Capítulo 8

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  Os sinos da igreja ecoavam por toda a floresta nublada naquela manhã, Leda e eu subíamos o monte onde ela ficava ofegantes, onde dava para ver a cidade e suas torres.

    — Acho que Sullivan estava certo, afinal. Preciso de... exercícios físicos... — falei quase tropeçando de cansaço.

    — Estou tão feliz que tenha vindo comigo, querida. Mas admito que estranhei, você gosta de se trancar no quarto aos Domingos...

     — Bom... não custa nada tentar algo novo — suspirei com um sorriso bobo no rosto. Meu humor estava ótimo.

    Leda sorriu, dando tapinhas na minha mão enlaçada ao seu braço. O passarinho azul, que eu havia encontrado outro dia, voava ao meu lado, cantarolando.

    — Vai ser bom você ouvir coisas novas. Esquecer um pouco aquelas coisas feias, aqueles monstros — a governanta rechonchuda falou com entonação de nojo enquanto entrávamos.

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    — Você consegue pescar com anzol o leviatã* ou prender sua língua com uma corda?! — O padre lia com fervor, sua voz ecoando pelo local. — Das suas narinas sai fumaça como de panela fervente sobre fogueira de juncos. Seu sopro faz o carvão pegar fogo, e da sua boca saltam chamas! — ele bateu no oratório, fazendo algumas pessoas saltarem dos bancos. — Ele faz as profundezas se agitarem como caldeirão fervente, e revolve o mar como pote de unguento. Deixa atrás de si um rastro cintilante, como se fossem cabelos brancos do abismo!

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*Leviatã: é um peixe feroz citado na Tanakh, ou no Antigo Testamento. É uma criatura que, em alguns casos, pode ter interpretação mitológica, ou simbólica, dependendo do contexto em que a palavra é usada. Geralmente é descrito como um monstro de grandes proporções.
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   Um bebê chorava nos bancos de trás, e alguns adultos arquejavam, enquanto eu ouvia cada palavra com animação. Leda massageou a área entre os olhos, balançando a cabeça negativamente.

     — Por que justo hoje escolheram um trecho desses? — ela murmurou.

    — Mal posso esperar para desenhar algo sobre isso. — Sussurrei como um filhotinho de cachorro animado.

    Carl estava em um banco da frente com sua família, e olhou para trás como se sentisse minha animação e o desapontamento de Leda.

   — Nada na Terra se equipara a ele; criatura destemida!* — O padre bateu no oratório mais uma vez, fazendo o som ecoar junto com um trovão.

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*Jó 41:1, 20, 21.

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   Assim que a missa acabou, Leda foi falar com alguns conhecidos, enquanto eu explorava local. A igreja de Dumanville era antiga e muito bonita, por dentro haviam arcos, colunas, e vitrais que contavam passagens bíblicas, em janelas sem eles era possível ver um grande vale, bem verde, com colinas enevoadas, e o bosque ao redor.

    — Creio que deve ter achado a leitura muito interessante, não? — uma voz familiar aproximou-se, enquanto eu tentava entender a história de um vitral.

  Evelyn Nicols me encarava com um sorriso leve, e as duas mãos para trás.

  — Muito inspiradora — sorri ao vê-la.

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