Todos, Menos Nós

Capítulo 24

        Eu tinha que reagir.

         Tirei a pequena arma da bolsa atravessada em meu corpo e apontei para a escuridão.

         Os relâmpagos tinham parado, o que dificultou as coisas. O monstro aparentemente havia se escondido e tudo o que eu ouvia era Leda prestes a ter um ataque de pânico atrás de mim. A lanterna estava jogada no chão, mas longe, e não me atreveria a largar minha posição, poderia ser atacada a qualquer momento.

         Nenhum lugar da casa estava seguro.

        — Tem alguém aqui... — mamãe murmurou de algum canto.

          Graças a Deus estava viva, o que me deixou mais calma.

        — Vovô?! — chamei.

       Como em resposta, ouvimos um grande estrondo contra a parede e vovô gemendo de dor. Leda e mamãe gritaram, e com o susto dei um disparo, que atingiu uma janela.

         — Nina! O que é isso?! — Mamãe berrou.

         — Por favor, piedade! Eu peço perdão! — Vovô chorava no chão, protegendo a cabeça com os braços e chutando o nada enquanto eu tropeçava nele, encontrando-o.

         Antes que eu pudesse tocá-lo ou fazer qualquer coisa, ele descobriu a cabeça, tremendo, e seus olhos arregalaram-se, focando atrás de mim:

          — N-não!

         — Vovô? — estranhei.

        — Por favor, Cain. Não. Não!  — Leopold se debateu como se pudesse passar da parede em que estava encostado, querendo estar o mais longe possível dali.

         Ao ouvir aquele nome, tive certeza de que minha alma havia sido separada do meu corpo.

         Tinha alguém na nossa casa.

          E o corpo de Cain D'arc nunca fora encontrado depois que Seth o empurrou do penhasco para o mar.

           Será?

           — Quando ele implorou pela vida para você, o ouviu? — Uma voz masculina saiu da escuridão, atrás de mim. — Por que eu deveria agir diferente?

            Ouvi Leda e mamãe arquejando e derrubando móveis pela casa, provavelmente tentando se esconder.

             — Cain, eu não sabia. E também não queria — vovô chorou desesperado, fechando os olhos com força.

             De repente, alguém puxou meu ombro para trásn, e em um movimento rápido, grunhi, apontando a arma para trás.

              As luzes piscaram naquele exato momento e a energia voltou, me fazendo ver todas as saídas como sempre outra vez.
 
               Ali, na meia luz...

               Estava Seth.

               Ele usava um grande casaco que ia até suas canelas, e a camisa por baixo ainda era a do baile, um pouco rasgada e entreaberta. Estava todo molhado.