Capítulo 26 - 42 dias de contágio

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Dia 37 de contágio - manhã 

- Parece que o mundo vai acabar de tanto chover - meus braços se apoiam na capenga janela a observar a água presente na superfície da grama saltar ao sentir o toque do próximo gotejar - O mundo já está acabando, querida - sua voz é divertida ao chegar por trás e beijar meu pescoço - É sério Thomas, quando essa chuva acabar vamos precisar ir embora - me viro o olhando por cima de mim - Tudo lá embaixo está alagado provavelmente.

- Tão pessimista - um sorriso se abre em seu rosto - Até a chuva acabar o velho já está encantado com meus charmes - ergo a sobrancelha em descontentamento.

Dia 37 de contágio - madrugada

Me remexo na cama por incontáveis momentos, meus olhos percorrem o ambiente e vejo a respiração silenciosa do moreno. Me levanto devagar e caminho na ponta dos pés do quarto a cozinha. O barulho da chuva e a pequena vela acesa no canto da sala me trazem a tona uma vontade incontrolável de tomar uma xicara de chá. 

Com movimentos silenciosos, coloco a pequena chaleira para esquentar e procuro pelos armários uma xicara e algum tipo de chá.

- Isso - pulo de alegria ao achar um potinho de chás de camomila, antes que a caleira pudesse apitar, a desligo e despejo a água quente. E como um instinto fecho os olhos e respiro fundo para sentir o cheiro entrar por toda a minha narina - Adoraria acompanhar a senhorita - a voz grossa quase me faz pular de susto.

- Desculpe - sorrio timidamente - Não queria lhe acordar - digo calmamente ao preparar mais uma xicara e desliza-la pela mesa até o encontro do senhor - Você lembra minha neta do meio - a frase é dita entre pequenas pausas - Qual é seu nome criança ? - seus olhos se juntam aos meus pela primeira vez - Gaia Wind e o seu senhor? - sorrio ao tomar o chá - És francesa, Wind ? - tento esconder o sorriso pela forma como o mesmo disse meu nome da mesma forma que Tom, na verdade o quase sorriso foi pelo fato que naquele instante vi a grande semelhança entre os dois.

- Minha mãe é de lá - digo amigavelmente - É um lindo lugar - sua voz é convicta - Já visitou a França? - falo animadamente só na hipótese de poder conversar com alguém novamente sobre as ruas de Marselha - Não, mas é um lugar lindo nos filmes.

- Claro - contenho a gargalhada e o mesmo percebe - Me chamo Jarvis, a propósito - seu sorriso é amigável pela primeira vez nesses dois dias - É um prazer lhe conhecer, Jarvis - levanto a xicara e sorrio.

Dia 38 de contágio - tarde

- Ele vai chegar a qualquer momento, Tom - as palavras saem arrastadas pela falta de ar entre os beijos - O velho disse que ia caçar - suas mãos sobem por minhas coxas - Velhos caçam mal - seu rosto vai ao meu pescoço depositando beijos - Ninguém demora tanto a caçar em dia de chuva - digo convicta.

- Fica quietinha, amor - seu dedo vai aos meus lábios os fechando, seu corpo empurra o meu até a mesa. Suas mãos vão a minha cintura me erguendo e logo depois me colocando sentada a mesma, seu corpo se abaixa, ficando de joelhos e seus dedos gelados traçam trilhas da ponta do meu calcanhar até minha intimidade - Vemos que lá fora não é o único lugar encharcado - sua voz é brincalhona e acabo por dar um tapa em seus cabelos a segurar o riso.

Dia 39 de contágio - noite

Meus dedos tocam seu peito nu com delicadeza, como se ele fosse quebrar ao mais simples do aperto - Daria várias doses de whisky pelos seus pensamentos agora, meu amor - sorrio ao ouvir o apelido ser tido pela segunda vez de seus lábios - É só que é tão estranho - digo em um tom melancólico - O que é estranho? - seus dedos vão ao meu queixo, levantando meu rosto ao encontro de seus olhos.

