V - What you're doing to me

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O momento era constrangedor. Tentei ajudar Jasper a limpar os cacos de vidro, mas logo fui lembrada de que qualquer mínimo corte em minha pele poderia ser de alguma forma um gatilho para que minha vida fosse sugada a partir das minhas veias.

Ele limpou tudo em silêncio, mais devagar do que conseguiria, provavelmente postergando o momento não queríamos que chegasse.

Fiquei sentada na poltrona, observando seus movimentos quase lentos, pensando no que falar, se deveria perguntar alguma coisa, ou se deveria simplesmente acreditar fielmente em sua informação.

Quando olhei de relance pela janela, percebi que estava quase escurecendo, e seria difícil voltar para casa.

Soltei um gemido, e então Jasper, ainda juntando mínimos pedaços de vidro, os quais nem eu mesma conseguia ver, me olhou.

— Preciso voltar para casa. — Complementei. — Olhos humanos. — Apontei para meu olho, o lembrando de que não enxergava tão bem quanto ele.

— Como quiser.

Foi a única resposta que obtive.

Em alguns minutos, tudo estava preparado. Levantei da poltrona, e ao pisar no chão perfeitamente limpo, não senti nenhuma pontada no pé. Firmei os dedos no chão e caminhei até a sacada, colocando meus sapatos.

— Você vai voltar para cá, depois? — Perguntei. O silêncio parecia uma tortura.

Jasper apenas acenou.

Quando segui em direção a floresta, fui interrompida pela figura loira de olhos claros.

— Não vai dar tempo de voltar andando até o anoitecer. — Ele afirmou. — Eu consigo prender minha respiração, suba nas minhas costas.

Fiquei meio sem jeito. Estar próxima de Jasper era novidade, e estar fisicamente tão próxima era algo que sempre julguei impossível. Ainda assim, com um leve impulso subi em sua garupa, percebendo que sua respiração havia se estancado.

Jasper era rápido. Não tão rápido quanto Edward, mas mais astuto. Sua postura me fazia ver tudo de um ângulo um pouco mais alto, e a movimentação das árvores me deu forte vertigem.

Fiz como fazia com Edward. Fechei os olhos e enfiei meu rosto em suas costas, o mais fundo possível, na tentativa de evitar perceber as árvores se movimentando ao meu redor.

E então respirei.

O cheiro de Jasper era bom.

Não pude evitar, e o comparei com o de Edward.

Havia um fundo adocicado que era muito semelhante. Imagino que esse seja o cheiro doce e harmonioso que Edward havia me falado que os imortais possuem naturalmente. Mas tirando isso, era totalmente diferente.

Enquanto o cheiro de Edward era aberto e florido, o de Jasper era fechado e amadeirado. O cheiro lembrava couro, cortiça e fogo. O cheiro do chalé.

Me senti um pouco mal pela comparação, por me deixar sentir aquele novo perfume, e ainda mais por estar tão próxima do irmão de Edward e marido de Alice.

Quase uma criminosa.

E então, todas as palavras de Jasper ainda no chalé começaram a me cortar como facas. De alguma forma, Alice acreditava que estávamos destinados a ficar juntos. Por outro lado, eu sabia que o futuro era mutável e ambíguo, e também sabia que meu sentimento por Jasper não passava da apreciação comum que eu tinha a um conhecido.

Mal pude concluir meu pensamento quando Jasper parou em solavanco, me deixando do lado da varanda de casa.

Um desespero me consumiu quando percebi que talvez ele fosse embora após minha resposta nem um pouco receptiva. Não sentia nada por Jasper, ainda assim, tê-lo perto garantia minha segurança e de Charlie, e também me fazia crer que toda aquela história de imortais não era algo da minha cabeça.

Suspicious Love [Hiatus]Onde histórias criam vida. Descubra agora