Capítulo 14

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         Algo em mim quebrou naquele momento. Talvez o que havia sobrado de tantos estragos.

         Como aquilo poderia estar acontecendo? Era real?

        Eu havia esquecido totalmente de que aquela possibilidade existia e que estava próxima. Ou me recusei a acreditar que estava ali.

         Virei para Seth que continuava olhando para a cabana.

          — O quê? — sussurrei. — De onde você tirou isso? Estava tudo bem ainda pouco... c-como, quando... É por causa do meu avô? Eu posso tentar fazer ele te deixar em p...

          — Não é por causa dele, ou qualquer um deles. Eu... eu tenho que sair daqui, entende? Não dá mais. — Ele olhou para o longe, uma pequena ponta de montanha que era iluminada por um relâmpago. Provavelmente onde Cain caiu. — Não dá... — ele silvou como se controlasse algo dentro de si.

          O ar não parecia o suficiente, olhei para os meus próprios pés para esconder o que estava sentindo, uma emoção que parecia vários tijolos sobre o peito.

        — Essa cidade não me faz bem. Eu preciso ver o que me espera lá fora. Sair das sombras de Khaos, dos meus pais e de Cain.

         E eu ficarei aqui com elas.

         — Mas... e os seus amigos? Dario, Samyra... Jenna — sussurrei.

          — Acho que todos concordarão que é o melhor para mim, no final.

         O silêncio nos abraçou mais uma vez. Haviam tantos pensamentos tristes e ansiosos na minha cabeça, eu quase não conseguia entender o que estava acontecendo e o que sentia.

        — Você vai embora... e eu... não vou te ver nunca mais? — consegui encará-lo.

         Seus olhos azuis encontraram os meus. Não gostei nada de sua expressão triste e ao mesmo tempo relutante.

           Por favor, não.

          Fui incapaz de dizer qualquer coisa para impedir. Não queria ser egoísta.

        No dia seguinte, eu estava na estrada alta que levava à saída de Dumanville, com Carl logo atrás de mim, e Seth arrumando algumas coisas em seu carro.

        Olhei para o mar em uma súplica silenciosa, mas o que recebi foi uma enorme nuvem carregada vindo para a cidade.

        — Então, boa vida, garoto. — Carl estendeu a mão para Seth quando ele se aproximou de mim. — Espero que encontre o que procura.

       O jovem deu um sorriso leve e apertou a mão do motorista, que logo afastou-se para nos dar um momento à sós.

        — Olha, obrigado. Se não tivesse conhecido você melhor, meus últimos dias aqui seriam... mais difíceis. — Ele contemplou a praia também.

Todos, Menos NósOnde histórias criam vida. Descubra agora