Capítulo 22.

205 27 13
                                    

Aproximei-me de fininho atrás da Lexa na fila do almoço e cobri os olhos dela com as mãos.

— Faz tempo que não te vejo — murmurei junto do cabelo dela. Ela girou nos calcanhares. Os outros na fila se viraram para nos olhar. Os olhos da Anya se arregalaram. — Procurei por você a manhã inteira — eu disse a Lexa. — Senti sua falta no corredor dos armários.

— Hã, com licença. — Lexa sorriu para os amigos e veio para o meu lado, tomando cuidado para não me tocar. Por quê? Por cima do ombro, ela acrescentou: — Preciso tirar uma dúvida de Matemática com a Clarke. Divirtam-se. — E virou o punho diante deles. — Sei que vai ser difícil.

Levando-me para fora da cafeteria e debandando pelo corredor, até o canto ao lado do bebedouro, ela sussurrou com urgência:

— O que você está fazendo?

— Hã, fingindo que amo você? — Estiquei a mão para afastar uma mecha de cabelo da boca dela.

Ela se afastou. O olhar dela vasculhou os arredores.

Meu estômago se retraiu. Que olhar era esse? Nojo? Horror? Meu Deus, tinha terminado? O fim de semana tinha sido só uma miragem? Uma brincadeira? Ela deve ter visto minha palidez, porque falou:

— Ah, Clarke, não. Não é isso. — Ela apertou rapidamente minha mão. — A gente só… — Os olhos dela espreitaram o lugar de novo. — A gente precisa pegar leve aqui. Na escola. Entende o que quero dizer?

— Não. Não entendo o que quer dizer. Achei que você fosse assumida e com orgulho.

— Eu sou. Mas você, não.

— Eu quero ser. Quero gritar do alto da montanha: eu amo a Lexa Woods!

— Droga. — Ela tapou minha boca com a mão. — Vamos conversar sobre isso depois, tudo bem? Por enquanto, pega leve.

A mágoa deve ter transparecido no meu rosto.

— Clarke, eu amo você — ela disse suavemente, acariciando meu rosto. — Só não quero que isso te machuque.

Machucar? Como poderia o amor machucar?

Ela beliscou minha bochecha e se afastou, deixando-me ali, em suspenso. Saudosa, no vácuo.

━━━✿━━━✿━━━✿━━━

Ela se sentou com a Anya na aula de artes, nem sequer tentou me passar um bilhete ou olhar para trás. Anya olhou por cima do ombro uma vez, meio que me estudando, mas Lexa disse algo no ouvido dela que fez as duas rirem.

Fez com que me sentisse o alvo da piada.

Não entendi. Será que esse era um mundo novo com regras sociais completamente diferentes? Se sim, esperava que ela me desse umas dicas.

Elas saíram da aula juntas, Lexa e Anya. Como um cachorrinho abandonado, caminhei como uma sombra atrás delas. Se Anya tocar no braço dela mais uma vez, fervilhei, ela vai beijar o chão. Na escada, elas se separaram, Anya prosseguindo na ala das artes e Lexa subindo os degraus. A meio caminho, Lexa virou a cabeça para encontrar meus olhos e sorrir. Eu não sorri em resposta.

— Espero que esteja planejando fazer mais cursos de artes na universidade.

Dei um salto. Jaha havia se aproximado e estava agora ao meu lado.

— O quê? — Rebobinei a fita na minha cabeça. — Eu… não pensei nisso.

Não havia pensado em nada, a não ser nela.

— Você tem um dom — ele falou. — É raro e você não deve desperdiçá-lo.

As palavras se embolaram na minha semiconsciência. Um dom raro.

Não conte nosso segredoOnde histórias criam vida. Descubra agora