Capítulo 19

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         Segurávamos nossas mãos com muito custo, a água estava agitada abaixo da camada de gelo. Seth conseguiu me impulsionar para cima junto com ele e tentamos alcançar a superfície, mas não encontrávamos uma saída. Presos na água.

           O rapaz começou a socar o gelo e por um momento de alívio conseguiu rachar a camada, mas antes que pudéssemos subir, alguma coisa nos empurrou para o fundo, quebrando o gelo e nos afastando daquela única saída.

             Nossas mãos se soltaram e não conseguíamos mais alcançar um ao outro, sendo levados pela água.

               De repente, uma das minhas pernas ficou presa por uma grande alga do rio. Lutei com todas as minhas forças para voltar mas só conseguia me machucar ainda mais.

               A única coisa boa era que eu não iria mais para tão longe.

               Seth alcançou a superfície mais uma vez bem antes de chegar até onde eu estava, mas algo o empurrou para o fundo mais uma vez.

             Eu assistia à uma grande sombra percorrer rapidamente pela superfície, mas meus sentidos estavam perturbados demais para distinguir qualquer coisa.

             Seth estava sendo levado com rapidez pela água, por pouco consegui agarrá-lo pelo calcanhar para não perdê-lo.

             Em um ato de desespero ele nadou para cima e já sem forças empurrou o gelo em vão.

             Para meu desespero, vi a sombra mover-se em direção à ele, o que me fez tentar soltar minha perna com mais afinco, terrivelmente em vão.

              Seth foi ficando lento e então seu corpo simplesmente flutuou, não lutando mais.

               Não.

               Eu também já estava ficando cansada, mas não podia deixá-lo.

             Se era nosso fim, eu não queria que ficássemos separados.

             Agarrei Seth pelas suas roupas e segurei em suas mãos, olhando seu rosto desacordado.

             Minha visão foi ficando turva, meus pulmões ardendo, então me deixei dar meu último suspiro.

            Deus, como doía. Como era horrível.

            E pensar que pela primeira vez eu estava tão feliz.

              O gelo partiu-se, deixando a luz refletir, quase tive a impressão de ver a sombra de um passarinho voar. Então uma grande mão puxou Seth dos meus braços. Levando-o para a superfície.

                Não voltou por mim.

                 Claro...

                Eu estava só.

                Morreria totalmente só. E nem mesmo naquela hora deixei o meu egoísmo de lado.

               Me restando apenas a escuridão.

                Abaixo de mim, algo muito grande agitou as águas, em movimentos suaves que embalavam meu corpo e as algas gigantes.

Todos, Menos NósOnde histórias criam vida. Descubra agora