O Centro era o Centro de Auxílio a Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transgêneros. Ficava em um inofensivo prédio de tijolos, situado em um shopping aberto e ao lado de uma copiadora. Eu jamais o teria notado se não fosse pela bandeira de arco-íris. Na porta havia duas placas: LOCAL SEGURO e FALAMOS A LÍNGUA DO AMOR. Busquei a mão de Lexa e entrei.
Havia algumas pessoas em volta de uma tevê, assistindo a O Preço Certo e gritando: “Mais alto! Mais alto!”. Uma mulher mais velha passou por nós no caminho e sorriu, fazendo um olá. Talvez, eu pudesse morar aqui, pensei. Parecia acolhedor.
Deixei Lexa abordar o assunto. Ela explicou minha situação para o recepcionista, que ficou balançando a cabeça e dizendo que ele sentia muito. Sinto muito, sinto muito, sinto muito. Eu não precisava tanto da solidariedade dele, precisava era ter onde morar.
— Esperem aqui — ele falou. Gritou de sua cadeira: — Não se movam. — Como se eu tivesse escolha.
Ele disparou para um corredor. Um minuto depois, reapareceu:
— Vão até a terceira porta à sua direita. — O telefone dele tocou e ele respondeu em um único fôlego: — Centro LGBT. Estamos felizes que você ligou. Meu nome é Terry, em que posso ajudar?
Uma mulher estava esperando diante do escritório.
— Oi, eu sou Syd — ela disse, apertando nossas mãos. — Sou a coordenadora de recursos. Entrem, sentem-se. — Ela sinalizou para que entrássemos. — Terry me contou o que houve. Sinto muito, Clarke. Você veio ao lugar certo. — Syd contornou sua mesa e se sentou. — O Centro tem um programa de moradia para jovens em situação de rua.
Jovens em situação de rua? Meu Deus. Nunca pensei que eu fosse me tornar um deles.
Syd pegou o telefone. Demorou um pouco para que ela encontrasse alguma vaga. Todos os abrigos estavam lotados. Havia até listas de espera, o que deveria ter feito com que me sentisse melhor, menos sozinha. Mas não. E se eu terminasse morando na rua?
Lexa segurou minha mão. Isso me acalmou um pouco.
— Você tem? Maravilha! — Syd levantou o dedo indicador. — Ótimo. Obrigada, William. Vou mandá-las para aí. — E desligou. — Há uma vaga na Taggert House. Aqui está o endereço. — Ela escreveu em uma folha rosa do bloco de notas. — Você gostaria de conversar com alguém sobre isso, Clarke? — Perguntou, passando a folha para mim. — Temos conselheiros aqui.
— Estou bem — murmurei.
— Ela está bem — Lexa ecoou. — Ela tem a mim pra conversar.
Syd sorriu. Ela sabia que éramos um casal e a sensação era reconfortante, maravilhosa. Ela nos deu as coordenadas para chegar à Taggert House e saímos.
Quando paramos em frente ao prédio, eu quase xinguei. Era um hotel velho, um pulgueiro no centro da cidade, perto da linha do trem, que havia sido convertido em abrigo. Um abrigo para pessoas sem-teto. Lexa praticamente teve que me arrancar do jipe e me arrastar pela porta.
— Aqui não é o Ritz, mas, olha, o que falta em beleza a gente compensa em amor.
O sujeito que gerenciava o lugar, William, tinha um sotaque forte do sul. Certo, ele era fofo. Disse que ele e o companheiro dividiam um apartamento no térreo.
— Mas as suítes de cobertura ficam no segundo andar. Por aqui. — Ele sinalizou com o dedo e subiu as escadas. Enquanto abria a porta do meu dormitório, acima da escadaria rangente, ele acrescentou: — Você tem sorte. Essa suíte ficou disponível ontem.
Não consegui conter o engasgo. O apartamento era um lixo. O papel de parede estava todo descascando e a mobília, se dava para chamar assim, estava toda arranhada e suja. O colchão — ai, meu Deus — o colchão estava todo manchado. O lugar inteiro fedia a mofo, podridão e urina de gato.
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Não conte nosso segredo
Fiksi PenggemarCom o namorado dos sonhos, o cargo de Presidente do Conselho Estudantil e a chance de ir para uma Universidade de Ivy League, a vida não poderia estar mais perfeita para Clarke Griffin. Ao menos, é o que parece. Até que Lexa Woods chega na escola e...