XXI - That's wonder, the wonder of you

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Jasper Hale.

O granito do banheiro tinha a mesma temperatura da minha pele.

Afundei meu rosto contra a parede, pregando os olhos e buscando disfarçar os milhares de sons que se propagavam ao meu redor.

Gotas de água escorrendo do chuveiro e pingando contra o chão.

Isso, foque nas gotas.

Uma, duas, três gotas pingando ao mesmo tempo contra o porcelanato.

Quinhentas e vinte sete gotas de água que escorriam diretamente do meu cabelo até o chão.

Oito mil, quatrocentas e dezoito gotas que tocavam a parede antes de cair diretamente no piso.

Doze mil gotas que caiam em um som quase musical, ricocheteando e se desdobrando em duas, formando pequenas poças que logo se mesclavam e escorriam ralo abaixo.

Dezenove mil e duzentas...

Dezenove mil e oitocentas...

Vinte mil gotas de água.

E assim, setenta e oito minutos haviam se passado.

Percebi que as gotas não seriam o suficiente para me distrair.

Minhas mãos se fecharam em punhos, tocando a parede sem causar nenhum estrago. A casa de emergência que Esme havia conseguido alugar de última hora não precisava de ainda mais reparos.

Não quando uma recém criada se debatia como se estivesse convulsionando, gritando e quebrando tudo ao seu alcance no quarto ao lado.

Ah, Bella.

Doze horas, quarenta e dois minutos e doze segundos haviam se passado desde que meu veneno entrou no corpo de Bella. Isso significava que a transformação estava apenas no começo, ela ainda teria pelo menos sessenta horas do mais puro inferno se formando dentro do seu próprio corpo.

E ela nem havia escolhido isso, não ainda.

No outro cômodo, mais um grito de súplica, seguida pela voz acalentadora de Alice, que de nada adiantava para acalmar.

Meus olhos se apertaram ainda mais, como se fosse possível fazê-los saltar de sua órbita. Senti que estava mordendo meu próprio lábio, tentando me obrigar a sentir qualquer tipo de dor que não o que sentia por dentro.

Seria possível queimar no inferno de meu próprio veneno não uma, mas duas vezes?

Da primeira vez, quando Maria me transformou, a dor e a sensação de estar sendo queimado em ácido eram as razões do meu sofrimento, mas dessa vez parecia ainda pior.

Eu podia sentir a agonia que Bella sentia. Podia sentir o pavor, o desespero. Sequer haviam palavras para definir a sensação de passar pela mesma tortura duas vezes, ainda que de modos diferentes. Podia sentir o alívio passageiro que ela sentia quando o veneno parava apenas por segundos de se alastrar, e a sensação agonizante que a tomava quando ele voltava, duas vezes pior, fazendo suas veias se rasgarem e se dilatarem, abrindo espaço dentro de seu corpo frágil.

Ela estava confusa. Diversas vezes era pega pelo sentimento de desamparo, de não saber o que estava acontecendo.

E se ela não me perdoasse quando voltasse?

Tarde demais. Senti minha testa se afundando contra o granito, que cedeu formando uma cratera na parede.

— Droga. — Murmurei, desligando o registro e saindo do banho para me secar.

Suspicious Love [Hiatus]Onde histórias criam vida. Descubra agora