Capítulo 6

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   Eu andava de cabeça baixa entre a multidão que circulava pelos corredores da Duman High, não querendo falar com nenhuma daquelas pessoas vazias, que olhavam para mim e sussurravam sobre a grande festa da empresa. Fui às aulas, mas não estava realmente ali, rabiscava criaturas que poderiam ter saído de um pesadelo no meu caderno, e me sentia estranhamente calma daquele jeito. Quando Matt estava presente, sempre ficava me observando, e repreendendo quando eu não prestava atenção. Só que durante aquela semana eu poderia fazer o que quisesse, sem ele julgando os meus atos.

  Na hora do almoço, eu estava indo em direção à lanchonete, sem pressa, quando senti alguém aproximar-se, ficando bem ao meu lado. Alguém muito alto. Com cheiro de perfume amadeirado, ébano e cigarro.

   — Sabe... a comida da escola não é tão boa quanto dizem... — Seth comentou, casual. Sem me encarar.

   Sorri de leve, e continuei olhando para frente, disfarçando entre as pessoas.

   — Tem uma lanchonete muito boa perto do centro. Se sairmos agora, ninguém vai notar... — ele inclinou-se um pouco para o lado, sussurrando.

   Deixei as pessoas passarem apressadas, ficando para trás de propósito.

   — Ouvi dizer que o prato de hoje é salada de espinafre e frango frito. — Comentei.

   —  Ugh... — Ele botou a língua pra fora. — Que tal... hambúrgueres?

   Parei bruscamente, o último aluno bateu a porta da lanchonete, e logo estávamos sozinhos nos corredores.

   — E o que estamos esperando? — encarei Seth, determinada.

    Ele deu um belo sorriso, e logo estávamos correndo livremente pela escadaria. Eu ainda estava um pouco insegura, sempre olhando para trás para ter certeza de que não seríamos impedidos.

    — Vamos, Nina! A vida de verdade nos aguarda! - Seth chamou, já no fim da escadaria.

    — Como vamos andar por aí sem ser vistos?

     — Eu vim de carro. — Ele balançou um molho de chave na frente do rosto.

      — Você... você tem um carro? — Arregalei os olhos, não imaginava aquilo.

      — Não é das empresas Lavelle, mas é muito bom. Ele é limpo por dentro, não precisa se preocupar. Eu mesmo não gosto de sujeira. — Seth começou a andar, despreocupado.

    Continuei parada no fim da escada, achando aquilo muito estranho. Primeiro, ele tinha bem mais dinheiro na carteira do que eu, não tinha pais, mas não estava sozinho, e depois um carro? Eu achava que o máximo que alguém do lado oeste teria era uma moto.

      — Nina? Quer desistir? Se você não estiver à vontade, podemos voltar... — ele virou para me encarar.

     — Não! Não, não. Vamos. Quero dar o fora daqui. — Deixei de lado meus questionamentos e corri até ele.

    Fomos à lanchonete que Seth falou, pedimos muita comida, e claro que ele ficou impressionado com o quanto eu conseguia comer sendo tão pequena.

     Conversávamos sobre música, CSI Miami, Jornada nas Estrelas, e Seth negava-se a falar de Grey's Anatomy quando eu tentava.

Todos, Menos NósOnde histórias criam vida. Descubra agora