Capítulo 34.

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Lexa contou que ela e seus pais tiveram um arranca-rabo quando ela falou que queria ficar comigo na Taggert House. Eles negaram totalmente. Lexa ameaçou fugir. Disse que eles teriam que chamar a polícia para arrastá-la de volta para casa e que teriam que trancá-la no quarto à noite, se quisessem obrigá-la a ficar ali.

Então, chegaram a um acordo. Que escolha tinham? Lexa poderia dormir aqui nos fins de semana, às sextas e sábados. Os pais dela deviam me odiar. Deviam me culpar por causar um distúrbio na família.

Fiquei deitada na minha cama de colchão nodoso, escutando os estalos das paredes, a descarga de algum banheiro no andar inferior. O ruído de um trem soou ao longe. Lexa havia chegado tarde, parecendo exultante e tagarelando por uma hora, antes de cair no sono. Tudo parecia normal com ela, perfeito. Mas sei que era uma boa atriz. Queria confrontá-la sobre onde estivera nessa noite.

Ela disse que estivera trabalhando, que seu tio havia ligado e pedido para ela substituir um dos cozinheiros, que estava doente. Pensei em surpreendê-la. Passar lá com um expresso da Starbucks, o café favorito dela. Grosso como lama. E custava demais para um café, mas valeria a pena ver o rosto dela se iluminar.

Só que ela não estava trabalhando. A equipe de sempre estava toda lá. O resquício de maquiagem teatral na linha dos cabelos era revelador.

Rolei, deitando-me de costas. Por que ela estava mentindo para mim? O que estava acontecendo? Depois daquela primeira apresentação, Lexa não me quis mais por perto quando a Unidade estava ensaiando ou se apresentando. Ela nem sequer me apresentou para seus amigos. Por quê? Qual era a chance disso chegar a Escola de Polis? Ela não estava orgulhosa de mim? Era isso? Eu não era gay o bastante?

E se ela preferisse estar com eles, em vez de comigo? E se ela me deixasse? Esse pensamento fazia meu estômago doer. Lexa era tudo o que eu tinha. Sem ela, eu estaria completamente sozinha no mundo.

Ah, Deus. Examinei o seu rosto suave em estado sonhador. O que eu faria sem você?

Pare, meu cérebro gritou. Agora, ela está aqui com você. É o que importa.

Respirei fundo para acalmar minha ansiedade. Tentar acalmar. Eu precisava dela. Lexa era parte de mim agora. A parte mais sólida, e decidida, e forte. Ela era o ponto de apoio na minha vida, que me mantinha em movimento, que me fazia feliz.

E essa felicidade não tinha vindo sem um preço. Eu havia desistido de muitas coisas para estar com Lexa: meu lar, os amigos, a família. Talvez, até minha futura família. Além do senso de pertencimento que sempre tive. A sensação de adequação, de saber onde eu me encaixava. Eu não estaria tão mal se soubesse ser como ela. Assumida. Orgulhosa. Com um novo lugar de pertencimento dentro da comunidade gay. Com novos amigos. Uma nova família.

Mas o que eu perdi era insignificante em comparação ao que encontrei. Eu. A parte perdida de mim. E Lexa. Conhecer o amor. Ser amada.

— Por favor, Deus — suspirei para a noite. — Permita-me ser amada.

Junto a mim, Lexa resmungou um pouco e rolou para o lado. Ela esticou um braço ao redor do meu quadril e me puxou para perto. Lexa me dava vida, me nutria, e eu me aconcheguei junto àquele casulo quente que era ela.

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O sr. Roan começou a reunião do Conselho Estudantil com um anúncio: o baile de formatura precisou ser adiado em duas semanas porque o salão de festas, que geralmente alugávamos no Hotel Oxford, ainda não teria acabado de ser reformado.

Festa de formatura. Olhei por sobre a mesa para Finn, que evitava contato visual não apenas comigo, mas com todos os outros. Sinto muito, enviei a ele um recado mental. Por favor, me perdoa?

Se a expressão vazia do Finn dava alguma pista, sua mente estava fechada para telepatia.

Depois da reunião, precisei ir ao banheiro antes da aula de artes. Ao sair da cabine, encontrei Ontari escovando os cabelos ao espelho.

— Olá, Clarke — ela falou. O tom de voz dela me deixou apreensiva. — Você se importaria se eu fosse ao baile de formatura com o Finn?

— E ele convidou você? — Minha voz subiu uma oitava.

O rosto dela endureceu.

— Não quis dizer isso com esse tom. — Ou quis?

— Vou convidá-lo. — Ela prendeu o cabelo em um rabo de cavalo. — Acho que ele deveria experimentar sair com alguém que não seja gay.

Todo o sangue subiu ao meu rosto.

— Isso não tem graça, Ontari.

— Ah, é era pra ter? — Ela perguntou.

Segui em direção à porta.

— Piranhas — ela disse às minhas costas. — Vamos falar sobre piranhas.

Fechei os olhos.

— Deixa isso pra lá, Ontari.

— Pelo menos, eu só ataco de um lado do rio.

Girei para encará-la.

— Cala a boca. — Minha respiração arquejante me delatou. — Eu terminei com o Finn, ok? Sou livre para fazer o que preferir.

Ela inclinou a cabeça.

— Você é. — Deslizando a bolsa para cima do ombro, ela esbarrou em mim a caminho da porta. Antes de sair, ela se virou e acrescentou: — E, agora, todos nós sabemos quais são as suas preferências. Sapatão.

Graças a Deus eu já estava no banheiro, porque, no instante seguinte, estava soluçando dentro da cabine.

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Não acreditava que meu dia ainda pudesse piorar, então Murphy me convidou para o baile de formatura. Primeiro, fiquei só olhando para ele, atordoada. Quando encontrei minha voz, gaguejei:

— Uau. Eu, hã, fico lisonjeada, Murphy. Mas eu, eu… não posso.

As sobrancelhas dele se franziram.

— Você terminou com aquele Finn, não terminou?

— Sim.

— Ah, saquei. — A expressão dele murchou. — Você já vai ao baile com outra pessoa. Eu sabia que deveria ter perguntado…

— Não é isso — cortei. — Só não posso ir com você.

Os olhos dele me atravessaram como lâminas. Percebi, tarde demais, como aquelas palavras soaram mal. Antes que eu pudesse retirar o que disse, ele rosnou:

— Achei que você fosse diferente, mas é igual a todos os outros. — Ele se levantou, empurrando os materiais da aula de artes para dentro da sua pasta. Depois esbarrou em uma fileira de cadeiras vazias, abrindo caminho em direção à frente da sala, para se sentar o mais longe possível de mim.

Todos giraram as cabeças para olhar para mim. Especialmente Lexa.

Ela sinalizou com os lábios: “O que foi isso?”.

Levantei-me em um impulso e saí dali. Deus! Tudo estava uma merda.

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Meu Deus ta tudo dando errado na vida da Clarke :(
E eu definitivamente odeio a Ontari...

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