Capítulo 17.

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Jaha devolveu alguns trabalhos da semana anterior. Acima do meu desenho de uma metade de rosto, ele colou um bilhete: “Inacreditável p/ kct. Nota A+”. Devo ter irradiado calor, porque Lexa virou para trás e sorriu. Anya surrupiou a atenção dela mostrando seu próprio desenho e dando uma risadinha, e fiquei imaginando se era possível apontar tão bem um lápis até deixá-lo afiado o bastante para furar um crânio.

Ah, que ideia saudável, Clarke, pensei. Considerar um assassinato, por que não? Talvez, você pudesse contratar um assassino de aluguel para tirar todas as pessoas indesejáveis do seu caminho.

Tudo bem, propus um contrato mental a mim mesma: se a Lexa vier falar comigo depois da aula, deixo a Anya viver. Ela ficou, ali, parada, com cara de quem faria isso, de quem queria fazer isso. E então Anya estava de novo em cima dela. Em todo caso, onde encontrar um assassino de aluguel? No Disque Morte 0800?

Depois da aula, encontrei uma rosa amarela enfiada na ventilação do meu armário. Minha alma murchou. Finn. Ele sempre me dava rosas depois que brigávamos. Mas nós brigamos? Ele sabia que amarelo era minha cor favorita. Amarelo. Engraçado. Eu tinha conseguido evitar o Finn ao longo do dia, mas não poderia fazer isso para sempre.

O que eu faria com ele? Contar a verdade, é claro. Seria traição permitir que nosso relacionamento continuasse assim. Agora, eu percebia que só o amava como um amigo. Que o lado físico de nosso relacionamento só evoluiu porque era isso que esperavam de nós. Uma garota encontra um cara, eles se apaixonam, transam e se casam, não necessariamente nessa ordem.

As expectativas. Elas mandavam na minha vida.

Corte o final. Revise o roteiro. O cara dos sonhos dela é uma garota.

Eu estava cheirando a rosa e pensando em como decepcionar Finn da forma mais indolor. Quando cheguei ao meu jipe, Lexa estava encostada no capô, braços cruzados, um pé dando batidinhas no chão.

— Clarke. — Ela se impulsionou do para-choque. — Você pode me dar uma carona?

Um raio me atravessou. Será que ela sempre me deixaria assim, excitada?

— Claro. — Sorri para ela. Segui o olhar dela até o asfalto, o pneu furado do lado do motorista do seu carro Neon.

— Essa não — falei. — Odeio quando isso acontece. Quer que eu te ajude a trocar o pneu?

— Estou sem estepe — ela falou, e sua a voz soou fria. — Só preciso de uma carona, tudo bem?

— Tudo bem, claro. — Abri a porta do passageiro e ela entrou. Corri para o lado do motorista. — Quer que eu deixe você no posto de gasolina ou algo assim? — Pousei a rosa amarela sobre o painel. — Tem uma borracharia não muito longe daqui.

— Não, eu vou ligar pro meu pai depois. Se você puder me levar até o Hott ’N Tott, já está ótimo.

Virei a chave da ignição. O motor tossiu.

— Ah, droga. Preciso de gasolina. Vou ter que passar em casa pra pegar um pouco de dinheiro. Isso vai te atrasar?

— Não. Sua casa é caminho. — Lexa afivelou o cinto de segurança. — Depois pago a diferença.

— Nem precisa. Tenho que abastecer o tanque de qualquer forma. — Como ela sabia onde eu morava? Ela perguntou:

— E eu vou atrasar você?

— Vai. — Não fazia sentido tentar mentir para ela. — Mas não tem problema. — Dei a ré, saindo da vaga. — Vou ligar e avisar que estou doente. — O quê? Essas palavras tinham mesmo acabado de sair da boca de Clarke Griffin? Ela nunca havia faltado no trabalho. Esperava-se que estivesse lá, e com pontualidade. Ela era escrava das expectativas.

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