7 - Capítulo ( Revisado)

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                             Ester

Acordo com o som de uma voz doce me chamando. Levanto a cabeça e vejo que é a Senhora Luciana, a secretária do Senhor Rodrigo.

— Me desculpe. — Peço com as bochechas coradas, enquanto discretamente passo minha mão direita no canto da minha boca para remover qualquer vestígio de baba.

— Tudo bem, querida. — Ela diz me olhando com carinho. Ela sabe o quanto esses dois dias foram trabalhosos. — Vim avisar que você já está liberada para ir para casa.

— Como assim? — Pergunto, sem entender.

— O Senhor Ferrari exigiu que saísse mais cedo hoje. Ele sabe que durante esses dois dias você trabalhou muito. — Ela diz, sorrindo.

Tenho certeza de que foi o Senhor Rodrigo que falou para o meu chefe que estou trabalhando muito.

Não posso nem reclamar, pois isso seria uma falta de respeito contra o Senhor Ferrari na frente dos outros funcionários.

Respiro fundo e tento relaxar. A verdade é que fiquei tão preocupada em deixar tudo organizado que acabei esquecendo de mim.

Desligo meu computador, entro no elevador e, cinco minutos depois, saio do mesmo.

Vejo as meninas da recepção. Duas estão no telefone, enquanto outra está no computador.

Uma das que estava no telefone desliga e olha em minha direção.

— Oi, Senhorita Ester. — Ela diz, sorridente.

— Oi! — Digo, dando um leve sorriso.

— Já vai sair? — Ela pergunta, curiosa.

— Sim, o chefe me deu a tarde de folga. — Digo, séria.

Quando estou quase saindo da empresa, ouço a mesma que conversou comigo falar para outra:

— Essa aí pode.

Apenas balanço a cabeça em sinal de negação.

Em vez de esperar o ônibus, resolvo chamar um Uber, que demora cerca de dez minutos para chegar.

Respondo algumas mensagens das meninas enquanto estou no caminho indo para casa.

— Chegamos. — O motorista do Uber diz, parando o carro em frente ao prédio.

— Quanto deu? — Pergunto enquanto abro minha bolsa.

— Deu quinze reais. — Entrego o dinheiro para ele e saio do carro.

Entro no prédio e não vejo o zelador. Ele deve estar fazendo algo importante porque ele normalmente não deixa seu posto assim.

Pego o elevador e aperto o botão do terceiro andar. Saio do elevador e entro no apartamento.

Como estou com fome, resolvo fazer alguma coisa para comer.

Faço duas tapiocas, vou até a geladeira e vejo que ainda tem leite condensado. Pego o mesmo e despejo o pouco que tinha sobre as tapiocas. Também faço um pouco de café. Sei que fica com o gosto amargo por causa do doce do leite condensado, mas mesmo assim começo a comer.


                               [.....]


Depois de lavar as louças que sujei, tomei um bom banho e fiquei deitada na minha cama.

Até que me levanto, pego minha Bíblia e oro pedindo para que Deus fale comigo.

O Espírito Santo me direcionou a Mateus, capítulo 11, versículos 28 a 30, que fala sobre descansar no Senhor.

“Venham a mim todos vocês que estão cansados e sobrecarregados, e eu os aliviarei. Tomem sobre vocês o meu jugo e aprendam de mim, porque sou manso e humilde de coração; e vocês acharão descanso para a sua alma. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve.”

Enquanto leio esse versículo, sinto uma inquietação. O Espírito Santo começa a me lembrar de tudo no meu trabalho que tem se tornado um peso para mim.

Me ajoelho no chão e clamo ao Senhor pedindo que tire todo o peso que estou sentindo. Demora um tempo até que sinto Sua presença me envolvendo e tirando de mim todo o peso.

Choro pelas situações que passei em meu ambiente de trabalho. Sinto o Espírito Santo me consolando e dizendo que vai ficar tudo bem.

Termino a oração agradecida por sentir Ele aqui. Pego minha Bíblia e coloco sobre a estante de livros que está perto da minha cama.

Saio do quarto, sento no sofá e ligo a TV. Vejo que a novela da Record já tinha começado.

Não demora muito e ouço os passos apressados de Laura, que se joga no sofá ao meu lado.

— Faz muito tempo que começou? — Ela me pergunta.

— Não, agora que está no início. — Digo, me ajeitando no sofá.

Estamos no final da novela quando ouvimos o som da campainha indicando que alguém chegou.

— Alguém ficou de vir aqui? — Pergunto para Laura, que continua olhando para a televisão sem perder nenhum detalhe da novela.

— Não que eu saiba, mas pode ser as meninas. Você sabe como elas são. — Ela comenta sem desviar os olhos da TV.

— Então, quem vai atender a porta? — Pergunto, mesmo sabendo que vai ser eu no final, por causa da bendita novela que ela não pode perder nenhum capítulo.

