Capítulo 9

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   Nas últimas vezes em que saímos, eu não sabia ao certo o que conversar com Seth, sentia uma pressão como nunca tinha sentido antes. Queria parecer inteligente, calma, divertida, e muitas outras coisas ao mesmo tempo. Escolher minhas roupas para encontrá-lo estava tornando-se mais difícil, até meus monstros me deixaram, tudo o que eu desenhava era uma espécie de olhos, talvez porque eu me sentia mais observada do que o normal...

    Parecia que meu cerco estava fechando.

    Seth havia tornado-se meu segredo mais valioso, nossa amizade era algo bom, intocada pelo mundo de futilidades e mentiras.

     Mas as coisas não estavam como antes, perdi a habilidade de conversar com ele, tudo o que me vinha à cabeça... era sua relação próxima e antiga com Jenna.

   Eu estava aérea a maior parte do tempo, quando não, perdida em cada detalhe do que era Seth. Sua inteligência, bondade, traços...

    Haviam dias em que Seth não estava tão disposto. Não podia julgá-lo, recebi a notícia de que o Sr. K não estava se sentindo muito bem, o que deixava o jovem D'arc bastante ansioso. Muitas vezes, senti vontade de segurar sua mão e dizer que tudo ficaria bem, mas me controlava. Não parecia certo. Com isso, Seth começou a faltar na escola.

    Me isolei em meu esconderijo na praia com mais frequência, de mau humor, pois havia perdido um dos meus cadernos de desenho. Seja lá quem o encontrasse, teria pesadelos uma vida toda. Certa manhã, entrei na sala do clube de artes, e encontrei os desenhos sombrios assinados por Jenna Pond, pegando péssimo hábito de comparar nossas artes. Qual traço era melhor, a assinatura, as temáticas.

    Por que eu estava fazendo aquilo, me afogando em veneno? Eu não sabia a resposta, o que me levou até a sala de Nicols.

    — Ultimamente... me sinto uma idiota. Parece que eu mesma estou destruindo as coisas que me fazem bem. Meus pensamentos... são como um trem desgovernado, prestes a bater em um armazenamento de explosivos. — Eu olhava para os meus joelhos, sentada em frente à mesa da conselheira.

    Nicols riu, colocando sementes para o passarinho azul no peito da janela.

    — E o que houve com a alavanca de freio do seu trem?

     — Não consigo achar — afundei o rosto nas mãos, suspirando. — E estou me afastando rápido demais da estação certa. Na verdade, eu nem sei qual é a estação certa! — ri.

     — Bom, você não quer expor a situação que a deixou reflexiva dessa forma, então... tudo o que posso dizer por altos é... — a mulher elegante sentou-se em sua cadeira. — Todos nós já passamos, ou iremos passar, por algo que testa nossos limites, crenças, ego, rotina. É normal perder controle da locomotiva e bater em um armazenamento de explosivos, como disse. Mas... pense bem... e as consequências? Será que realmente não deu para achar o freio? Será que a estação correta foi mesmo deixada para trás por acidente? Sua mente a engana muitas vezes, Nina. Talvez... não deva imaginar coisas que não existem. Pergunte-se sobre o que está perdendo, e o que é de fato real.

    À noite, fiquei olhando para as fotos e desenhos na minha parede, repassando mentalmente o que Evelyn havia dito, depois imprimi as fotos do campo que Seth havia me levado. Nossas conversas daquele dia passaram na minha cabeça, me fazendo sorrir.

     Aquilo era real.

     E valia a pena ser vivido, sem medo, porém, eu não conseguia encontrar Seth pela escola e não queria incomodá-lo por mensagens, então resolvi esperar.

Todos, Menos NósOnde histórias criam vida. Descubra agora