Capítulo 5

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  Seth estava escorado na porta, de braços cruzados, com os longos cabelos negros caindo charmosamente pelos ombros, e com o olhar fixo no meu desenho.

  Olhei para ele, depois para o meu desenho, e para ele de novo, sem saber o que dizer.

    — Há... há quanto tempo você está aí? — perguntei guardando rapidamente todos os materiais que eu havia pego.

    — O suficiente... você tava numa viagem e tanto aí, não? Te vi fazer várias caretas — ele sorriu, divertido, colocando as mãos no bolso do suéter preto.

     — Acho que sim... — virei de costas para o garoto, ficando envergonhada. Era por isso que eu gostava de ficar sozinha quando tinha inspiração.

    Eu guardava os lápis freneticamente dentro de um pote, e acabei derrubando-o no chão com o meu nervosismo, espalhando tudo.

    — Ai, droga! — sussurrei, me abaixando para pegá-los.

    Enquanto eu estava no chão recolhendo minha bagunça, Seth aproximou-se e começou a me ajudar. Sorri, agradecida, e ficamos em silêncio por alguns segundos.

    — O que ainda está fazendo aqui? — perguntei.

    — Bom... você é desastrada, e por incrível que pareça, eu tenho educação...

    — Não. — Ri. — Quero dizer, o que ainda está fazendo aqui na escola? Você sempre foge antes da saída...

    — Andou me observando, Nina? — ele franziu as sobrancelhas.

    — Sim. — Encarei ele, destemida.

    Seth olhou para mim meio incrédulo, e depois riu:

    — Por quê?

    — Porque nenhum dos tapados desse lugar sabem viver a vida.

    — Sabe... você é mais direta do que pensei.

    Nos levantamos, e Seth me ajudou a guardar os lápis cuidadosamente.

    — Achei que tivesse me dito "adeus". — Engrossei a voz, como se fosse masculina. Seth baixou a cabeça, rindo meio sem graça. — Por que se despediu daquele jeito?

     Ele franziu o cenho, olhando ao redor da sala, pensando no que dizer:

    — Bom... achei que seria a primeira e última vez que conversaríamos. Você já tem os seus amigos, com certeza não ia querer falar com o "Garoto Sem Futuro Do Lado Oeste". — Ele arqueou uma sobrancelha.

    — Eles... bem... não são meus amigos.

    Seth inclinou a cabeça para o lado, curioso.

    — Não faz sentido pra mim. Por que eu não iria querer conversar com você? — perguntei colocando uma mecha de cabelo liso atrás da minha orelha, fugindo do olhar atento dele.

    — Você é a Nina Lavelle, o futuro dessa cidade, não? Não pode se distrair com meros mortais. — Ele me provocou, talvez já tivesse entendido que comentários como aqueles me chateavam.

    Respirei fundo, sentindo minhas bochechas esquentarem.

    — E você é o Seth D'arc, o terror das aulas de debate. O garoto sério que não fala com ninguém. Não se julga uma pessoa sem antes conhecê-la, ok?!

    — É. Acho que aprendi minha lição. — Seth continuou com uma expressão sarcástica.

    Bufei, pegando minhas coisas, e revirando os olhos:

Todos, Menos NósOnde histórias criam vida. Descubra agora