Capítulo 15

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      — A cidade está tão estranha... — Comentei olhando a vista da minha janela. — É como se o medo estivesse instalado em cada esquina.

      — Não é pra menos. — Leda ajustava a cintura do meu vestido preto. — O índice de violência aqui é abaixo do abaixo. Ou melhor, era. Agora, houve um assassinato... Oh, Deus... que tristeza. Na verdade... talvez tenha acontecido qualquer outra coisa, a polícia está investigando.

       — Ataque de animal?

       — Uma hipótese inteligente.

       — Ele era uma alma boa. Era meu amigo. — Comentei tristemente. — Isso não foi justo.

        — Ah, querida... — Leda me abraçou, me deixando abaixo de seu queixo, onde me aninhei e ela beijou o topo da minha cabeça.

       No cemitério, quase toda a cidade estava lá. Alguns por serem conhecidos ou parentes de Tim, e outros apenas por curiosidade. Sendo o primeiro assassinato ocorrido em anos naquele lugar, era como se tivessem colocado um elo perdido para exposição no centro. Haviam muitas  câmeras e repórteres, vovô teve a bondade de se colocar na frente da família e pedir que respeitassem o luto dos Rusty.

        — Tentaram deixar o corpo o mais perto da normalidade o possível, para que a família pudesse se despedir adequadamente. Mas... Não foi nada fácil e... A verdade é que quase não houve um normal. — Armand falava para vovô enquanto eu os observava de longe.

           Ouvi mamãe dar um suspiro pesado ao meu lado. Ela também estava ouvindo, embora conseguisse fazer parecer que sua atenção estava em outro lugar. Sua postura rígida demonstrava força, mas seus olhos... havia um sentimento ali que nunca presenciei em suas lindas feições. Medo, talvez.

       Um soluço baixo chamou minha atenção, e vi a netinha de Tim atracada às pernas dos pais, com uma rosa vermelha em suas mãos pequeninas. Suas lágrimas eram abundantes, e seu nariz estava muito vermelho.

       — Ela nem entende o que está acontecendo. — Uma voz familiar me assustou.

       Samyra misteriosamente estava ao meu lado, abri a boca para perguntar como ela havia aparecido ali do nada, mas desisti no mesmo momento.

      — Como vai, Nina? — Ela perguntou com um tom leve de divertimento com minha reação na voz.

       Apenas encarei seu perfil de queixo forte e perfeitamente quadrado.

       — Depois de um tempo ela vai ficar bem. Ainda é muito pequenina para associações tão pesadas... a inocência de uma criança é a que a salva do amargor e das sombras do mundo. Consegue sentir a luz? — A mulher de cabelos acaju comentou, respirando fundo no final.

       Voltei a olhar para a garotinha que soluçava cada vez mais forte, mas tomou uma postura corajosa quando foi jogar sua rosinha em cima do caixão.

        Senti Samyra virar sua face para me encarar:

        — Mas é uma pena que isso não é igual para todos, realmente. É um problema quando essa dádiva é tirada de um pequeno inocente... deixando-o vulnerável.

        Lembrei do meu delírio, a grande sombra traspassando toda a minha casa enquanto andava pelo lado de fora.

       Senti a esquisita dar passos para trás, sumindo após dar um aperto de consolo em meu ombro. Eu tremi um pouco após o que ela disse. Olhando ao redor, todos estavam muito confusos, e no meio da multidão encontrei o olhar do Dr. Sullivan, que parecia bem irrequieto.

Todos, Menos NósOnde histórias criam vida. Descubra agora