Capítulo 14 - 13 dias de contágio

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Meus olhos percorrem vagamente o verde das árvores a sumir pelo vidro do carro, deito minha cabeça sob o mesmo e me permitido fantasiar. Fantasiar um mundo onde tudo fosse diferente, onde nada estivesse a acabar, ninguém estivesse a se matar, a vida fosse uma rotina chata e entediante, mas onde eu estivesse com meu coração curado o suficiente para ser dele, para me permitir ser dele, onde essa idéia não destruísse amizades.

- Eu vou ver se tem um pouco de gasolina ali no posto - o rouco de sua voz me acorda e apenas balanço a cabeça em um sim. Percorro os olhos pela estrada abandonada, pelos carros jogados e chego ao moreno, concentrado na estrada como se estivesse a espera de qualquer outro grupo de homens, sua blusa verde quase colada em sua jaqueta jeans, o boné para trás deixando a mostra poucos fios de cabelo - Está tudo bem ? - sua voz berra do lado de fora.

- Sim - sorrio tímida - Só estou com fome, vou ver se não tem algo naquela lojinha - falo suavemente ao sair do carro e ir em direção ao pequeno armazém - Não deveria ir sozinha - sua voz é alta o suficiente para ainda o escutar mesmo de longe - Sei me cuidar, pequeno Tom - grito ao entrar no local e ouvir o sino na porta tocar me arrepiando por completo.

Várias prateleiras se encontravam vazias e outras com pequenos produtos ainda expostos, passo o dedo por elas deixando um rastro de limpeza causado pela grande poeira. Paro enfrente ao espelho e respiro fundo, eu nem ao menos reconheço quem é está pessoa a minha frente, se parece com alguém tão diferente.

- Eu prefiro essa sua versão - sua voz me assusta e dou um pequeno pulo e o vejo sorrir pelo reflexo do espelho, mas não é apenas sua voz que me assusta é o fato de parecer que ele sempre consegue ler meus pensamentos - Os cabelos mais cacheados - seus dedos tocam no meu cabelo - O corpo maior - ele se aproxima por trás deslizando as mãos dos meus seios a lateral da minha coxa - Eu estou fascinado pela mulher que está se tornando, Gaia - seus lábios tocam meu pescoço suavemente.

- Estamos voltando para casa - digo quase em um alerta para mim mesma - Sabe que não podemos - sinto sua mão a subir e apertar minha cintura - Como eu sei, minha querida - sua cabeça levanta levemente e as palavras são sussurradas em meu ouvido, enquanto seus olhos encaram os meus pelo reflexo - Meu melhor amigo me mataria se soubesse que estou a desejar o amor de sua vida - meu corpo todo gela, minha boca se abre várias vezes mais nenhum som sai, a última coisa que meu consciente imagina era que Michael havia contado tudo para ele.

- Está tudo bem - seu sorriso é acolhedor - Nunca precisamos falar sobre isso - suas mãos percorrem meus braços cobertos pelo seu moletom que peguei mais cedo - Eu não ligo se seu coração é dele - seus olhos não desviam dos meus por nenhum segundo - Eu sei que seu corpo deseja o meu toque - as palavras são ditas com tanta malícia que foi impossível não sentir meu estômago a virar.

- Não deveria ser tão convencido assim, Thomas - sorrio o empurrando levemente e o mesmo segura minha mão a precisando em seu peito - Como vai ser quando subirmos aquela montanha ? - seus olhos me olham tão profundamente que sinto minha perna fraquejar - Vamos fingir que nunca nem nos tocamos ? - sua mão livre acaricia meu rosto - Vamos fingir que não queremos nos tocar a todo instante ?

- Thomas -minha voz sai fraca - Não, por favor - sinto meus ombros a descer em uma respiração profunda - Meu peito não está pronto para passar por isso novamente - olho em seus olhos quase como uma súplica.

- Eu nunca iria te magoar - sua mão solta a minha e vai ao meu rosto o segurando com força - Nossa história não tem futuro, talvez nem mais um presente - suas palavras são ditas de uma maneira tão delicada como se sua última intenção fosse me magoar - Mas você tem que parar de achar que todos os amores vão te destruir.

- É o que eles fazem - o interrompo - Ninguém era a pessoa certa então - sua voz é risonha - Existem amores que não são destinados a estarem juntos, mas existem outros que te completam sem lhe causar nenhum dano colateral - seus polegares acariciam minhas bochechas - Você vai encontrar alguém que vai te amar tão lindamente, Gaia Wind - seu sorriso é tão sincero que foi impossível não sorrir junto.

- Talvez - começo, mas respiro tentando criar a coragem - Podemos nos esconder do mundo por alguns segundos - seus olhos me analisam com tanta atenção - E enquanto estivermos sozinhos, você possa me beijar.

Sem nenhuma demora seus lábios colam aos meus, seu toque é tão cheio de emoções, seus lábios frios e macios a se contradizer com o calor que sua presença me trás.

Suas mãos vão ao meu cabelo se afundando ali, e as minhas vão a sua nuca o abraçando.

É como se o mundo não estivesse um caos, como se seu beijo fizesse as peças se encaixarem novamente, nenhuma tristeza ou dor me tocaria nesse momento, pois nesse instante eu estava embriagada por Tom Holland. Minha mãe sempre me disse que quando mais temporária a situação, mas ela te marca e talvez ela estivesse certa, a forma como nunca poderemos nem tentar ter uma história causa uma euforia bem maior.

Ele se afasta nos separando e cola sua testa a minha.

- Vai ser minha maior tortura te ver e não poder toca-la - sua voz é tristonha - Mas eu não posso o perder - sua voz sai embargada - Está tudo bem, britânico -puxo seu rosto para perto do meu e vejo seus olhos ainda fechados - Seremos amigos - digo a sorrir.

- Amigos que se entendem tão bem na cama - seus olhos ainda se encontravam fechados - É difícil achar essa intensidade e conexão toda com alguém, Gaia - sua voz me corta - Mas ainda amigos, independente de toda essa intensidade, eu gosto de quem tu és Thomas - acaricio sua bochecha - Da maneira que o tiver já será uma honra - o vejo sorrir novamente.

Seus olhos finalmente encontrando os meus - Eu vou sentir tanta falta de te sentir Gaia Wind - sua voz é ofegante - Eu digo o mesmo, Thomas Holland - sorrio ao ver seu sorriso -  Vamos para casa, minha querida - um beijo delicado é depositado na minha testa e depois de anos eu sinto meu estômago a se revirar, como se mil borboletas voassem por ali.

DILÚVIO • tom •Onde histórias criam vida. Descubra agora