Capítulo 29.

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— Sim, alô? — Ele disse, as palavras entrecortadas. Engoli em seco.

— Desculpe tê-lo acordado. Posso falar com a Lexa? — Minha voz soou vazia, ausente.

— Quem é? — Ele perguntou.

— É a Clarke. Desculpa, sr. Woods. Eu preciso conversar com a Lexa.

Ele soava obviamente irritado.

— Só um minuto.

Minha testa descansou contra o volante.

— Alô? — A voz de Lexa soou pastosa. Ela limpou a garganta. — Quem é?

— Sou eu.

— Clarke? — A voz dela avivou. — Faz horas que estou ligando pra você. Onde você está?

Minha garganta estava seca. Dolorida. Me recostei e falei:

— Estou sentada em frente à sua casa. Preciso de você.

Uma cortina na janela do andar superior se abriu.

— Já estou descendo — ela falou. — Não vá embora.

Eu ri, amarga.

Alguns segundos depois, Lexa saiu pela porta da frente, com a camisa de beisebol caindo na altura das pernas, um tênis de cano alto em um pé e o outro na mão dela. Ela correu pela calçada e cruzou a rua. A mão dela espalmou na minha janela fechada e ela espiou do lado de dentro, antes de dar a volta para o lado do passageiro.

— Clarke? Querida. — Ela fechou a porta e se virou para mim. Continuei a fitar adiante. Cega. Entorpecida. — O que aconteceu? — Ela perguntou.

Olhei para ela.

— Minha mãe me pôs pra fora de casa.

— Não. — Lexa saltou sobre o banco e passou os braços ao meu redor. — Clarke, não. — Ela me agarrou, mergulhou a cabeça no meu pescoço. — Ah, meu amor, não.

— Ah, meu amor, sim.

Lexa recuou.

— Você contou a ela? Sobre nós?

— Não. — Minha voz soou áspera, como eu me sentia por dentro. — Não precisei.

Lexa franziu a testa.

— Alguém expôs você? Quem?

— Chuta. Você tem uma chance.

— Não sei.

— Amiga sua e minha.

Lexa estava confusa.

— Octavia — falei. Ela balançou a cabeça.

— Não acredito nisso. Tem certeza?

Assenti. Eu tinha certeza.

— Você está tremendo. Está congelando aqui dentro. Onde está seu casaco? Devo ter rido de novo.

— Acho que esqueci nos dois minutos que tive pra empacotar as coisas. — Lágrimas queimaram meus olhos. — O que vou fazer, Lexa?

Ela me abraçou de novo.

— Fique aqui comigo, claro.

— Não posso.

— Pode, sim. Vem. — Ela saiu do lado do passageiro e correu para abrir minha porta. Me arrastou pela rua e para dentro de casa.

Os pais da Lexa estavam ambos acordados agora. O sr. Woods estava parado ao lado da escada, enquanto Indra perambulava pela cozinha, amarrando o cinto do robe.

— A mãe da Clarke a colocou pra fora de casa — Lexa informou a eles.

— Oh, querida. — Indra correu e me abraçou. Não pensei que houvesse restado lágrimas, mas uma inundação delas escorreu pelas comportas.

— Ela pode ficar aqui, não é? — Lexa disse. Havia desafio na voz dela.

Quando nenhum dos pais dela consentiu de imediato, eu disse:

— Tudo bem. Eu vou para um hotel.

— Ela pode dormir no sofá-cama — o pai da Lexa falou. Eu o vi lançar um olhar Indra. — Vamos conversar sobre isso amanhã de manhã. Agora vamos voltar pra cama e dormir.

Meus olhos se perderam na cornija da lareira, onde um relógio anunciava duas e trinta e cinco.

Por quanto tempo fiquei dirigindo? Por quanto tempo permaneci parada em frente à casa de Lexa? Que dia é hoje?

Houve uma agitação pela sala e, de algum modo, o sofá se transformou em uma cama.

— Isso é idiotice, pai. — Ouvi Lexa dizer em meio à névoa no meu cérebro. — Por que ela não pode dormir no meu quarto?

— Lexa — ele advertiu.

Ela xingou em um murmúrio quase inaudível. Em seguida, eu já estava debaixo das cobertas. Eu tinha tirado a roupa? Depois Indra estava acariciando meus cabelos, ou era a Lexa? E meu telefone estava tocando. Alguém colocou o celular nas minhas mãos?

— Alô? — Respondi baixinho.

— Oi, amor. Sou eu. Você está bem? Que pergunta idiota, é claro que não está. Quer conversar sobre isso?

— Acho que não. — Rolei, dobrando os joelhos junto do peito. Tremendo de novo, mas não de frio.

— Queria que estivesse aqui na cama comigo. Queria poder abraçar você.

— Fala comigo, Lexa. Fala comigo até eu adormecer.

— Já contei sobre a vez que meu pai me pegou beijando uma menina da vizinhança atrás da garagem? — Ela riu baixinho. — Meu primeiro amor. Eu tinha seis anos.

Sorri e me agarrei ao telefone, à voz dela, até que todos os outros sons na minha cabeça se dissipassem, calassem, desaparecessem noite adentro.

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O café da manhã na casa dos Woods era uma balbúrdia. Todos se dirigiam para a cozinha ao mesmo tempo, agarrando uma tigela do seu cereal favorito sobre o balcão. Colheres tilintavam enquanto uma caixa de leite passava de mão em mão. Lexa me colocou na cadeira ao seu lado. Do outro lado da mesa, Lincoln falou:

— Ei — e moveu o queixo, com uma expressão solidária. Lexa devia ter contado tudo a ele.

Aden apontou com a colher, a boca cheia de Froot Loops, e perguntou:

— O que ela tá fazendo aqui?

Lexa respondeu:

— Ela mora aqui agora.

— Não, não moro. — Fitei Lexa. As lágrimas ameaçavam transbordar de novo, então me levantei apressada.

Enquanto eu começava a dobrar os lençóis do sofá-cama, ouvi o sr. Woods dizer:

— Vamos, pessoal. Vamos nos mexer. — Senti que ele se aproximou de mim e se demorou ali. — Aguente firme, garota. — Ele segurou meu ombro. — Não é o fim do mundo.

Era fácil para ele dizer isso, ele estava vivendo o sonho americano. O relógio na cornija tocou oito horas e eu voltei para a cozinha.

— Esqueci meu dinheiro. Alguém poderia me emprestar cinco dólares pra gasolina, pra que eu possa ir à escola? — Não consegui me segurar, irrompi em lágrimas.

Lexa me abraçou. Do balcão onde estava passando o café, Indra falou:

— Por que você não fica em casa hoje? Você não está bem pra ir à escola. Lexa, leve-a pro seu quarto pra que ela possa dormir.

— Mesmo? — Os olhos da Lexa se arregalaram.

— Sozinha — a mãe dela entoou. — Vocês duas parecem exaustas, mas você vai pra escola. — Ela pousou um olhar sério em Lexa.

— Mãe…

— Não!

Lexa pegou minha mão e me arrastou pela sala e escada acima.

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