— Eu que não vou. — Ela diz, cruzando os braços.

— Você é folgada! — Digo, olhando de forma incrédula para ela, pois ela me fez levantar só para fazer a pipoca ainda agora. — Tudo bem. — Digo, suspirando, sabendo que no final ia sobrar para mim.

— Obrigada! Sabe que eu te amo, né? — Laura diz, me lançando um beijinho no ar.

Balanço a cabeça em sinal de negação. Essa menina só Jesus na causa.

Me levanto do sofá e vou até a porta. Quando a abro, vejo Débora com uma pizza na mão.

— Olá, Débora, pensei que você ia estar cuidando dos meninos hoje. — Digo, lembrando de seu filho, que é uma fofura.

— Fui liberada pelo Gabriel. Ele disse que hoje era noite dos meninos. Aí, pensei em dar uma passada aqui e aproveitar o tempo livre com as minhas amigas. — Ela diz, dando um sorriso. Tenho certeza de que esse sorriso é por causa do seu esposo.

— Fez muito bem, entre. Só não ligue para Laura, ela está no seu modo de noveleira em ação. — Digo, rindo junto com ela.

— Tudo bem. — Débora diz, ainda rindo enquanto entra, e eu fecho a porta. — Onde deixo essa pizza? — Ela pergunta.

— Deixa que eu levo. Pode sentar e assistir alguma coisa com a Laura, já que a novela já acabou. — Digo, pegando a pizza de suas mãos e levando para a cozinha.

Coloco os copos e pratos na mesa, corto a pizza, que tem uma parte de queijo e outra de calabresa, e coloco ketchup e maionese em cada fatia.

— Podem vir comer. — Digo em alto tom, escutando um “já vou” em resposta.

Coloco um pedaço de pizza de queijo, que é o meu preferido, no meu prato. Vou até a geladeira, pego o refrigerante guaraná e coloco um pouco no copo para mim.

— Não tem Coca-Cola? — Débora pergunta enquanto lava as mãos, juntando-se a Laura.

— Não, aqui em casa nós não compramos Coca-Cola. Nenhuma de nós duas gosta. — Digo e logo em seguida dou uma bela mordida na minha pizza.

Meu Deus! Esqueci da oração, me perdoe, Pai.

Penso, ao engolir o pedaço de pizza, lembrando que antes de comer devo agradecer pelo alimento.

— Ei, e a oração? — Débora diz ao ver Laura quase colocando a fatia de pizza de calabresa na boca.

— Quem vai orar? — Pergunto.

— Eu vou. — Laura diz e logo em seguida todas nós fechamos os olhos.

— Pai, obrigada pelo dia que se passou na Tua presença, obrigada por nos proteger e nos guardar de todo mal, obrigada pelo alimento, não deixe que falte para as outras pessoas. Em nome de Jesus, amém.

— Amém. — Eu e Débora falamos juntas.

A janta foi muito boa. Comemos até onde podíamos, e agora a Laura está lavando a louça e eu estou enxugando.

— Vocês sabem como está a Hadassa? É que eu não a vi esses dias. — Débora pergunta.

— Ela está um pouco ocupada por causa da universidade. — Laura responde.

— Está puxado para ela, mas graças a Deus, ela está no último ano e ano que vem já vai estar trabalhando na área em que se formou. — Digo, feliz por minha amiga.

— Faltam só quinze dias para o retiro acontecer. Vocês estão animadas? — Laura pergunta.

— Sim, estou ansiosa. Sinto que Deus vai fazer algo tremendo nesse tempo. — Digo, sorrindo.

— Onde vai ser mesmo? — Ela pergunta confusa.

— Vai ser na casa do irmão Fernando, que fica um pouco afastada da cidade. A casa dele é bem grande e tenho certeza de que vai ser muito bom. — Comento, sorrindo.

— Terminamos. — Comemoro assim que acabamos com a louça.

Ouço o som do toque do meu celular. Corro até ele e vejo que é o Senhor Ferrari que está ligando.

— Alô? — Digo ao atender a ligação.

— Boa noite, Senhorita Ester.

— Boa noite.

— Eu já falei que fora do trabalho, a senhorita pode me chamar de Elias.

— Me desculpe, senhor... Quer dizer, Elias. — Falo, sentindo minhas bochechas corarem.

— Bem, não foi para isso que liguei. Amanhã às 8 da manhã, quero que venha à minha casa. Tenho uma surpresa para você.

— E o que é? — Pergunto curiosa.

— Se é surpresa, é porque não posso dizer. — Ele diz, dando um pequeno riso por causa da minha curiosidade.

— Isso não se faz, Elias. — Digo de forma dramática.

— Até amanhã! Senhorita.

— Até amanhã! Senhor Ferrari.

Desligo o celular e vejo que as meninas estavam me olhando com aquela cara de “conte tudo e não esconda nada”.


Minha Secretária CristãOnde histórias criam vida. Descubra agora