- O mundo está acabando lá fora e eu nunca estive tão feliz em toda minha vida - um sorriso sai de seu rosto - Nunca se culpe por ser feliz, Wind.

Dia 40 de contágio - manhã

- Hoje vamos jogar mimica - seu corpo pula do sofá animadamente - Eu detesto seus jogos, Tom - a voz grave de Jarvis me faz rir enquanto leu meu livro - Você adora meus jogos, seu velho - a voz do moreno é brincalhona ao pegar três pedaços de papel e dar para cada um - Vocês vão adorar esse, sério eu jogava com meu avô quando era criança - sua voz é empolgada - Era - jarvis murmura ao pegar o papel e acabo por cair na gargalhada.

Dia 40 de contágio - noite

O barulho da chuva misturado ao da lareira me trazia tranquilidade, os braços de Tom ao redor da minha cintura me traziam tranquilidade, o som suave do toca discos me trás tranquilidade - É estranho dançar essa música de velho - sua voz é debochada, mas sai como um sussurro em meu ouvido - Isso é apenas porquê está acostumado a dançar drogado - ouço seu riso anasalado e recosto minha cabeça ao seu ombro novamente, sentindo nossos corpos irem de um lado a outro na pequena sala.

Dia 41 de contágio - tarde

Inclino minha cabeça para trás na fula tentativa de não gritar, ele percebe ao deslizar sua mão a minha boca e cobri-la. Um gemido abafado sai ao sentir seu corpo se chocar ao meu, minhas mãos batem pela parede na tentativa de achar algo para agarrar, algo que me trouxesse a realidade novamente - Você é perfeita - seu corpo se choca ao meu novamente e arfo ao sair do toque quente do chuveiro para o frio da parede - Cada centímetro seu foi feito para mim - suas mãos puxam minhas pernas para cima fazendo-as se entrelaçar em sua cintura - Você foi feita para me satisfazer - a frase é tida entre beijos depositados em meu pescoço.

Dia 42 de contágio - tempos atuais

- Thomas você vai estragar o rádio - o advirto e vejo seus olhos revirarem como uma criança - Thomas, o que você quer ouvir ? - falo friamente - Só tem chiado nessa coisa.

- Qualquer coisa, Gaia - sua voz é impaciente - Qualquer coisa além dessas músicas de velho do Jarvis - seus dedos mexem sem parar nos botões causando um barulho assustador pelo cômodo e agradeço pelo Jarvis ter ido caçar e não precisar ouvir mais uma discussão entre os dois sobre qual época é melhor para se ser um jovem: o passado ou o presente.

Visto que Jarvis teve a oportunidade de passar sua adolescência sem um apocalipse, sempre concordei que a melhor época era a sua.

- Você ouviu - sua voz é animada - Eu ouvi uma mulher a falar - seus dedos voltam estações até a voz ir aumentando cada vez mais - CONSEGUI - gritos de alegria inundam o ambiente. Pouco a pouco o idioma se torna cada vez mais familiar - É francês - pulo de um sofá a outro para chegar mais perto do rádio - Ela está falando francês - sorrio para o moreno que fica ainda mais animado.

- O que ela diz ? - sua voz é animada - Eles vão vir nos resgatar? Tipo, as tropas já estão presentes para matar todos os infectados ? Quando eles vem nos buscar - a animação de sua voz vai indo embora junto com as lágrimas que caem de meus olhos, sem nenhum pesar - O que eles estão dizendo, meu amor? - sua pergunta sai retórica, meu rosto já identificava o que estava por vir e Thomas nem precisava saber o idioma para ter entendido.

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Admito que esse foi um dos capítulos mais gostoso de escrever, mas se nem eu estou pronta par o que vai vir imagina vocês. Bem vindos aos dois últimos capítulos. 

DILÚVIO • tom •Onde histórias criam vida. Descubra agora