Não quis ? - grito.

- Com toda a sinceridade do mundo eu não quis dizer isso - ele tenta se aproximar novamente mais recuo - Eu só não acho que devemos descer e correr o risco de morrer também - "também" o também me atingiu como todas aquelas balas que vi serem disparadas pela tv - Também? - sorrio fraca - Você acha que todos eles estão mortos e sua vida vale mais ? - grito - Eu pouco me fodo se sua família já o deseja morto mesmo, mas a minha não.

- Gaia - Michael grita tentando me chamar a atenção pela frase estúpida dita, mas não há como voltar, uma palavra dita nunca pode ser revertida e nesse instante não me importo de jogar em sua cara uma história que ouvi a anos atrás - Olha sua mimada do caralho - seu corpo se apróxima mais e encosto na parede ao tentar recuar - Eu não me importo se metade daquele cidade alimenta essa boato de merda, mas você não tem o direito de jogar isso na minha cara simplesmente porque está bravinha - seu corpo se aproxima do meu o suficiente para seu peito bater no meio e ver seu rosto vermelho de ódio - Se afasta - minha voz sai fraca - Diz o que quer e não encara ouvir o que não quer ? - Sua voz é tão grave e furiosa - Se afasta - puxo o máximo de ar do meu pulmão.

- Tom, se afasta - Michael me conhecia o suficiente para saber o que estava para acontecer - Vocês agem como se ela fosse a porra de uma boneca de porcelana? - Tom grita e por instantes meus olhos percorrem a sala, Raquele a chorar compulsivamente no sofá, Michael a tentar se aproximar lentamente - Tom, confia em mim, cara. Só se afasta - ouço sua voz tão distante.

- Ela não é de porcelana caralho, olha - Sua mão toca no meu braço e sinto a sombra a aparecer no canto da sala e tudo vai ficando lento, como uma música torturante, lenta e triste, uma sinfonia sem nenhuma melodia Feliz.

O ar nem sequer já existe, gritos e toques é tudo que ouço. Algo já te quebrou tanto que você consegue sentir o som do seu coração a despedaçar?

Tom on

- Aah - seu grito é extremamente fino antes de deslizar ao chão e chorar. Suas mãos tentam tapar seus ouvidos e meu corpo inteiro se treme, o que eu fiz ?

- Calma, Gaia, tá tudo bem - Michael tenta se aproximar devagar da pequena que chora como uma criança - Não tem ninguém aqui, ninguém - ele senta no chão e a puxa para o meio de suas pernas a abraçando fortemente e balançando levemente - Raquele o que tá acontecendo ? - minha voz sai fraca por todo o desespero que meu corpo tem, mas a ruiva só sabe chorar sem parar no sofá como se nada estivesse a acontecer a sua frente.

- Gaia Wind DeLoures, tá tudo bem é só o Michael que tá aqui - Por segundos minha mente se perde de tudo, de toda as mortes, de todos os gritos e penso em sorri ao imaginar que um nome nunca combinou tanto com alguém, quase como se ela fosse a deusa dos ventos e ares - Eu consigo ver ele parado no canto - Sua voz fraca me acorda e todo meu corpo se arrepia - Ninguém está aqui, baby - Ele beija seu rosto e a balança mais.

- Michael que porra tá acontecendo aqui  ? - falo um pouco mais grave na mínima tentativa de ser ouvido nessa sala - É ela, Tom, a minha amiga da noite do parque, é ela - e é nesse instante que eu desejei estar lá embaixo morto ao invés de a ter tocado naquele momento.

DILÚVIO • tom •Onde histórias criam vida. Descubra agora